Há dois anos, Kenneth Griffin, gestor do gigantesco fundo de hedge Citadel Group, propôs divulgar o valor dos derivativos mais negociados por meio de cotações eletrônicas. O Citadel é baseado em Chicago e administra uma carteira de US$ 11 bilhões. Para ele, portanto, a economia em custos de transação – mesmo que de apenas alguns pontos porcentuais – significaria uma poupança de dezenas ou até centenas de milhões de dólares ao ano.

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Mas a bolsa eletrônica sugerida por Griffin logo esbarrou em forte oposição. O caso é uma amostra de como os bancos combatem ferozmente tentativas de ampliar a concorrência e de divulgar os preços praticados por eles. Para dar início a operações mais transparentes, o Citadel entrou com recursos tecnológicos em uma joint venture com a Bolsa Mercantil de Chicago, famoso centro de negociação de commodities como café e algodão. A missão do novo empreendimento era abrir uma câmara de compensação e um sistema de transações eletrônicas que exibisse as cotações dos contratos de derivativos.

Os grandes bancos, responsáveis pela maior parte dessas negociações, não gostaram da proposta. A transação eletrônica poderia conectar clientes de forma direta, eliminando a necessidade de instituições que atuam como intermediários. Como resposta, os bancos associaram-se no segundo semestre de 2008 à ICE, rival da Bolsa de Chicago que já estava preparando sua própria câmara de compensação. Várias condições foram estabelecidas nessa parceria, que resultou na fusão da câmara da ICE com um outro centro de compensação, criado pelos próprios bancos. Dessa forma, as instituições financeiras passaram a ser detentoras de um poder significativo na câmara da ICE, de acordo com fontes próximas às negociações. Os bancos só fecharam o acordo com a ICE depois que o estatuto para o funcionamento da câmara foi estabelecido com cláusulas favoráveis a eles.

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Além disso, os bancos determinaram que a ICE repassasse dados de mercado exclusivamente à Markit, uma empresa pouco conhecida, mas que desempenha um papel central no setor de derivativos. Sustentada por uma dúzia de instituições como Goldman Sachs e JPMorgan, a Markit fornece informações cruciais sobre esses instrumentos – por exemplo, suas cotações. Para o presidente da Markit, Kevin Gould, que participou da fusão das câmaras de compensação, os bancos foram apenas prudentes ao exigir regras que protegessem o mercado e a si próprios.

Mesmo com os bancos alinhados com a concorrência, o fundo Citadel e a Bolsa de Chicago continuaram a avançar em seus planos. Para isso, eles também precisavam da Markit, que detém os direitos sobre determinados índices de derivativos. Porém, a companhia deixou-os sem saída ao exigir que todas as transações envolvessem ao menos um banco – as instituições financeiras são as principais detentoras de licenças da Markit.

Tal requisito, na prática, assegurou que o papel dos grandes bancos permanecesse inalterado no mercado de derivativos, uma vez que o Citadel e a Bolsa de Chicago não poderiam seguir adiante sem um contrato com a Markit. Segundo Gould e outras duas fontes que tiveram acesso ao acordo, os competidores de Chicago viram que não lhes restava outra opção a não ser aceitar os termos propostos pela empresa (um porta-voz da Bolsa de Chicago nega que as condições estabelecidas pela Markit tenham sido consentidas).

Mesmo assim, a Bolsa Mercantil de Chicago passou a ter dúvidas sobre a manutenção da parceria com o Citadel e sobre o novo sistema eletrônico como um todo. A instituição abandonou o projeto em meados de 2009 e pôs um fim ao sonho de Griffin. Com o Citadel fora da jogada, os bancos concordaram em participar da câmara de compensação montada pela Bolsa de Chicago. Seu comitê de risco, a exemplo do que ocorreu na ICE, também foi formado principalmente por banqueiros.

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