O agravamento da crise da zona do euro, com a expectativa crescente de um calote desordenado da dívida soberana da Grécia e o rebaixamento da nota de classificação de risco da Itália, será o foco dos debates da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que tem início neste final de semana em Washington, mas analistas internacionais não esperam medidas concretas do encontro nem ajuda formal dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) para a zona do euro.

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"Não acho que deveríamos esperar alguma decisão concreta", afirmou à Agência Estado o diretor-gerente para mercados emergentes do Goldman Sachs, Paulo Leme. "Se alguém está esperando algum anúncio sobre gestão de dívida soberana ou sobre o fundo de estabilização financeira da Europa, o EFSF, ou sobre utilização do balanço do BCE (Banco Central Europeu) para operações de liquidez, ficará decepcionado."

Para Leme, é razoável esperar, no texto do comunicado final da reunião na capital americana, uma maior pressão sobre os líderes políticos europeus para uma resolução mais rápida para a crise. "Mas, em termos concretos, não acredito que seja o fórum adequado", disse. Leme acredita que as atenções de curto prazo dos investidores estão, de fato, na Europa, mas no médio e longo prazos, continua a preocupação com a situação fiscal dos Estados Unidos.

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O encontro de ministros de Finanças de 27 países da União Europeia, que aconteceu na cidade polonesa de Wraclaw no final de semana passado, foi uma prévia do que poderá acontecer na reunião anual do FMI: praticamente nada. No encontro, que contou até com a participação do secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, não houve avanço na solução para o problema da gestão da dívida soberana da zona do euro, mas apenas um reconhecimento de que a consolidação fiscal dos países que adotam a moeda comum permanece uma prioridade.

"Não dá para esperar alguma coisa positiva da reunião do FMI", afirmou à Agência Estado o economista-chefe internacional do ING em Londres, Rob Carnell. "Poderemos ver até um ambiente hostil, acrimonioso, pois todo mundo está preocupado em resolver seus próprios problemas neste momento, então essa noção de que poderemos ter uma resposta em termos de políticas conjuntas é demasiadamente otimista".

Especialmente, disse o economista, porque o tema de guerra cambial irá aflorar de forma mais agressiva nos próximos doze meses, visto que é cada vez mais provável que o Federal Reserve americano irá adotar mais uma rodada de afrouxamento quantitativo, o que injetará mais liquidez no mercado internacional e manterá o dólar depreciado.

Para Carnell, as atenções estarão voltadas, em particular, para o que os líderes políticos europeus terão a dizer, especialmente a chanceler alemã Angela Merkel. "São os líderes europeus que detêm a chave para a solução da crise soberana da zona do euro, e em especial os políticos alemães, pois eles são os atores principais desse problema."

Brics não devem ajudar zona do euro

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Na opinião do estrategista-chefe para mercados emergentes da RBC Capital Markets em Toronto (Canadá), Nick Chamie, a promessa de ajuda financeira dos Brics para a zona do euro também não deverá ser concreta durante a reunião anual do FMI. "Espero que as autoridades financeiras dos países que compõem os Brics façam comentários apenas vagos em relação a uma possível ajuda à zona do euro", disse Chamie.

"Não vejo os Brics anunciando um número em termos de valor para o socorro nem fazendo um comprometimento financeiro formal para comprar títulos da dívida soberana de países periféricos, como Grécia. Acho que os Brics teriam interesse de comprar apenas papéis da Alemanha," afirmou.

Na semana passada, o Instituto para as Finanças Internacionais (IIF, em inglês), que está representando os bancos nas negociações sobre a dívida da Grécia, pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e às principais economias emergentes para apoiarem um plano que permitiria ao governo grego recomprar € 20 bilhões de sua dívida.

A ideia é que países como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - grupo conhecido como Brics - enviem recursos a uma nova conta no FMI. O dinheiro dessa conta seria emprestado à Grécia para permitir que o governo recompre os bônus da dívida soberana grega que estão nas mãos de credores privados.

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