A Grécia embolou as negociações no G-20. Se já estava totalmente tomada pela pauta europeia, agora a reunião de cúpula das maiores economias do mundo ficou travada pela decisão do primeiro-ministro George Papandreou de realizar um referendo sobre o pacote de resgate da União Europeia. No limite, isso pode significar a saída do país da zona do euro.
A ajuda dos emergentes para o zona do euro seria o principal ponto de discussão no encontro que começa nesta quinta-feira (3), em Cannes, na França. Mas as autoridades europeias ainda estão tentando contornar a situação criada pelo anúncio grego, num clima de grande tumulto. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, terão encontros de emergência nesta quarta-feira (02) com Papandreou, que sofrerá enorme pressão.
É uma corrida contra o tempo para tentar algum acerto antes do início da cúpula. As ruas ao redor do Palácio dos Festivais já estão bloqueadas, num forte esquema de segurança para receber as lideranças do G-20 que chegam à Riviera francesa. As manifestações contra os efeitos da crise econômica estão concentradas em Nice, a cerca de 20 Km da realização do evento.
O anúncio do referendo disseminou a turbulência pelos mercados. A decisão traz fortes riscos para o pacote de salvamento aprovado recentemente, que prevê nova ajuda financeira de 130 bilhões para Atenas, além de calote de 50% da dívida grega. Entre os investidores, cresce a desconfiança de que a Grécia pode acabar tendo de sair da zona do euro, o que significaria, na prática, um default total e desordenado.
Cenários - Na sexta-feira, o parlamento grego deve decidir sobre o voto de confiança no governo e a realização do referendo. Papandreou tem maioria apertada e vem perdendo apoio dentro do próprio partido. Se for derrotado, o governo cairá e serão convocadas novas eleições. Se ganhar, o primeiro-ministro se mantém no poder e a população do país dará o veredicto sobre o pacote de ajuda, em meio à explosão de insatisfação social.
Analistas de mercado acreditam que o primeiro caso seria o menos pior. Isso porque traria a possibilidade da chegada de um novo governo favorável às medidas de austeridade impostas pela União Europeia, sem a necessidade do referendo. O segundo cenário representaria um longo período de incertezas e, caso a população vote contra o pacote da UE, poderia significar a saída da Grécia da zona do euro. "O cenário menos favorável aos mercados seria o governo ganhar na sexta-feira e o referendo decidir pelo 'não'", avalia Jim Reid, estrategista-chefe do Deutsche Bank. "Isso colocaria o pacote de ajuda em risco e elevaria o risco de uma saída iminente da zona do euro ou um default desordenado."
Para Chris Turner, estrategista-chefe de câmbio do ING, o referendo representará, na prática, o voto sobre a união monetária do euro. "Se a maior esperança dos mercados é que o governo entre em colapso na sexta-feira antes que tenha chance de colocar em prática o referendo, isso não é nem um pouco encorajador."
A insegurança prevaleceu novamente hoje nos mercados internacionais. Foi suspensa a emissão de 3 bilhões em títulos da Linha de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês), o mecanismo de resgate dos países em dificuldades. Os recursos seriam usados para o auxílio à Irlanda, mas não houve condições para realizar a operação.
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