Atingidas pelo cenário de recessão econômica, escândalos de corrupção em companhias abertas e uma série de fechamentos de capital em curso no país, as corretoras de valores devem enfrentar mais um ano de vacas magras. Em 2015, a Bolsa fechou aos 43.395 pontos – recuando ao patamar de sete anos atrás – e amargou queda de 41,9% em valor de mercado.

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O cenário se refletiu na última linha dos balanços das corretoras. Entre as 50 corretoras independentes com maior patrimônio líquido pesquisadas a partir de dados do Banco Central, 34% (17) ficaram no vermelho no acumulado de janeiro a setembro de 2015, último dado disponível. Desse total, 13 amargaram prejuízo na casa dos milhões.

Na lista completa de 166 corretoras independentes, 55 tiveram resultados negativos no mesmo período. O ranking dos prejuízos é encabeçado por Gradual (com perdas de R$ 18,9 milhões), Novinvest (R$ 17,7 milhões), SLW (R$ 17,6 milhões), Souza Barros (R$ 17,4) e Coinvalores (R$15,5 milhões).

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Mais antiga corretora do mercado, a Souza Barros está encerrando suas atividades. No lado positivo, a XP Investimentos lidera com lucro de R$ 66,5 milhões, seguida de H.H. Picchioni (R$ 49,6 milhões), JGP DTVM (R$ 17,7 milhões), Mirae Asset CTVM (R$ 17,3 milhões) e Sul America Invest (R$ 15 milhões).

Fontes do mercado não veem perspectiva de melhora significativa do quadro em 2016, em especial porque não há sinais de aquecimento no mercado de ações e muito menos de redução da taxa básica de juros, a Selic.

“Temos taxas de juros altíssimas, o que inviabiliza (o investimento em) ativos de risco. O contexto é muito adverso, o mercado de capitais não cresce e as corretoras não têm como se isolar disso”, diz Caio Villares, presidente da Ancord, associação que reúne corretoras e distribuidoras de títulos, valores mobiliários e câmbio.

Renda fixa

Sem poder contar apenas com as ordens de bolsa, a saída encontrada por muitas corretoras tem sido diversificar a atuação e olhar para a renda fixa. A lista de produtos financeiros que ganham espaço inclui títulos do Tesouro Direto, Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA).

“As corretoras independentes que adotaram o modelo de levar a Bolsa ao cliente, como um supermercado de serviços financeiros, são as que têm se destacado”, diz Luis Santacreu, analista sênior de instituições financeiras da Austing Rating.

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O principal exemplo disso é a XP Investimentos. Com R$ 7,5 bilhões de ativos sob gestão e 100 mil clientes ativos, a corretora está no topo do ranking das independentes tanto em patrimônio líquido quanto em resultado. “Viver de corretagem deixou de ser viável até pela concorrência com as corretoras de grandes bancos, que não precisam dessa receita e oferecem grandes pacotes de serviços”, reforça o advogado Renato Ximenes, sócio do Mattos Filho.

Após três anos de resultados negativos a Easynvest registrou lucro em 2015 (R$ 3,7 milhões até setembro). Para Marcio Cardoso, sócio-diretor da corretora, o resultado reflete a maturação de investimentos em tecnologia, dentro da estratégia de se tornar uma plataforma de investimentos com foco no varejo. Nascida como uma corretora típica, a empresa hoje tem apenas 20% de seu faturamento atrelado a operações em bolsa.

Com 44 anos a corretora SLW teve que abrir mão de uma carteira de 4 mil clientes, transferida à Guide Investimentos em março passado. “Não estávamos conseguindo ser eficientes. O volume de (negócios na) bolsa é cada vez menor, mas os custos de operação continuam subindo e há uma canibalização de preços entre as corretoras na busca por clientes”, resume o diretor-geral da empresa, Antonio Milano Filho.

A opção da SLW foi se reinventar, tendo como focos a atuação como agente fiduciário, a administração de fundos de investimento, corretora de câmbio e realização de operações estruturadas como fusões e aquisições. A empresa encolheu de um faturamento anual de R$ 35 milhões para cerca de R$ 9 milhões, mas espera fechar o ano no azul.

Nos nove primeiros meses de 2015, a SLW acumulava prejuízo de R$ 17,6 milhões, atribuído por Milano às dificuldades de mercado, além de custos com o fechamento do negócio e o pagamento de cerca de R$ 10 milhões na adesão ao Refis proposto às corretoras pelo governo.

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A adesão ao programa de refinanciamento de débitos, em 2015, pesou para muitas delas. O Refis veio solucionar uma disputa que remonta à desmutualização das bolsas, resultando na criação da BM&FBovespa em 2008. As corretoras associadas à BM&F e à Bovespa tiveram seus títulos patrimoniais trocados por ações da nova bolsa e a Receita entendeu que deveria cobrar impostos sobre a transação.

A Ancord aponta que os custos regulatórios pesam muito, em especial para corretoras menores. Segundo Villares, há estudos para evitar a sobreposição de exigências por parte dos reguladores do segmento como Bolsa, Cetip, Anbima e a própria associação. A ideia é dividir a fiscalização entre eles.

Outra iniciativa para reduzir custos é o compartilhamento de infraestrutura e serviços comuns. Segundo Villares, há quatro corretoras no projeto, entre elas a Planner e a Concórdia, em que atua. A expectativa é de um corte de 20% nos gastos em um primeiro momento.

Consolidação

Diante desse cenário, cresce a tendência de consolidação do segmento no País. A PwC contou dez operações de fusão e aquisição de corretoras em 2014 e seis em 2015. No fim do ano passado foram anunciadas operações entre Talarico e Planner, XP e Um Investimentos e WinTrade e Brasil Plural.

“Acreditamos em novos movimentos até por uma questão de sobrevivência das empresas. Esperamos entre seis e dez operações em 2016”, diz Alessandro Ribeiro, sócio da área de fusões e aquisições da PwC.

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