Oi anunciou plano com preço único para ligações antecipando decisão da Anatel de reduzir o custo das conexões.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O popular costume de usar mais de um chip de telefone no mesmo celular pode estar com os dias contados. Em um movimento inédito no mercado brasileiro, TIM e Oi anunciaram na última semana que não vão mais cobrar tarifas diferentes em ligações para outras operadoras –o que torna as chamadas mais baratas e, em tese, torna desnecessário o usuário ter planos em outras empresas.

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A estratégia foi alardeada como uma ação pró-consumidor, mas também é uma tentativa de dar sobrevida à receita de voz das teles, que, apesar de seguir em queda, ainda é fundamental para o caixa das companhias.

INFOGRÁFICO: Veja a disputa entre as operadoras de telefonia que operam no Brasil

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Tanto no caso da TIM quanto da Oi, a expectativa é que a receita com tráfego de dados ultrapasse a fatia vinda dos serviços tradicionais já no ano que vem. No terceiro trimestre deste ano, voz e SMS representaram 65% das receitas totais da TIM –os minutos de uso, porém, caíram 13% em comparação com 2014, fazendo com que a receita média por usuário diminuísse 6%. Por outro lado, a receita com tráfego de dados cresceu 41% no ano, compensando parte da queda.

Usuários são contra regulamentação do WhatsApp

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Na Vivo, a fatia dos serviços de voz na receita móvel é de 50%, enquanto na Oi esse porcentual chega a 40%. Os números mostram a equação delicada a que as operadoras estão sujeitas e servem como argumento para as críticas constantes das teles a aplicativos como o WhatsApp, que têm ganhado terreno na troca de mensagens e chamadas (leia mais nesta página).

Por trás das ações da TIM e da Oi também está uma mudança fundamental capitaneada pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel): a redução das tarifas de interconexão (conhecidas pela sigla VU-M), que são justamente os valores extras cobrados por minuto quando um usuário de determinada operadora faz uma chamada para um número de outra empresa. Esse valor a mais, que era de R$ 0,35 em 2012, foi reduzido em fevereiro para R$ 0,16 e será diminuído ainda mais nos próximos anos, chegando a apenas R$ 0,02 em 2019.

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“É uma tendência internacional, você olha para os mercados de outros países e não existe essa diferença de tarifas. Isso possibilitou a nós analisar esse fenômeno e efetivar a nova oferta. Queremos que o nosso chip seja o único utilizado pelo nosso cliente”, destaca o diretor de Produtos e Mobilidade da Oi, Roberto Guenzburger. Junto do fim da cobrança diferenciada, a operadora ampliou as franquias de dados para as novas ofertas, movimento também seguido pela TIM.

“Nos adaptamos aos nossos clientes. Fizemos várias pesquisas e constatamos algo óbvio, que o consumidor não quer ter um celular com vários chips. Ele quer tirar o celular do bolso e simplesmente ligar. Estender a vida útil da receita com voz é apenas uma consequência dessa nova postura”, defende o diretor comercial da TIM Sul, Carlos Eduardo Spezin Lopes.

Estratégia

A ação das duas teles tem como foco o segmento pré-pago, justamente onde são mais fortes – e em que os usuários são mais afetados pelas cobranças mais caras para outras operadoras. “A TIM e a Oi querem aumentar o interesse dos usuários pelos seus serviços e assim vender mais planos. Elas estão se adaptando a uma nova realidade, não porque são benevolentes, mas porque assim conseguem reduzir as chamadas por aplicativos como o WhatsApp e desafogar a rede de dados”, avalia o especialista em telecomunicações e coordenador dos cursos de Engenharia da FIAP, Almir Meira Alves.

Novas ações acirram disputa entre empresas

As novas medidas tomadas pela TIM e Oi acirram ainda mais a disputa entre as operadoras brasileiras, em um mercado já bastante concorrido –a diferença de market-share entre TIM, Vivo e Claro em telefonia móvel é de apenas quatro pontos porcentuais (veja infográfico). A expectativa é que, até o fim do ano, novas ações surjam, inclusive como resposta ao movimento da TIM e Oi.

A Claro já anunciou que deve apresentar uma atualização de seus planos e novas ofertas na próxima terça-feira (10), mas não dá detalhes ou indicações de que deve seguir a estratégia das duas concorrentes e acabar com as tarifas diferenciadas. A Vivo, por outro lado, aposta em um novo recurso que promete facilitar a contratação e migração de planos entre os clientes.

Chamada de Vivo Easy, a funcionalidade permite que o usuário faça a adesão e a gestão de seu plano de telefonia móvel por meio de um aplicativo para celular, adicionando pacotes de serviço de acordo com suas necessidades – é possível escolher a franquia e a validade desejadas dos pacotes e o pagamento é feito diretamente pelo cartão de crédito. A ação é um dos focos da operadora para incrementar a receita com dados, que cresceu 54% no terceiro trimestre, em comparação com o ano passado. No período, a receita média por usuário com dados foi de R$ 11,90 – aumento de 33% em comparação com o terceiro trimestre de 2014, mas ainda abaixo da receita média com voz, que ficou em R$ 12,40.

Para o diretor da Regional Sul da Telefônica Vivo, Jackson Rodrigues, há uma “substituição clara” do uso de voz por dados. “É um movimento (o fim das tarifas diferenciadas) das demais operadoras, que não necessariamente será seguido por nós. Nos manteremos fiéis à nossa estratégia, que é de olhar para dados, entregando a melhor experiência e oferta de dados para o nosso cliente”, diz.

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