Protesto contra o arrocho fiscal na frente do parlamento grego: FMI liberou ontem 30 bilhões de euros para o governo de Atenas| Foto: Yiorgos Karahalis/Reuters

Investimentos - No Brasil, a luz amarela acende

A crise europeia acendeu a luz amarela no Brasil sobre a velocidade da chegada dos investimentos estrangeiros. O receio é o de que, por um lado, sequem as fontes de crédito externo e seja reduzido o fôlego das multinacionais que estão interessadas em entrar ou ampliar suas ações no Brasil. Por outro, que leve a uma saída forte de recursos de fora aplicados em ativos nacionais, como ações e títulos públicos ou privados. Os investimentos estrangeiros direitos (IED) europeus no Brasil recuaram 26,4% no primeiro trimestre, quando os primeiros alertas de crise se desenhavam. Considerando-se as seis nações que mais enviam recursos produtivos – Holanda, França, Reino Unido, Espanha, Portugal e Itália – o ingresso do IED caiu de US$ 2,438 bilhões para US$ 1,794 bilhão entre janeiro e março. "A crise pega com mais força o mercado de capitais e, em seguida, os investimentos produtivos", resumiu o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), Luis Afonso Lima.

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Entenda as questões da crise que atinge o Velho Continente
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Paris e Atenas - A União Europeia anunciou ontem à noite a criação de um fundo, ou "mecanismo de estabilização", no valor total de 750 bilhões de euros (R$ 1,75 trilhão), para prevenir crises na zona do euro e em outros países do bloco que ainda adotam moedas nacionais. O acordo, costurado após mais de 10 horas de negociação entre ministros das Finanças de 16 nações que usam o euro, foi divulgado pouco antes da abertura dos mercados asiáticos.

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O mecanismo de estabilização foi descrito pelo ministro do Orçamento da França, François Baroin, como o embrião do Fundo Monetário Europeu. Ele será criado a partir do alargamento de um fundo já mantido pela Comissão Europeia, mas que até aqui era destinado só ao socorro de países de fora da zona do euro. Esse fundo já mantinha em carteira 60 bilhões de euros para empréstimos automáticos. Após um aporte de 440 bilhões de euros a ser feito pelas nações que compõem o bloco, ele será colocado à disposição dos 27 países da própria União Europeia. Outros 250 bilhões de euros virão de uma linha de financiamento do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O governo da Alemanha foi o responsável pela proposta dos "empréstimos pré-aprovados" de 440 bilhões de euros em verbas dos países do bloco europeu. Esse montante, oriundo de contratos de empréstimos bilaterais, garantias de empréstimos e linhas de financiamento, será mobilizado para uso eventual, em caso de turbulência. Para ser usado, o fundo dependerá de autorização unânime dos 27 chefes de Estado e de governo do bloco.

Urgência

A intenção de criar um "dispositivo de urgência" já havia sido informada na sexta-feira, ao término da cúpula extraordinária dos chefes de Estado e de governo da zona do euro, em Bruxelas. Ontem, os ministros de Finanças voltaram a se reunir, desta vez para decidir os detalhes do funcionamento do fundo, que segundo a ministra da Economia da Espanha, Elena Salgado, terá como objetivo "defender a estabilidade do euro". "Nós vamos dar mais estabilidade à nossa moeda. E faremos tudo o que for necessário", assegurou.

Britânicos fora

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O maior obstáculo à sua aprovação foi a posição do Reino Unido. O país, que não adota o euro, descartou financiar o mecanismo de urgência, mesmo que seja apenas com garantias. "É do nosso interesse, claro, que tudo seja feito pela Europa para tentar estabilizar a situação", afirmou Alistair Darling, secretário do Tesouro britânico. "Mas a criação de um fundo de estabilidade para o euro é um problema dos países da zona do euro. O que nós não faremos e não podemos fazer é aportar dinheiro para apoiar o euro. Isso cabe aos países que utilizam a moeda", justificou.

Segundo o ministro das Relações Exteriores da Suécia, Angers Borg, o esforço de negociações feito ao longo da noite serviu para que o acordo fosse selado antes da abertura dos mercados financeiros. A preocupação se deve à possível reação negativa dos investidores sobre a situação falimentar da Grécia, à insegurança econômica em Portugal e na Espanha e à instabilidade política no Reino Unido.

FMI deu OK

Com o mesmo objetivo de garantir a serenidade dos mercados, o FMI aprovou em Washington o pacote de 30 bilhões de euros em empréstimos à Grécia, valor que se soma aos 80 bilhões de euros postos à disposição de Atenas pela União Europeia.