O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), determinou estudos para subsidiar a produção de soja convencional no Estado, o segundo produtor nacional, e manifestou intenção de disciplinar a produção de cana-de-açúcar, para que o território paranaense não seja tomado por uma monocultura, ou, como ele diz, uma ``plantation'' nos moldes imperiais.
Diante do crescimento do cultivo no Paraná da soja transgênica, que já ocupa cerca de metade da área da oleaginosa nesta safra, devido a custos mais baixos de produção e um mercado de prêmios pela convencional ainda incipiente, o governador contrário aos organismos geneticamente modificados promete reagir para garantir o cultivo da convencional de olho em um mercado internacional que rejeita os grãos alterados.
``Estamos estudando isso (um incentivo à soja convencional). A idéia é pagar uma parte do seguro agrícola...'', disse ele à Reuters na Granja do Canguiri, residência oficial, vizinha à escola de agroecologia do governo.
Segundo Requião, o Paraná pagaria adicionalmente ao produtor de soja convencional um valor equivalente a metade do que o governo federal já oferece para subsidiar os investimentos no seguro rural.
``Gostaria que a agricultura familiar tivesse um seguro quase todo pago pelo Estado, mas isso tem que ser quantificado'', declarou ele, acrescentando que os valores a serem investidos pelo governo ainda não foram definidos, pois o projeto começou a ser pensado esta semana.
Agricultura familiar
Mas Requião disse que não poupará recursos visando esses e outros objetivos dentro da ótica de apoiar a agricultura familiar, em meio a um rompimento com os dirigentes do setor cooperativista, que segundo ele têm apoiado os transgênicos.
O Paraná é, em sua maioria, formado por pequenas propriedades rurais familiares, com até 50 hectares, segundo a Secretaria Estadual de Agricultura.
Nos últimos dois anos, o governo federal gastou com o seguro rural da agricultura familiar 1,5 bilhão de reais, sendo 90 por cento desse valor na região Sul, afetada pela seca, segundo o novo secretário de Agricultura do Paraná, Valter Bianchini, ex-secretário nacional de Agricultura Familiar e militante do PT, empossado por Região no início do ano.
``O prêmio da soja convencional já existe'', destacou Requião, lembrando que o armazém público no Porto de Paranaguá recebe apenas esse tipo de produto. ``Mas o principal prêmio é a reserva de mercado. A soja convencional é permitida na União Européia, na França, na Inglaterra, na Suíça, e a soja transgênica é proibida.''
``Os Estados Unidos perderam no ano passado nas suas exportações cerca de 7 milhões de toneladas, porque na Europa não estão comprando a soja transgênica. Então nós temos um nicho'', afirmou.
Além do argumento econômico contra os transgênicos, Requião afirmou que é preciso levar em conta os princípios da precaução, uma vez que há controvérsias sobre eventuais problemas à saúde humana que seriam causados pelos organismos alterados. Além disso, ele questiona possíveis desequilíbrios causados à natureza pela transgenia.
Álcool, com moderação
A questão ambiental é ressaltada também relação ao avanço da cana-de-açúcar em áreas agricultáveis no país. ``Essa história da revolução verde... agora se agrava com a cana, com o álcool, sendo acrescentado ao combustível. Acho tudo isso muito bom, mas desde que seja feito com moderação, exportado com cuidado, que seja brasileiro. O que acontece hoje... tem grupos comprando as usinas para os americanos, comprando terra, e daqui a pouco seremos o maior produtor do etanol no mundo, com o etanol mais caro do planeta. Que é o que acontece hoje com a gasolina da Petrobras'', afirmou.
O governador considerou que o Estado deveria disciplinar o plantio de cana. ``Temos de fazer zoneamento, se não vamos acabar com a natureza. A televisão está mostrando que até pequenas chácaras, de 17 alqueires, estão sendo desmanchadas na madrugada porque foram alugadas para plantadores de cana.''
Ele disse ainda que por trás da bioenergia há uma ``má-fé cínica e uma ignorância córnea.'' ``Você não polui o ar queimando o álcool, mas acaba com a natureza para plantar a cana, é de uma irracionalidade absoluta, a plantação extensiva liquida a biodiversidade, destrói o solo e desemprega milhões de pessoas. Porque a cana já está tendo a colheita mecanizada, e quando não é mecanizada é sazonal, então o bóia-fria trabalha uma vez por ano na colheita.''
No Paraná, a área de cana, de cerca de 500 mil hectares, ainda é pequena em comparação à de grãos, mas tem crescido quase 20 por cento ao ano, principalmente em regiões mais arenosas, no noroeste do Estado.
``Não é por aí... O risco é o país virar uma 'plantation', como foi a Índia e a África para a Inglaterra. Depois ficar sujeita a um novo ciclo, o ciclo acaba, e não sobra biodiversidade e não sobra nada.''
``É evidente que não somos contra o agronegócio, mas ele tem que ser disciplinado. Gera divisas para o país. Mas ele não pode monopolizar.''
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