Com o sistema bancário cada vez mais concentrado, limitando as opções de crédito e serviços aos correntistas, um grupo de startups financeiras começa a emergir e a romper esse mercado cativo dos “bancões” apostando nas facilidades da tecnologia e em taxas menores para atrair clientes.
Chamadas de “fintechs” (em referência a tecnologia financeira), essas empresas já nascem virtuais, com aplicativos que permitem acesso a empréstimos e serviços em geral a custos mais em conta que os das instituições financeiras tradicionais. No Brasil, já há cerca de 150 empresas que oferecem operações similares às dos bancos, segundo dados da FintechLab Brasil, que acompanha o desenvolvimento desse setor.
“Enquanto um banco é mais preocupado com a transação, as fintechs tentam interagir com o cliente. É um modelo diferenciado que coloca o consumidor no centro e, a partir daí, se desenha uma solução, que pode ser de crédito ou serviço”, explicou Marcelo Bradaschia, um dos fundadores do FintechLab.
Por tais características, a expectativa é de que nos próximos anos esse segmento passe a ser significativo e se transforme em uma alternativa efetiva dentro do sistema financeiro, não apenas aqui, mas em todo o mundo.
Estudo do Goldman Sachs, publicado no ano passado, prevê que as fintechs têm potencial de retirar US$ 4,7 trilhões de receitas que hoje estão no sistema bancário tradicional em todo o mundo. Um bom exemplo desse potencial está na americana LendingClub, fundada em 2006, e que já possui ações negociadas em bolsa. Só no ano passado, ela concedeu US$ 8,3 bilhões em empréstimos.
No Brasil, as fintechs são bem mais novas. A maior parte delas surgiu a partir de 2012, quando o Banco Central deixou mais clara a regulação dos chamados correspondentes bancários – instituições, como as lotéricas, autorizadas a fazer a intermediação de serviços oferecidos por bancos. Em 2014, o aperfeiçoamento das normas sobre a atuação desses agentes em meios de pagamentos também contribuiu para que novas empresas ingressassem nessa área.
Uma das companhias em ascensão por aqui é a Bankfácil, que oferece crédito com garantia em veículos ou imóveis. Criada em 2012, a Bankfácil já conta com uma carteira de empréstimos de R$ 100 milhões.
“Acho que as fintechs podem ser uma alternativa no futuro. Todo mundo está buscando uma oferta maior ao melhor preço possível. São soluções eficientes para o cliente. O brasileiro já está vendo que há uma parte boa na tecnologia que pode ser utilizada e que há empresas sérias dando eficiência ao sistema financeiro”, disse Sergio Furió, fundador do Bankfacil.
Para Ricardo Anhesini, sócio da KPMG de Serviços Financeiros, essas empresas conseguem crescer junto a uma população que geralmente não é atendida pelos grandes bancos e também porque, ao se concentrarem em um só tipo de serviço e nascerem com uma estrutura mais enxuta e virtual, conseguem ser mais eficientes e oferecer um custo menor.
“Esse perfil das fintechs é considerado um fator de ruptura no setor bancário, mas é uma jornada longa. Mas há também quem veja essas empresas como complementares ao setor bancário”, disse, lembrando que grandes instituições já utilizam soluções apresentadas por essas empresas e criaram núcleos para acompanhar esse mercado.
Para Anhesini, o Brasil teria a ganhar se tivesse uma regulação que estimulasse o desenvolvimento dessas empresas. Isso incentivaria o investimento nelas.
A Geru é uma plataforma que busca popularizar o acesso ao crédito por meio de aplicativos, voltada para operações de R$ 2 mil a R$ 35 mil. Por não ser uma instituição financeira, a empresa faz apenas a captação de clientes e investidores para viabilizar a operação. Os juros variam de 25% a 80% ao ano, bem abaixo do que uma pequena empresa pagaria se fosse diretamente a um banco.
“Quando você aplica a tecnologia, você consegue uma melhoria para o usuário. Você cria uma mecânica para a contratação de um serviço com custos unitários mais baixos que no sistema tradicional. É uma experiência melhor e mais barata. Você coloca o usuário em uma posição mais confortável”, avaliou Sandro Reiss, sócio-fundador da Geru.
A proposta de oferecer uma alternativa mais barata é também o que deu impulso à Biva. Ela trabalha no que é conhecido como peer to peer lending, o modelo de negócios que deixou a americana LendingClub famosa. Nesse sistema, empresas já operacionais fazem solicitações de crédito ao banco. Investidores analisam cada caso e veem o quanto vão investir. No caso da Biva, a parceria por enquanto é feita com o Sorocred, que é quem valida tanto a captação do recurso por parte dos investidores como a emissão do crédito aos empreendedores.
“Já temos R$ 3,5 milhões em operações. Foram quase 250 empreendedores beneficiados e 1,6 mil investidores. A questão da tecnologia nos ajudou a reduzir os custos”, afirmou Jorge Vargas, um dos fundadores, afirmando que, para garantir a remuneração aos investidores, mesmo em caso de inadimplência dos empreendedores, há um fundo de R$ 1,4 milhão e que, até hoje, apenas duas empresas ficaram inadimplentes por mais de 60 dias.
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