A expectativa de queda nos preços dos alimentos e da gasolina, se concretizada, deve facilitar a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% em 2017, como prevê o Banco Central (BC). Economistas concordam que a atividade econômica fraca seguirá inibindo altas de preços nos próximos meses, ainda que abaixo do desejado. Para eles, mesmo diante de indícios de uma inflação mais favorável, o primeiro corte da taxa Selic só deve vir em novembro. Isso porque os profissionais acreditam que naquele mês o Comitê de Política Monetária (Copom) terá sinais mais claros sobre as medidas fiscais e até se o quadro de alívio inflacionário estará se concretizando.
A estimativa de alimentos mais baratos e de recuo nos preços dos combustíveis reforça a possibilidade de desinflação e coloca o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) numa trajetória compatível com o centro da meta de 4,5% no ano que vem, segundo o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. “Os dois fatores podem permitir as expectativas de inflação saírem da faixa de 5% (Focus) para 4,5%. Ao mesmo tempo, tem de se observar um avanço no ajuste fiscal. É outro fator que sem dúvida ajuda”, afirmou.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, espera que o IPCA fique sutilmente acima de 5%, mas não descarta por completo a possibilidade de a taxa atingir 4,5% em 2017. Dificilmente, segundo ele, o governo promoverá aumentos expressivos dos preços administrados como ocorreu em 2015, quando, por exemplo, a energia elétrica subiu 51% no IPCA daquele ano. “Isso, mais a expectativa de que a inflação de serviços seguirá benigna, na medida em que o salário real continuará baixo, permitirá alívio inflacionário”, analisou.
A deflação recente no atacado e o alívio nos preços dos alimentos nas coletas de pesquisa logo chegarão ao consumidor, espera o economista-chefe do Banco BBM, Leandro Rothmuller. Nesse sentido, estima que a inflação de alimentos continuará perdendo força nos próximos três meses e no ano que vem. Para ele, o grupo Alimentação e Bebidas deve passar de uma estimativa de alta expressiva de 12% este ano para 6% em 2017. “Estamos colocando no nosso cenário uma queda de 5% no preço da gasolina pela Petrobras em algum momento do ano que vem. Isso também vai ajudar a inflação. Todos os vetores para a inflação de 2017 são favoráveis. Tem o hiato do produto, que é o principal vetor que ajudar a empurrá-la para baixo”, avaliou.
Apesar de esperar que o IPCA termine 2017 em 5,00%, Rothmuller admite que a chance de a inflação ficar em 4,5% está crescendo. “O preço da gasolina pode cair mais que o esperado, Alimentação pode surpreender para baixo e o câmbio também pode ajudar a conter inflação”, completou.
Para o economista da Gradual Investimentos, mesmo que a série de medidas anunciadas até agora pelo governo de Michel Temer estimule investimentos, a economia continuará fraca em 2017. “Estamos construindo uma recuperação econômica muito lenta. Ainda mais que o BC só deve cortar os juros na última reunião deste ano. A taxa de juro real ainda ficará generosa”, disse, ao esperar Selic em 13,75% em 2016 e em 12% em 2017. “Acredito que o presidente do BC, Ilan Goldfajn, vai ser cauteloso até conseguir ancorar as expectativas de inflação (para 4,5%). Uma vez ancoradas, pode soltar (juros) com mais tranquilidade”, completou Perfeito.
Rothmuller, do BBM, não descarta a possibilidade de o Banco Central começar o ciclo de baixa dos juros na reunião de outubro, com redução de 0,25 ponto porcentual. Porém, acredita que a autoridade monetária vai preferir aguardar informações sobre a inflação e o fiscal para tomar a decisão de cortar a Selic. “Em novembro, essas notícias ficarão mais claras. Provavelmente a PEC de gastos terá sido aprovada pela Câmara em dois turnos e encaminhada para o Senado, e essa projeção de inflação mais baixa se materializado. Em novembro o BC já deve ver a inflação anual caindo abaixo de 8%”, estimou. Em 12 meses até agosto, o IPCA acumula 8,97%.
Inércia
Já o analista econômico Everton Carneiro, da RC Consultores, é cético quanto à convergência do IPCA para 4,5% em 2017, mesmo diante da expectativa de desinflação relevante de alimentos e recuo nos preços da gasolina. Apesar de ressaltar que só por questões estatísticas os preços dos alimentos já vão desacelerar, ainda ficarão em nível elevado. “O grupo Alimentação acumula 13,9% em 12 meses até agosto. Pode diminuir para 10% até o fim do ano, mas ainda seguirá alto. Mesmo que ocorra alívio nos alimentos e na gasolina, a inércia dificultará uma desinflação relevante para o IPCA de 2017”, afirmou.
A sensação de que os efeitos da recessão econômica estão ocorrendo de forma gradual impedem um arrefecimento expressivo da inflação, conforme Carneiro. “Não tivemos um movimento abrupto da inflação. O ano de 2017 não deve ser de recessão e isso tende a dificultar a desaceleração do IPCA”, observou.
Petrobras
Sobre as especulações de queda nos preços dos combustíveis, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse na quarta-feira, 21, que não há nenhuma decisão sobre o assunto. Segundo ele, a estatal vai definir uma política que permita a flutuação de preços de acordo com a paridade internacional da cotação de petróleo. O modelo para a formação de preços, entretanto, ainda não foi definido e não há prazo.