Após 15 meses afastado, o novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, retorna nesta quinta-feira ao Conselho Monetário Nacional (CMN) com a chance de levar à prática a defesa que fez, há pouco mais de uma semana, como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - a de que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que remunera os empréstimos do banco, deve cair dos atuais 9% para 7% ao ano. Na época, em seminário em Brasília, Mantega disse que a redução seria possível porque os dois fatores utilizados para o cálculo da TJLP - o risco-país e a inflação - estão em trajetória declinante.
Economistas consultados pelo Globo Online concordam que há espaço para um corte dessa magnitude, mas questionam se o momento é apropriado. Para alguns analistas, diante do nervosimo que sua nomeação causou ao mercado, o novo ministro talvez prefira adiar para uma próxima reunião a adoção de uma posição mais enérgica sobre a TJLP. O voto desta quinta-feira teria uma função pacificadora, sobretudo considerando que é justamente das idéias de Mantega sobre política monetária que deriva boa parte das preocupações do mercado.
- Acho que ele não vai tomar nenhuma decisão agora para não criar ruídos desnecessários - disse o ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, chefe do departamento econômico da Confederação Nacional do Comércio.
A probabilidade de uma postura cautelosa a ser adotada foi reforçada pelo próprio Mantega na entrevista concedida durante sua posse, na terça-feira. Indagado se a sua participação no CMN materializaria seu prognóstico com relação à TJLP, o novo ministro saiu pela tangente:
- Agora ficou uma situação curiosa, né? Porque eu estava do lado de lá e agora estou do lado de cá... - esquivou-se.
Ele reiterou que a TJLP está em tendência de queda, mas se negou a mencionar o percentual que a taxa deve cair.
- De quanto (será a queda) agora eu não posso falar, porque antes eu só dava palpite e fazia uma certa pressão para que os membros do Conselho Monetário baixassem. Agora, como eu sou membro do Conselho Monetário, tenho que conversar com meus pares: o presidente do Banco Central e o Ministro do Planejamento, para que a gente possa chegar a um consenso quanto à redução que deve ser feita.
Integrado pelo ministro da Fazenda, pelo presidente do Banco Central e pelo ministro do Planejamento, o CMN manteve a TJLP inalterada de março de 2004 a dezembro do ano passado, quando finalmente baixou a taxa de 9,75% para 9%. A queda, na época, foi considerada tímida.
- Apostava em um corte de um ponto - conta o economista-chefe do Banco Fator, Vladimir Caramashi, que agora espera um recuo de dois pontos percentuais.
- Não será surpresa se a taxa cair para 7% - acrescentou.
Embora com efeitos incomparavelmente menores aos da queda da Selic (a taxa básica de juros), uma redução da TJLP contribuiria para um nível de atividade mais vigoroso neste ano, uma vez que estimularia os empresários a contraírem financiamentos do BNDES. No ano passado, segundo Mantega, a escassez de investimentos foi um dos fatores determinantes para o crescimento de apenas 2,3% do Produto Interno Bruto brasileiro.
- Os juros do BNDES continuam altos. Sendo um banco de fomento, também precisa oferecer juros de fomento - comentou o presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Alfried Plöger.
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