As Lojas Renner vão cruzar a fronteira ao Sul do Brasil e chegar ao Uruguai em 2017, com a abertura de duas lojas em Montevidéu no segundo semestre. A empreitada funcionará como ‘balão de ensaio’ para avaliar a expansão do grupo na América do Sul. Em paralelo, remando na direção contrária à retração de vendas no varejo brasileiro, trabalha para saltar das atuais 283 filiais da Renner no Brasil para 450 em 2021.
“O Brasil tem grandes oportunidades. Mas olhamos também para a América Latina. Escolhemos o Uruguai por ser um país com economia em ascensão, alto PIB per capita e perfil de clientela similar ao da Renner no Brasil. Pela proximidade, não há ajuste na operação, apenas na oferta de produtos e teremos preço competitivo”, explica o diretor-presidente José Galló.
O empresário reconhece que, no atual cenário econômico, atuar no varejo tem sido um desafio para maioria dos negócios do setor. Mas acredita que a mudança de governo iniciada ontem deverá trazer “um sopro de confiança”.
“[O novo governo] dá um sopro forte de confiança nos investidores e no consumidor. Mas esse sopro tem uma duração limitada. Tem de ser reforçado com situações concretas, que mostrem um direcionamento, vontade de fazer mudanças. Algumas delas virão em cinco anos. Mas se isso acontecer, estende a onda de confiança e, aí, a coisa anda”, avalia ele.
O plano de expansão da Renner para os próximos cinco anos foi revisto para cima, conforme anúncio feito ao mercado ontem. A estimativa, que era chegar a 408 lojas, cresceu para 450. Vai ampliar ainda a rede de unidades da Camicado, a marca de produtos para a casa do grupo, de 70 para 125; e da YouCom, focada em moda jovem, de 44 para 300 no país.
“Considerando a experiência dos últimos dois anos em mercados menores, com cerca de 150 mil habitantes, vimos oportunidade para ampliar a expansão”, explicou Galló.
Os passos da Renner são vistos como estratégia assertiva para expandir e consolidar as operações, diz Luis Henrique Stockler, sócio-fundador da consultoria Stockler.
“A Renner não tem olhar para o curto prazo. O Brasil tem grande potencial de mercado. Agora, vai levar tempo para que a renda e o potencial de compra do consumidor se recuperem. Atuar no Uruguai abre novas frentes de receita e crescimento, além de fortalecer o posicionamento da marca no Brasil”.
O consultor destaca que a Renner vem aprimorando seu negócio para brigar com gigantes do varejo de moda, como a espanhola Zara. Galló não esconde aprender com a concorrente. “Observamos que grandes redes do varejo de moda, como a Zara, iniciaram processos bem-sucedidos de internacionalização por países vizinhos, de perfil similar ao do público deles. Fizemos o mesmo na escolha do Uruguai. Lá, a operação poderá utilizar o centro de distribuição de Santa Catarina, e fica próximo à nossa sede em Porto Alegre.”
A expansão sustenta ganhos da líder no varejo de moda no país. Em 2015, quando as vendas do comércio encolheram 4,3% no país, segundo o IBGE, a Renner registrou lucro de R$ 578,8 milhões, avanço de 22,8% na comparação com 2014. No primeiro trimestre deste ano, quando o freio no varejo bateu 7%, o grupo teve lucro de R$ 65,5 milhões, 10,5% menos que de janeiro a março do último ano.
Galló credita o sucesso da Renner à proposta de valor da marca, que costura formato e visual da rede de lojas, linha de produtos e estratégia de comunicação, sobretudo num mercado sob condições adversas.
“No varejo, não existem problemas financeiros. Existem problemas de mercado e de proposição de valor. Se o negócio não for bem diferenciado, não atrai o consumidor e, como consequência, passa a ter um problema financeiro”, conta o executivo.
Ele reconhece a dificuldade dos grupos de vestuário para crescer nesse cenário de recessão. E prevê concentração de negócios nos próximos anos. “A recuperação não vai ser fácil. Teremos anos difíceis pela frente. E o bom resultado não virá se não houver coalizão de entidades, empresários e sociedade. O Brasil precisa de um esforço de recuperação”.
A crise minguou, por exemplo, a inauguração de novos shoppings no país. Nesse cenário, das 150 lojas que a Renner vai abrir entre 2017 e 2012, a rede encerrará 2016 com 300 unidades, perto de 80 ficarão em shoppings já em operação, conta Galló.