Os desafios econômicos e políticos no Brasil em 2016 são consideráveis e o cenário continua a se deteriorar. Esse contexto aumenta os riscos para a execução da política econômica e pesa na avaliação de risco de crédito do país, afirmou nesta quinta-feira (18) a diretora-gerente de ratings soberanos da Standard & Poor’s (S&P), Lisa Schineller, em uma teleconferência para comentar o novo rebaixamento do rating soberano brasileiro, anunciado na quarta (17).
Lisa disse que é difícil ver neste momento sinais de melhora do cenário em meio às discussões de impeachment no Congresso e a ampliação das investigações de corrupção na Petrobras, que tem atingido políticos em Brasília. Nesse ambiente, a confiança dos investidores e consumidores segue baixa. “O Brasil terá em 2016 outro ano de significativa contração da economia”, afirmou a diretora da S&P. Ela ressaltou que a tendência é que a trajetória fiscal continue se deteriorando.
Para Lisa, o andamento dos procedimentos de impeachment no Congresso deve fazer o ajuste fiscal demorar ainda mais. “Os riscos para a execução de política, sobretudo fiscal, permanecem muito altos”, disse ela, destacando que os riscos tendem para o lado negativo, tanto nas perspectiva para o Produto Interno Bruto (PIB) como para as contas fiscais.
“Aprovar medidas para melhorar a trajetória fiscal será bastante desafiador”, afirmou a diretora da S&P. “É muito difícil prever uma estabilização dessa dinâmica muito negativa até haver mais clareza do lado político.”
Também lembrou que a previsão da S&P é de contração do PIB este ano na casa dos 3% e uma estabilização em 2017. A diretora citou os dados do IBC-Br divulgados pelo Banco Central hoje, que sinalizam uma contração de 4,08% em 2015, para destacar que o cenário ainda segue muito negativo. Esse é um dos fatores que levam a agência de classificação de risco a deixar a perspectiva da nota brasileira como “negativa”.
Política
Ela afirmou também que uma melhora do quadro político em Brasília é um fator que ajudaria a reverter o cenário negativo atual no país e seria importante elemento para mudar a perspectiva do rating para “estável”. Há o risco de que a dinâmica política, em meio às discussões do processo de impeachment no Congresso, possa levar o Planalto a adotar políticas econômicas inconsistentes e mesmo reverter medidas para melhorar as contas fiscais.
“A dinâmica em jogo na política atual claramente deixa mais desafiador para o governo seguir com medidas de curto prazo”, afirmou Lisa. Para ela, a situação complicada no Congresso reduz a flexibilidade da política econômica. “A trajetória fiscal continua a se enfraquecer e a habilidade para corrigir este rumo no curto prazo é claramente um desafio dado o fraco crescimento econômico”, disse ela. “Parece que a meta fiscal para 2016 está sendo revista novamente”, afirmou a diretora da S&P.
Lisa ressaltou que a S&P espera que o déficit do governo atinja uma média de 8% do PIB em 2016 e 2017, antes de cair para 5% em 2018. Ela ressaltou ainda a projeção de déficit fiscal primário na média de 1% em 2016 e 2017, com o governo gerando um resultado primário positivo em 2018. “São níveis bastante altos.”
A diretora afirmou que, no ano passado, a S&P também viu crescentes dificuldades de o governo conseguir aprovar medidas fiscais. Por isso, não esperava que a meta de superávit primário, mesmo após as revisões, fosse ser alcançada. Uma reforma da Previdência seria um fator essencial para a melhora da situação fiscal no longo prazo.
Pelo lado positivo no Brasil, Lisa citou a melhora das contas externas, que se deu em ritmo mais rápido que o esperado pela S&P.