A recessão econômica está criando dificuldades para as pequenas e médias empresas (PMEs) fecharem as contas do mês. Segundo dados do Banco Central (BC), a taxa de inadimplência das pessoas jurídicas nos empréstimos bancários com recursos livres (sem contar crédito rural e habitacional) ficou em 4,1% em agosto deste ano. O índice permaneceu estável em relação a julho e continua no maior patamar da série histórica iniciada em março de 2011.
INFOGRÁFICO: Inadimplência aumenta entre as empresas; acompanhe
Entre as linhas mais usadas pelas companhias de porte menor, a inadimplência com o cartão de crédito alcançou 16,76% em agosto, a maior taxa da série medida pelo BC. No mesmo mês do ano passado, o índice estava em 12,38%. Já os atrasos da linha de capital de giro com prazo de até 365 dias, nas quais os pequenos negócios têm grande participação, o valor ficou em 5,99% em agosto de 2015 ante 2,76% registrado em agosto de 2014. No caso do cheque especial, os atrasos estão em 14,59%.
O consultor de inteligência e planejamento estratégico da Biancamano & Associados, Jorge Luiz Azevedo, explica que a retração no consumo, a elevada carga tributária e as altas nas taxas de juro estão contribuindo para os aumentos nos índices de inadimplência, puxados principalmente por PMEs. “As pessoas começaram a direcionar os recursos para pagar suas dívidas e pararam de consumir. Isso afeta a receita da empresa. E para as pequenas, está mais caro captar”, afirma.
Financiamento
Uma opção de crédito para micro e pequenos empresários é a Agência de Fomento do Paraná. Confira algumas linhas:
Microcrédito
Para pessoa jurídica, inclusive microempreendedor individual,o valor do financiamento é de R$ 1 mil a R$ 15 mil. A taxa de juros vai de 0,61% a 1,13% ao mês, conforme a classificação de risco. O prazo é de até 36 meses.
Banco do Empreendedor
Microempresas
Para empresas com faturamento contábil menor ou igual a R$ 360 mil, apurado nos últimos 12 meses, dos setores de indústria, comércio e serviços, o valor do financiamento é de R$ 15 mil até R$ 50 mil. O limite é de até 90% dos investimentos, observada a capacidade de pagamento. Se for empresa em implantação ou com menos de 12 meses de atividade, o limite é de 60% do valor do investimento.
Pequenas empresas
Para empresas com faturamento anual entre R$ 360 mil e R$ 3,6 milhões, dos setores de indústria, comércio e serviços, o valor do financiamento é de R$ 15 mil até R$ 300 mil . O limite é de até 90% dos investimentos, observada a capacidade de pagamento. O prazo é de até 60 meses, já inclusa possibilidade de carência de até 12 meses.Os juros vão de 7,09% a 8,26% ao ano + IPCA, podendo ser reduzidos para 2,09% a 3,26% ao ano + IPCA, desde que as prestações sejam mantidas em dia e que não haja redução do número de empregados .
O número de empresas negativadas em todo o país chegou a 4 milhões, de acordo com informações da Serasa Experian. Essas companhias possuem R$ 91 bilhões em dívidas. O coordenador do curso de Economia da PUCPR, Jackson Bittencourt, afirma que 2015 está sendo um ano de sobrevivência para as empresas e que, se houver uma nova proposta de política macroeconômica, o cenário deve melhorar a partir do segundo semestre de 2016.
Para equilibrar o caixa, as pequenas e médias empresas tentam antecipar os recebíveis, diminuir as despesas e reduzir os estoques. Caso as estratégias não surtam efeito, a solução adotada pela maioria é buscar crédito junto aos bancos com uma taxa de juros especial, o que não é tão fácil, devido à burocracia e ao risco elevado de calote.
Indicador
A dificuldade de acesso ao crédito é demonstrada pelo índice medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). No terceiro trimestre de 2015, o índice registrou 29,9 pontos. Quanto mais próximo de zero, maiores são os empecilhos para as indústrias conseguirem dinheiro. Segundo a pesquisa, o país atravessa um período em que a dificuldade de acesso ao crédito é maior que a observada no auge da crise financeira de 2008 e 2009.
Quando nenhuma iniciativa de gestão funciona, muitas companhias entram em processo de recuperação judicial. No acumulado do ano até setembro foram registrados 913 pedidos, sendo 466 de micro e pequenas empresas, 277 de médio porte e 170 de grandes organizações. O valor acumulado anual é 44,7% maior que o registrado no mesmo período de 2014.
Pizzaria reduz funcionários para manter as contas em dia
A pizzaria curitibana Avenida Paulista está sentindo os efeitos da crise, apesar de conseguir manter as contas em dia. Com uma loja na capital paranaense inaugurada em 2003 e outra em Brasília, de 2011, o proprietário Roberto Magnani viu a demanda cair 20% neste ano. A solução para não ter prejuízo foi reduzir o número de funcionários em 15%.
O empreendimento, especializado em entregas de pizzas gourmet, sofreu também com a alta do câmbio, pois trabalha com vários produtos importados. O caminho foi repassar o aumento ao consumidor, já que manter a qualidade do produto é uma das premissas da pizzaria.
As unidades fazem 1.500 entregas por mês. O faturamento do negócio é R$ 3,5 milhões por ano, mas em 2015 deve registrar queda de 20%. “Adequações na área de produção, para torná-la mais produtiva, e nos recursos humanos são estratégias que adotamos para não ter prejuízo. Além disso, estamos sempre atentos aos preços dos insumos”, explica Magnani.
Limpe o nome
No caso dos pequenos negócios que estão inadimplentes, o caminho apontado pelo professor de economia Jackson Bittencourt é negociar com fornecedores e bancos. Procurar cooperativas de crédito e feirões para “limpar” o nome na praça são alternativas para quitar as dívidas.
O consultor Jorge Luiz Azevedo lembra que as PMEs devem evitar fazer contas com cartão de crédito e cheque especial e, caso estejam inadimplentes nessas modalidades, quitar o quanto antes, devido às altas taxas de juros cobradas.
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