Dono de uma fortuna estimada em cerca de US$ 30 bilhões, o empresário Jorge Paulo Lemann, controlador da AB InBev, maior cervejaria do mundo, da rede de fast food Burger King e da Heinz, tornou-se mais conhecido pelos consumidores brasileiros ao unir a Brahma à Antarctica, em 1999, criando a AmBev. Anos antes, ainda no comando do banco Garantia, já dava tacadas certeiras sempre farejando grandes negócios na chamada economia real. Aos 76 anos, Lemann, à frente de um império de emblemáticas marcas globais por meio do fundo 3G, avança a passos largos para se tornar um importante investidor em empresas de inovação.
Não há limites para a ambição de um dos maiores empreendedores do mundo. Em maio, Lemann tornou-se um dos investidores do Snapchat, rede social de fotos e vídeos com 150 milhões de usuários diários, cujo valor de mercado é de cerca de US$ 22 bilhões. Sua entrada nesse negócio foi por meio do fundo Innova Capital, do qual é um dos investidores. O valor aportado no Snapchat, que captou US$ 1,8 bilhão em uma rodada de investimentos há três meses, é mantido sob sigilo.
A entrada de tradicionais investidores globais em empresas de tecnologia surpreende o mercado. Foi assim também com o bilionário americano Warren Buffet, da Berkshire Hathaway, sócio do empresário suíço-brasileiro na Heinz e na Kraft (que uniram as operações em 2015), que decidiu investir, em maio, cerca de US$ 1 bilhão em ações da gigante Apple.
Nada indica que Lemann vá mudar radicalmente o perfil de seus investimentos. Mas os passos mais recentes do empresário, que mora na Suíça e é conhecido por mergulhar a fundo em cada negócio no qual põe seu dinheiro, mostram que, ao mesmo tempo em que orquestra a fusão da sua gigante AB InBev, donas das marcas Stella Artois e Budweiser, com a SABMiller, também diversifica atuação em diferentes negócios, como a recém-criada rede de padarias Benjamin; a Dauper, de ingredientes alimentícios e cookies; a empresa de aplicativos Movile, dona da iFood e PlayKids; da Diletto (fabricante de picolés premium); e outras três companhias de software. Também é investidor de outros fundos, como o Gera, da área de educação.
Esses investimentos considerados “fora da curva”, incluindo o do Snapchat, foram feitos pelo fundo de investimento Innova Capital, gerido com mãos de ferro por Veronica Serra, que faz parte do board global da Endeavor, uma das maiores organizações de apoio a empreendedorismo. É por meio desse fundo de gestão ativista, que tem vários investidores de peso - entre eles Marcel Telles, sócio do empresário no 3G -, que Lemann busca oportunidades fora da economia real e diversifica seus negócios.
Nenhum investimento do empresário Jorge Paulo Lemann, sócio do fundo 3G, controlador de um império de importantes empresas globais, como AB InBev, Burger King e Heinz/Kraft, é feito da noite para o dia. Assim como ocorre nos grandes negócios, a tomada de decisão para entrar em empresas de menor porte e consideradas “fora da curva” é muito bem planejada, apurou a reportagem.
Com estilo marcado sobretudo pela meritocracia, corte de custos e planos de longo prazo, a filosofia de Lemann (que tem Marcel Telles e Beto Sicupira como sócios no fundo 3G), pode ser replicada em vários tipo de negócios, segundo fontes.
No caso do aplicativo de mensagens instantâneas Snapchat, o fundo Innova Capital, no qual Lemann é investidor, avaliou que a companhia, com sede na Califórnia, tem grande potencial que crescimento no Brasil. Com perfil ativista, o fundo não se dá por satisfeito em participar de suas apostas apenas com dinheiro. Gosta de influenciar na gestão e participar das decisões, mesmo não sendo o sócio controlador do empreendimento.
Não à toa, em maio, Lemann fez um curso na Singularity University, instalada no centro de pesquisa da Nasa, no Vale do Silício (Califórnia), para se informar sobre inovação e entender melhor sobre a lógica das empresas deste setor.
O investimento em tecnologia, porém, começou já há alguns anos. O Innova investiu na empresa de aplicativos Movile em 2014, por acreditar no potencial da desenvolvedora brasileira, fundada em 1998 e hoje controlada pela empresa sul-africana Naspers - a mesma que possui participação no Buscapé. Nos últimos anos, a Movile foi fazendo aquisições e hoje é dona de apps importantes, como iFood e Playkids, que já têm atuação fora do Brasil.
Das oito companhias investidas pelo Innova, outras três atuam no setor de tecnologia, como a Accera, empresa nacional especializada em soluções de gestão da cadeia de suprimentos, que tem fatia minoritária na Visor, de inteligência de mercado; e a TradeForce, de gestão e trade marketing.
No entanto, o fundo também investe em negócios da “economia real”, de pequeno porte, mas com forte potencial de expansão. São os casos da rede de padarias Benjamin, com 12 unidades; da Diletto (fabricante de picolés) e da Dauper (que produz ingredientes alimentícios e cookies).
Na Benjamin, a Innova entrou em agosto de 2015, em parceria com a gestora Península, do empresário Abilio Diniz, ex-dono do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e acionista do Carrefour global e da BRF. Os dois megainvestidores acreditam que a rede pode se tornar uma das maiores do país, uma vez que esse mercado é pulverizado.
Para entender como esse segmento funciona, Abilio, Lemann e gestores da Innova fizeram, juntos, visitas a grandes redes de padarias na Califórnia. “Agora, as pessoas brincam sobre quando a rede de padaria vai atingir 5 mil unidades, uma cobrança de Abilio, e quando atingirá seu primeiro US$ 1 bilhão, uma meta de Lemann”, disse um empresário ao Estado.
Na trajetória de sucesso de Lemann, nem todos os investimentos foram bem sucedidos. Um desses casos é o da maior ferrovia do País, ALL (hoje Rumo-ALL), onde a “trinca” do 3G investiu quando ainda fazia parte da GP Investments. A mesma lógica de gestão foi usada no negócio, mas não deu os mesmos resultados, segundo fontes. Nos EUA, o 3G chegou a aplicar na CSX, do mesmo ramo, em 2007, mas acabou desistindo da empreitada em 2011, após não conseguir comprar o controle da empresa.
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