O Kickstarter está, aos poucos, causando uma revolução na indústria dos jogos eletrônicos. Antes do site de crowdfunding existir, os desenvolvedores tinham dois cenários distintos: ou corriam o risco de trabalhar por anos sem salário num projeto para ver se seria aceito pelos consumidores, ou se juntavam (e eram contratados) por grandes estúdios. Um terceiro cenário se tornou viável e está cada vez mais comum. Os programadores têm uma ideia, gravam um vídeo explicando do que se trata e pedem financiamento direto para a comunidade. São os jogadores que escolhem a melhor ideia para apoiar e fazer sair do papel. Um dos casos mais notórios foi do estúdio Double Fine, que pedia pouco menos de R$ 1 milhão para lançar um novo "adventure".
Conseguiu amealhar no final da campanha cerca de R$ 7 milhões entre seus 87 mil doadores. Muitos outros jogos também tiveram enorme sucesso ao passar o chapéu virtual.
O que poucos esperavam é um que um console de videogame também pudesse se beneficiar do esquema Kickstarter. Em 10 de julho, uma empresa desconhecida de Los Angeles começou uma campanha para conseguir R$ 2 milhões. Prometia entregar o Ouya (que leva o mesmo nome da empresa), uma caixa com um design limpo, com um sistema operacional aberto e que rodaria jogos gratuitos ou muito baratos. Ou seja, um concorrente para os três gigantes que dominam o setor: Microsoft, Nintendo e Sony.
Encerrada na semana passada, a arrecadação total foi de aproximadamente R$ 18 milhões, possivelmente um recorde.
Mais de 60 mil pessoas doaram R$ 200 para receber em primeira mão o Ouya que, segundo a página do projeto, terá um processador com quatro núcleos, 1 GB de RAM, 8 GB de memória interna para guardar os jogos, saída FullHD, Wifi, Bluetooth, USB 2.0 e um controle sem fio com dois analógicos e uma tela sensível ao toque que permitirá a compatibilidade com jogos de celulares. A pequena caixa rodará o sistema Android e, em teoria, já nasce compatível com toda a biblioteca de jogos e programas que as pessoas já usam na palma da mão. A previsão de lançamento é para o começo de 2013.
Uma das maiores dúvidas do projeto era se teria apoio não somente dos jogadores, mas sim das grandes produtoras, afinal nenhum videogame resiste sem bons jogos. Durante o último mês, o Ouya, além de ganhar um grande espaço na mídia especializada, também chamou a atenção da indústria. A Square Enix anunciou que lançará Final Fantasy III para o console. A Namco Bandai e OnLive também prometem suporte. Além disso, outros serviços já demonstraram interesse em estar na caixa: VEVO, XMBC, TuneIn e iHeartRadio. "Estou convicto que é o caminho para desafiar o status quo", disse em seu Twitter Jenova Chen, mente por trás de jogos independentes aclamados pela crítica, como flOw e Flower.
Com tantas boas notícias em tão pouco tempo, criou-se um cenário positivo para o Ouya, mas até a boa ideia atingir seus objetivos de se tornar um videogame para fazer frente ao Xbox e Playstation 3 o caminho é um tanto quanto imprevisível. A maior barreira será conseguir uma boa base de jogadores que mantenham o interesse de investimento das grandes distribuidoras a longo prazo. Apesar dos milhões arrecadados, hoje há apenas 60 mil pessoas que se dispuseram a comprá-lo. Quase nada se comparado com os mais de 60 milhões de Xbox vendidos até o momento.