Num fato inédito em São Paulo, a Ford apresentou neste domingo (24) a cerca de 35 mil pessoas o novo Fiesta, compacto premium global que a marca começa a produzir no ABC paulista. Com show da cantora Claudia Leitte no Paço Municipal de São Bernardo do Campo, o público viu o carro antes mesmo de seu lançamento oficial, que ocorre nesta segunda-feira (25) na fábrica com a presença de autoridades como o governador Geraldo Alckmin e o prefeito local, Luiz Marinho.
Pouco antes do show, quem apareceu no palco para um breve discurso não foi o presidente da Ford do Brasil, Steven Armstrong, que permaneceu na área para convidados. Foi o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, em mais um sinal da evolução das relações entre capital e trabalho na região considerada berço do sindicalismo brasileiro.
Marques afirmou que o novo produto - o carro global (feito em vários países) - chegou após 15 anos de negociações com a empresa e garante o futuro da fábrica no ABC. "A fábrica agora faz parte definitivamente da estratégia global da Ford". Boa parte do público era formada por funcionários e seus familiares.
Há 23 anos, Marques estava no grupo de trabalhadores demitidos durante a chamada "greve dos golas vermelhas", que reivindicava aumento salarial. Foi deflagrada no setor da ferramentaria, onde trabalhadores usavam macacões com golas vermelhas.
Após as demissões, trabalhadores ocuparam a fábrica e destruíram vários carros, alguns deixados de rodas para cima no pátio. A greve durou 51 dias e, após acordo, Marques foi reintegrado. Até hoje é funcionário da montadora, embora afastado há vários anos para exercer funções sindicais. Outra grande greve, de 50 dias, ocorreu em 1998, quando a Ford enviou cartas de demissão a 2,8 mil trabalhadores às vésperas do Natal. Na época, muitos analistas acreditavam que a fábrica seria fechada.
"Desde então, houve um amadurecimento de ambas as partes, trabalhadores e empresas viram que era possível encontrar alternativas viáveis", disse Marques ao Estado. "E o novo Fiesta primeiro carro global a ser fabricado em São Bernardo, é resultado desse processo". Nos anos 90 a fábrica tinha 7 mil funcionários e hoje tem 4,2 mil.
Retrato desse novo comportamento aparece na capa da edição de quinta-feira da Tribuna Metalúrgica, publicação do sindicato distribuída diariamente. A publicação parece folheto de propaganda da montadora. Com a foto do Fiesta e letras garrafais num quadrado vermelho, anuncia: "Ford lança novo carro com festa no Paço Municipal". A página interna traz depoimentos de trabalhadores, sindicalistas e do próprio Marques ressaltando que o lançamento de um produto global trará mais tranquilidade aos funcionários, garantirá salários e empregos à indústria do ABC.
"Todos nós evoluímos", desse Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford, minutos antes do show. "Aprendemos muito com eles e eles com agente". Segundo o executivo, a vinda do Fiesta coloca a fábrica do ABC no contexto mundial do grupo de ter toda sua linha com carros globais até 2015 e foi facilitada pela parceria. "Foi um trabalho integrado e o sindicato sabe como é importante o sucesso desse produto".
Hoje, a fábrica do ABC produz o Ka basicamente para o mercado brasileiro e a picape Courier. "Um acordo fechado em 2011 selou a produção do Fiesta no ABC", disse Marques. Entre as medidas acertadas está a criação de uma nova jornada na estamparia, com sete turmas se revezando no trabalho nos sete dias da semana. Segundo o sindicalista, a medida gerou "aumento de eficiência que ajudou a compor a equação de custo para a produção do novo carro". O próximo passo, disse, é negociar uma substituta para a Courier. "Já mostramos que o ABC é viável". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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