Com um comércio pessimista e consumidores assustados com a escalada da inflação e do desemprego, a procura pelo velhinho que leva presentes às casas das crianças comportadas na noite de 24 de dezembro caiu vertiginosamente.
Preocupadas, as agências especializadas redefinem as estratégias e tentam, de alguma forma e em cima da hora, minimizar os impactos do prejuízo que já se mostra inevitável. Dono da agência Papai Noel Brasil há cinco anos, o ator Jorge Occhiuzzio está desolado. Ele montou para 2015 um ‘casting’ com 118 papais-noéis, com barba natural e falsa, que ele pretendia oferecer ao comércio e para ações de marketing das empresas com funcionários, clientes e fornecedores. Mas a temporada de contratações começou há duas semanas e apenas 40% de seus atores foram demandados.
“Está muito parado”, preocupa-se. “A crise do Papai Noel existe e é grave”, afirma Occhiuzzio, que vai centrar suas fichas no mercado tradicional do porta em porta – em que os clientes contratam um Papai Noel para entregar o presente a seus filhos na noite de Natal.
“O que está acontecendo é que aquelas pequenas empresas, que eram as que mantinham esse negócio, os supermercados, aquele comerciante que tinha uma farmácia, dois mercadinhos, esses pararam mesmo (de contratar papais-noéis). O que os comerciantes vão fazer é pegar um funcionário, colocar uma barba e fazer ele falar ‘ho-ho-ho’ na porta da loja”, prevê o empreendedor.
Queda
Segundo a Associação Comercial de São Paulo, vai ser isso mesmo. Marcel Solimeo, que é economista-chefe da instituição, espera queda de 5% nas vendas em comparação ao ano passado, que por sinal já foi 1,7% inferior ao resultado de 2013, segundo dados do Serasa. Nesse contexto, ele diz, que “é preciso muita criatividade (por parte do comerciante). E provavelmente o Papai Noel vai encontrar mais dificuldade nas lojas pequenas, que precisam reduzir custos.”
Essa notícia não poderia vir em pior hora para Helio Gerbas, Papai Noel há 16 anos e já há 12 no comando da Papai Noel & Cia. Animado pelos resultados obtidos nos natais passados, em 2014 ele decidiu erguer seu grande sonho: um palácio do Papai Noel inspirado no castelo na região da Lapônia, no norte da Escandinávia. Ele pegou dinheiro emprestado no banco e deu início à obra, no bairro paulistano do Bom Retiro. Mas a crise chegou e, até agora, ele não concluiu a construção. “A ideia é que o espaço, que tem mil metros quadrados, ficasse pronto para este Natal e funcionasse como estúdio para campanhas publicitárias e showroom de produtos natalinos”, afirma Helio, que conta com 300 papais-noéis. “Eu trabalho muito com shopping e, dos atores que temos, apenas 50% serão absorvidos pelos centros de compra.”
Para escapar da crise, a estratégia da diversificação foi adotada por Paulo Mendes, da Cia Bafafá. “O Natal nos dá uns R$ 300 mil por ano”, diz ele. “Assim que vi que o ano seria ruim, no começo de 2015, reformulei meu site e comecei a pensar em outros serviços. Nosso principal produto vai ser o Papai Noel em casa”, conta ele, que sentiu a redução de encomendas corporativas. “Vamos ter um Papai Noel de bermuda para vender sorvete e vamos atacar com força a demanda de pessoas físicas. Vamos enfrentar este Natal com o que temos.”
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