Pode ser difícil resistir a tantos apelos para a compra do carro novo, como taxas de juros baixas, prazo de pagamento em até 80 meses e facilidade na aprovação de crédito. Mas se todos os gastos que envolvem um carro não forem colocados no papel antes de fechar o negócio, a compra do veículo pode se tornar um grande rombo no orçamento doméstico. Para evitar que os consumidores se iludam com planos de financiamento tão atrativos, especialistas ouvidos pelo G1 dão dicas de como calcular o peso real de um carro novo no bolso.
De acordo com o vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade), Miguel José Ribeiro de Oliveira, o ideal é disponibilizar para gastos gerais 90% do que se ganha e guardar 10%. A reserva serve para resolver tudo o que é imprevisto, como comprar remédios e consertar o carro. É uma reserva de emergência mesmo", orienta.
Já a parte destinada aos gastos, deve ser dividida em quatro: 25% para a moradia (aluguel, contas de água e luz, condomínio, IPTU etc.), 25% para despesas de alimentação, 25% para o lazer (contas de celular, internet, TV a cabo, cinema etc.) e 25% para as prestações seja de carro, roupa, apartamento, aparelho de televisão etc.
Por essa lógica, a soma da parcela do carro, das despesas que o envolvem e de todas as outras compras parceladas não deve superar um quarto do reservado aos gastos. "O mais importante é nunca se esquecer de que não é só a prestação que você vai ter de pagar", ressalta Oliveira.
"É muito comum a pessoa comprar o carro e ter de deixá-lo na garagem por não conseguir pagar nem a gasolina", afirma o vice-presidente da Anefac. Segundo ele, é importante calcular tudo o que se gasta no mês com combustível, IPVA, DPVAT, seguro, licenciamento, revisão e manutenção, o que inclui estacionamento e lavagem. "São valores que temos como pesquisar antes da compra", observa.
No caso do combustível, é preciso saber qual a média de consumo do carro que vai comprar e a média de quilômetros que costuma rodar por mês. "Dessa forma, é possível ter a ideia de quantos litros precisará mensalmente e quanto irá desembolsar com isso", explica Oliveira.
Compensar a troca
Para ficar fácil a visualização dos gastos, o professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Antonio Colangelo Luz, recomenda que o consumidor coloque, literalmente, tudo no papel. "Sem dúvida, o automóvel é um ativo que dá despesa, deve-se tomar muito cuidado", afirma Luz.
Segundo ele, a troca de um carro usado por um novo pode gerar ganhos, que compensam o aumento de certas despesas, como o valor do seguro e da parcela do IPVA. Tais ganhos podem ser obtidos com a economia de combustível e até mesmo ao se livrar de um carro que precisaria de novas peças, pelo tempo de uso. "Se quer trocar o carro, isto deve ser encarado como uma oportunidade de tentar economizar, porque os carros estão evoluindo. O grande segredo é fazer trocas vantajosas", destaca. "Um carro mais novo, mais moderno, com a mesma potência do carro que já possui, pode ser mais econômico. Mas se a troca for por um modelo mais potente, haverá um gasto maior pela mesma quilometragem. Isso também deve ser avaliado", recomenda Luz.
Caso a ideia seja comprar o primeiro carro, o economista dá outra dica. Ele recomenda que a despesa habitual com transporte não cresça mais de 30%. "Se a pessoa usa táxi, metrô ou ônibus, quando compra o carro tem que pensar que o gasto vai aumentar de qualquer jeito, mas isso não pode comprometer muito a sua renda", avalia. Segundo ele, os 30% adicionais compensam pela comodidade que o carro oferece.