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empreendedorismo

“Startup é investimento tão bom quanto a bolsa”

 | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Sócio investidor e fundador da startup Eco Innovare, voltada à inovação em eficiência energética e ambiental para a indústria de usinagem de metais, Rodrigo de Alvarenga está à frente da comunidade Startup Grind Curitiba, lançada em maio deste ano na capital. Fundada há quatro anos no Vale do Silício, a Startup Grind é uma rede com mais de 75 mil empreendedores, distribuídos em 100 cidades e 42 países pelo mundo, que conta com apoio do Google for Entrepreneurs. Em entrevista à Gazeta do Povo, Alvarenga fala sobre os gargalos que impedem a chegada de muitas startups ao mercado. Parece que há hoje uma profusão de startups pelo país. Ou esse conceito está sendo usado de uma forma muito ampla e até equivocada?

O termo startup caiu na moda. Todo mundo se diz uma startup. Mas na verdade não é. Startup é aquela empresa que nasce com o potencial de escalar o negócio dela a ponto de se tornar algo muito grande, em termos de faturamento. Uma padaria, por exemplo. Em certo momento ela vai chegar à sua curva de faturamento máximo. Se o dono quiser aumentar este faturamento, terá que abrir uma segunda padaria. Uma startup não. É um negócio que possui escabilidade, sem que haja um número específico de faturamento para se denominar o que é ou não startup. Se você desenvolver uma ideia inovadora, dentro de um nicho de mercado, e ela faturar R$ 10 milhões, esse valor pode ser extremamente relevante levando em conta o tamanho deste mercado. É o que chamamos de empreendedorismo de alto impacto.

O produto desenvolvido por uma startup necessariamente é algo inovador, que não existe no mercado?

Não precisa ser um negócio totalmente disruptivo. Pode ser algo que até já exista, mas que é apresentado de uma maneira diferente o suficiente para que se consiga criar interesse pela adoção desse produto ou serviço. Um exemplo bem característico é o Orkut e o Facebook. O Orkut estava aí, consolidado, o Brasil era um dos maiores mercados do mundo. Mas o Facebook acabou destruindo o Orkut. Há muitas possibilidades de se introduzir algo de uma forma diferente, que capture no usuário algo que o que já existe não capturou. E isso não necessariamente tem a ver com internet. Há startups voltadas aos mais variados setores, não só à tecnologia.

Há um perfil específico de quem atua neste setor?

No mundo todo, boa parte dos envolvidos em startups são jovens de 15 a 35 anos. Normalmente a faixa etária mais alta está mais relacionada ao business da startup, enquanto os mais novos estão ligados ao desenvolvimento da tecnologia. Esses jovens, na maioria das vezes, não têm experiência ou dinheiro e também não têm, o que ao meu ver é bom, uma visão tradicionalista de negócio. Eles não receberam "nãos" suficientes na vida que tolhessem sua criatividade. Pensam em algo, resolvem fazer, desenvolvem e de repente encontram usuários para isso.

Mas depois de esse jovem ter a boa ideia, ele nem sempre tem tino pra levar o negócio adiante.

Eu diria que esse é o momento mais relevante que diferencia uma startup de um negócio tradicional. Em países como os Estados Unidos, o dinheiro para financiar startups vem de investidores-anjo, de fundos seed capital (fundo de capital semente) ou do mercado de venture capital, que são os capitalistas de risco. Pode vir também de algum programa de fomento, de aceleradoras, mas tudo envolve a ideia de se trabalhar com um investimento de risco. Porque a cada 10 startups que você botar dinheiro, duas vão quebrar, duas ou três vão arrebentar de sucesso e o bolão do meio ao menos vai remunerar o investimento. Isso é algo que no Brasil está subdesenvolvido. É preciso ter mais recursos disponíveis para estes negócios. Falta quem se proponha a investir e apostar então?

Os investidores brasileiros tradicionalmente colocam dinheiro onde? No banco, nos produtos de renda fixa, eventualmente algum porcentual pequeno em bolsa, quando o investidor tem um nível de profissionalização maior. Muitas famílias tradicionais também têm seus patrimônios, parte dedicados a investimentos imobiliários. Isso para não falar nos próprios negócios que essas famílias mantém, como concessionárias de carros. Agora, vai procurar um grupo tradicional aqui de Curitiba que invista nem que seja 0,1% em startups. Não existe. Isso ocorre por que há uma falta de conhecimento sobre a existência das startups ou por que há receio de investir nesse tipo de negócio?

As duas coisas. Nem essas pessoas sabem que isso é uma opção e muito menos alguém trabalhou com elas como perceber riscos nesse negócio. Você se sente à vontade para investir em algo em que você compreendeu o risco que corre e decidiu aceitá-lo. Por que aqui a bolsa de valores não se desenvolveu tanto para investimentos de pessoa física, do cidadão comum? Nos Estados Unidos, todo mundo tem uma grana na bolsa. No Brasil isso não acontece. É difícil sentir uma relação com esse tipo de investimento, que não é palpável e parece distante. Já uma startup é algo próximo. Acho que, para a geração dos 30 anos para baixo, startups serão um investimento de médio ou longo prazo que os jovens vão abraçar com mais facilidade do que a bolsa. Isso porque as startups têm a cara dessa geração. De maneira mais ampla, falando não só de financiamento, o quão favorável é o clima no Paraná hoje para a criação de startups?

Se você reconhecer que essa é uma área que gera desenvolvimento para o estado e para o país, e que é preciso fazer isso explodir, então temos uma lição de casa gigante pela frente. Temos muito mais a fazer do que, por exemplo, Santa Catarina, que começou a fomentar esse cenário antes. Há várias ações acontecendo no Paraná, o Startup Grind Curitiba é só um dos atores desse ecossistema de empreendedorismo de alto impacto que está trabalhando para fomentar o desenvolvimento de startups, ao lado de entidades como o Sebrae e a Fiep. Mas estamos começando nesse caminho agora só. Começou a se falar de startup por aqui principalmente nesse ano.

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