Com o fim dos bloqueios nas estradas, o agronegócio brasileiro começa a calcular o prejuízo das manifestações de caminhoneiros para as diferentes cadeias produtivas, mas encontra dificuldade em determinar a dimensão do impacto. Por enquanto, poucos números estão disponíveis, mesmo nos segmentos mais afetados.
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Nilson Muniz, não há dúvida de que o setor foi prejudicado, já que as manifestações em rodovias federais e estaduais dificultaram a coleta de leite cru em muitas regiões, diminuindo o ritmo de trabalho das indústrias. No entanto, a entidade não se arrisca a calcular os efeitos econômicos deste episódio. “Sabemos que algumas de nossas associadas, principalmente no Sul, tiveram perdas, mas não chegamos a estimar. Não temos como quantificar isso no todo”, relatou.
De acordo com Muniz, o impacto dos bloqueios para o setor só não foi mais “traumático” porque o leite longa vida ou UHT - produto final de grande parte da matéria prima láctea brasileira - tem uma durabilidade maior. Desta forma, o problema principal ocorreu na produção rural e na industrialização, e não no abastecimento ao varejo.
Mesmo assim, ele projeta um reflexo no preço do produto, que esteve pressionado em meses anteriores e recentemente entrou em uma fase ascendente, influenciado pela elevação dos valores internacionais do leite em pó, pela valorização do dólar e pela sazonalidade - março e abril são meses em que o Brasil naturalmente produz menos leite. “Os protestos (dos caminhoneiros) mexem nos preços, porque diminuem a oferta do produto acabado disponível para o varejo em algumas regiões. Ou seja, esse episódio potencializa um movimento de alta (do preço) que já vinha ocorrendo”, explicou.
O presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS), Alexandre Guerra, concorda que os bloqueios das estradas provocam uma aceleração na curva de preços do setor, com reflexos para o consumidor. Levantamento da entidade apontou que mais de 15 milhões de litros de leite deixaram de ser coletados pela indústria láctea do RS no período dos protestos. Segundo ele, boa parte deste volume teve que ser descartado pelos produtores, já que se trata de uma matéria prima perecível que, se não chegar ao destino em até 48 horas, perde as condições de industrialização.
O Rio Grande do Sul foi um dos Estados mais atingidos pelas manifestações, com quase duas semanas de bloqueios a rodovias estaduais e federais. De acordo com o Sindilat, a média de industrialização no RS, segundo maior produtor do País, é de 13 milhões de litros de leite por dia, envolvendo cerca de 120 mil famílias produtoras.
“Sabemos do prejuízo para o segmento, mas não conseguimos quantificar. Não tivemos só a perda daqueles 15 milhões de litros que deixaram de ser processados na indústria, mas também daqueles clientes que não atendemos e que comprou de outro fornecedor, de outro Estado. Também houve problema nas exportações. O prejuízo se torna maior porque temos que retomar o mercado”, disse.
Para amenizar a situação, a indústria leiteira gaúcha - que vinha se recuperando de um período de crise - sugeriu ao governo estadual a possibilidade de flexibilização do prazo de pagamento do ICMS. Outra proposta que deve ser discutida com as autoridades é a abertura de linhas de crédito especiais para produtores rurais e empresários.
Carnes
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) acredita que a grave dos caminhoneiros tenha gerado um prejuízo de R$ 700 milhões para o setor de aves e suínos nacional. Conforme a entidade, em torno de 70% da capacidade de abate da região Sul (que é maior produtora de aves e suínos do País) foi afetada nos dias mais graves de bloqueios, já que a entrega de ração animal, o trânsito de aves e suínos para o abate e a liberação de cargas prontas ficaram comprometidas.
A Aurora Alimentos, que tem indústrias de aves e de suínos concentradas principalmente em Santa Catarina - outro Estado onde os bloqueios foram intensos -, levará cerca de 40 dias para calcular o tamanho do estrago causado pelos protestos dos últimos dias. “O que sabemos por enquanto é que o prejuízo é grande”, adiantou ao Broadcast a assessoria de imprensa.
Na conta de perdas que começa a ser feita pela empresa, está a diminuição de abates, o tempo em que os funcionários ficaram parados, as horas extras que terão que ser pagas para recuperar a produção, o descarte de material biológico, como pintos e ovos, a redução da qualidade do produto final (por conta da falta de ração) e as multas que deverão ser pagas pelo não cumprimento de contratos de exportação.
A Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) divulgou que a agroindústria catarinense teve um prejuízo entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões com os bloqueios realizados pelos caminhoneiros no Estado, entre os dias 18 de fevereiro e 3 de março. Segundo a entidade, as cadeias de produção de aves, suínos e leite foram as mais atingidas.
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