A distorção criada pelas ações da petroleira OGX, de Eike Batista, no principal índice da Bolsa brasileira está com horas contadas. Os papéis da empresa deixarão o Ibovespa e todos os demais índices da BM&FBovespa no final da tarde de hoje, após leilão.
É uma operação padrão da Bolsa para todas as empresas que solicitam recuperação judicial, como fez a OGX na tarde de ontem, ao protocolar seu pedido na 4ª Vara Empresarial do Rio. Mesmo após o leilão para definir o preço de saída dos papéis dos índices da Bolsa, que acontece a partir das 16h (horário de Brasília) de hoje, as ações da empresa continuarão sendo negociadas na BM&FBovespa, em "situação especial". "O fato de a empresa ter chegado a este ponto é uma tragédia, principalmente avaliando as perspectivas promissoras que a empresa tinha anos atrás, mas sua saída do Ibovespa traz alivio ao índice", diz Luana Helsinger, analista do GBM (Grupo Bursátil Mexicano). As ações da OGX, que chegaram a bater a máxima histórica de R$ 23,27 em meados de outubro de 2010, valiam R$ 0,17 ontem, após o pedido de recuperação judicial.
Hoje, depois de terem ficado suspensas até 11h, voltaram a ser negociadas com queda de 29%, a R$ 0,12. Às 13h50, custavam R$ 0,13, queda de 23,52%. O Ibovespa, por sua vez, caía 0,75% no mesmo horário, a 53.764 pontos.
"O peso desses papéis no Ibovespa é muito alto e sua volatilidade influenciava bastante a tendência do índice", explica Luana. De acordo com a Bolsa, o peso da OGX sobre o Ibovespa hoje era de 2,3%.
Como custam pouco, esses papéis têm uma variação percentual acentuada a cada centavo para cima ou para baixo em sua cotação. "Ontem, por exemplo, a ação caiu 26%. O seu peso correspondeu a praticamente toda a queda de 0,67% que teve o Ibovespa no fim do dia", afirma Rogério Oliveira, especialista em Bolsa da Icap do Brasil.
A distorção que os papéis causavam no índice eram ainda mais amplas. "Há algum tempo o índice futuro da Bovespa estava valendo menos que o à vista. Ele tem sempre se valer mais. Isso acontecia por causa do efeito OGX sobre o índice", afirma o especialista da Icap. "Hoje, a tendência mudou. O índice futuro está caindo menos que o à vista", acrescenta.
Após a saída da OGX do Ibovespa, o peso atual desse papel será redistribuído proporcionalmente entre as 72 ações que compõem a carteira teórica do índice.
LeilãoSegundo especialistas, os leilões dos papéis de empresas em recuperação judicial atraem os olhares dos chamados "fundos abutres". São fundos de investimento que compram empresas à beira da falência, visando ressuscitá-las no longo prazo.
O fundo Laep, por exemplo, ficou conhecido por comprar a Parmalat em 2006 e a butique de luxo Daslu, em 2011. As intervenções, no entanto, ocorrem apenas quando há uma perspectiva razoável de salvação às companhias depois de análise minuciosa do negócio, e costumam ser certeiras.
No caso da Daslu, por exemplo, o único interessado em tocar a butique foi o fundo Laep, que surpreendeu ao aparecer em uma assembleia de credores com um "crédito" de R$ 44 milhões em dívidas da companhia.
O fundo comprou essas dívidas dos próprios credores, que venderam seus direitos com forte deságio, paralelamente às negociações da recuperação judicial. Com esse crédito em mãos, o Laep só teve que colocar R$ 21 milhões em dinheiro novo no negócio. Ontem, os advogados da OGX disseram que o pedido de recuperação judicial da empresa deve ser aceito pela Justiça, mesmo a petroleira sendo praticamente pré-operacional, o que significa que gera pouca receita.
"A companhia é extremamente viável se reestruturar seu capital, porque tem bons ativos", diz Márcio Costa, sócio do escritório Sérgio Bermudes, escritório responsável pelo processo.