Menos educação, mais saúde
A transição de uma sociedade jovem para uma mais envelhecida pode mudar o perfil dos gastos públicos. Em tese, a queda do número de crianças reduz a necessidade de despesas com creches e escolas, ao passo que, com mais idosos, os sistemas de saúde e previdência são mais exigidos. O problema é que o Brasil nunca investiu o necessário em educação e, se quiser melhorar sua qualidade nos próximos anos, terá de pelo menos manter os desembolsos.
Os administradores Gabriel e Mariana Nieweglowski têm 26 e 25 anos, respectivamente. Eles se casaram em outubro de 2012, mas três anos antes já haviam começado a depositar de 8% a 10% da renda mensal em planos de previdência privada. Os dois curitibanos cumprem à risca, e desde muito jovens, uma recomendação clássica de especialistas em finanças: estão poupando parte do que ganham na fase produtiva de suas vidas, a fim de desfrutar a velhice sem sobressaltos.
INFOGRÁFICO: Veja o número de pessoas em condições para trabalhar
Não se pode dizer o mesmo da maioria dos brasileiros, nem do governo. A população está envelhecendo rapidamente, o que nas próximas décadas terá impacto significativo em áreas como o mercado de trabalho, a previdência social e a saúde pública. Mas, longe de parecer preocupado, o país está desperdiçando o momento histórico mais propício para a poupança e o investimento.
O Brasil vive desde os anos 1970 o que os estudiosos chamam de "bônus demográfico" ou "janela de oportunidades". Consequência da queda simultânea das taxas de natalidade e mortalidade, esse fenômeno se dá quando o número de jovens e adultos (na literatura econômica, a "força de trabalho") cresce mais rápido que o de crianças e idosos (os "dependentes"). Nos últimos 40 anos, o grupo com idade entre 15 e 64 anos saltou de 55% para 69% da população brasileira, enquanto o conjunto dos mais novos e mais velhos baixou de 45% para 31%.
Parte do bônus vem do fato de que a mera absorção da mão de obra crescente já dá algum impulso à economia, pois há mais trabalhadores para gerar riquezas. Além disso, com menos dependentes para sustentar, a sociedade pode poupar mais e financiar investimentos que melhorem a situação de áreas como a educação, a saúde e a infraestrutura. Mas, faltando menos de uma década para o fim do bônus, fica evidente que o Brasil jogou muitas oportunidades pela janela. E corre o risco de ficar velho antes de ser um país desenvolvido.
"Não nos preparamos para o começo do bônus. E não acho que estejamos prontos para seu fim", avalia o doutor em demografia José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence/IBGE). "Para que o bônus fosse plenamente aproveitado, teríamos não só de manter altas taxas de emprego, mas também garantir o acesso a educação de qualidade, saúde, boas colocações no mercado de trabalho. Mas isso não ocorreu no passado, e mesmo hoje ainda há muito jovem fora da escola, muita gente desocupada, e quase metade da população ativa trabalha na informalidade."
A poupança também foi negligenciada: cidadãos, empresas e governo guardam hoje menos dinheiro que na década de 1970. Em 2012, poupamos o equivalente a 15% do Produto Interno Bruto (PIB), o pior índice em dez anos e o 101.º de um ranking com 144 países. Melhorar esses números será mais difícil nos próximos anos, com mais gente chegando à velhice, fase da vida em que os gastos tendem a ser mais altos.
Um em cada cinco jovens está ocioso
As projeções do IBGE indicam que a força de trabalho do país vai atingir o pico em 2022, quando os brasileiros com idade entre 15 e 64 anos vão responder por quase 70% da população. Essa proporção deve começar a encolher no ano seguinte, marcando "oficialmente" o fim do bônus demográfico.
Isso significa que a população potencialmente produtiva ainda tem nove anos de crescimento pela frente. A questão é que, tal como a água represada por uma hidrelétrica, esse bônus representa um potencial e só se converterá em benefícios se for bem aproveitado. Mas o Brasil tem se dado ao luxo de esbanjar uma parte significativa dessa energia acumulada.
Os dados mais recentes do IBGE mostram que um em cada cinco brasileiros na faixa entre 15 e 29 anos não estuda nem trabalha a chamada "geração nem-nem". Dos 9,6 milhões de jovens nessa situação, 70% são mulheres, a maioria delas pobre e com filho pequeno. "Entre os homens dessa faixa etária que estão sem atividade, muitos certamente estão expostos à violência, à criminalidade", diz José Eustáquio Diniz Alves, da Ence/IBGE.
A violência é outro canal de desperdício. Em 2011, quase 30 mil jovens brasileiros com idade entre 15 e 24 anos morreram de forma violenta (homicídio, suicídio ou no trânsito), o equivalente a 63% das mortes nessa faixa etária mais que o dobro da taxa registrada no início dos anos 1980, segundo o anuário Mapa da Violência. O que mais cresceu foram as mortes por assassinato, passando de menos de 15% para quase 40% do total.
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