Depois de alimentar grandes expectativas com relação à queda de Dilma Rousseff, o mercado deve reagir com cautela em relação aos primeiros passos do governo de Michel Temer. Empossado de forma indireta após uma vitória com ampla margem no Senado (foram 55 votos a favor e 22 contra), Temer evidenciou em seu primeiro discurso na tarde de quinta (12) que está disposto a retomar a confiança dos agentes econômicos e levar em frente as reformas esperadas pelo mercado, como a trabalhista e da Previdência.
No entanto, para o economista da Toro Investimentos Mehanna Mehanna, as primeiras falas do novo presidente não foram incisivas o suficiente para empolgar o mercado. “Apesar da grande expectativa criada para a posse, não foi possível mensurar por meio do discurso o impacto que uma possível agenda Temer terá, nem quais serão as iniciativas tomadas no futuro”, afirma.
Para pessoas ligadas ao mercado financeiro, a paciência será curta com o novo presidente. A lua de mel deverá durar pelo menos dois meses, período em que o dirigente interino terá de dar indicativos mais consistentes de que está disposto a colocar a economia nos eixos.
O caminho, no entanto, será árduo, visto que Temer terá de levar adiante propostas pouco populares, como a agenda de reformas, e a flexibilização do uso de receitas obrigatórias para a saúde e a educação. “Num primeiro momento, o mercado ficará de olho nos resultados alcançados por Temer antes de colocar todas as fichas nele”, avalia o economista da RC Consultores Marcel Caparoz.
Precificação
A saída de Dilma foi precificada com otimismo. No acumulado do ano, o Ibovespa teve alta superior a 25%, fechando acima dos 53.200 pontos no dia do afastamento da petista. Em grande parte, a alta foi puxada pela perspectiva de melhora na gestão de estatais como a Petrobras, que na visão dos investidores tende a melhorar com a posse do novo governo.
Nos primeiros quatro meses, o dólar apresentou queda de 14%, fechando pertos dos R$ 3,47. Já os juros futuros despencaram para 13% até o fim do ano, o que demonstra a crença de que uma mudança na condução do governo resultará em cortes nos gastos públicos e maior espaço para políticas de crescimento.
Na opinião do economista-chefe da Eleven Financial, Gustav Gorski, ainda pairam dúvidas em relação à estabilidade de Temer no poder, visto que pesam contra ele o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, que tramita no Tribunal Superior Eleitoral; e as eleições municipais deste ano, que podem dificultar a aprovação de medidas impopulares no Congresso.
Para o economista, a única forma de o governo prolongar a lua de mel é por meio de medidas incisivas no início do mandato. “Não há mais espaço para um tratamento gradual. É preciso que sejam tomadas medidas de choque já nos primeiros 60 dias de governo”.
Crise política deve respingar na economia
O afastamento da presidente Dilma Rousseff por 180 dias e a escolha da equipe econômica, capitaneada por Henrique Meirelles no ministério da Fazenda e por Ilan Goldfanj na presidência do Banco Central, animaram o mercado financeiro. Mas a definição das pastas do governo interino e a votação do impeachment no Senado não deram cabo às incertezas políticas que rondam Temer.
Para o economista da RC Consultores Marcel Caparoz, os desdobramentos da Operação Lava Jato, que pode envolver ainda mais o novo presidente e integrantes da sua equipe, têm o potencial de prejudicar a economia. “O afastamento de Dilma diminui a desconfiança e aumenta a previsibilidade, mas a política ainda interfere na economia e gera volatilidade”, acredita ele.
Apesar das dificuldades no âmbito político, Caparoz afirma que o cenário econômico, com tendência de equilíbrio do dólar e queda da inflação, abre espaço para a redução dos juros até o fim do ano. O economista-chefe da Eleven Financial, Gustav Gorski, alerta que caso a gestão monetária seja ineficiente e reformas como a da previdência não sejam aprovadas, o otimismo pode se reverter.