As usinas de açúcar e etanol do país devem encerrar esta safra, a 2014/2015 (de abril a março), devendo 110% de seu faturamento, de acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica). A receita para o ciclo é estimado em cerca de R$ 70 bilhões. "As empresas vão fechar a safra devendo em torno de R$ 77 bilhões", disse ao jornal O Estado de S. Paulo Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Única.
Altamente endividadas, como reflexo dos investimentos em expansão de novas unidades, sobretudo entre 2003 e 2008, quando o consumo de etanol no mercado interno foi impulsionado pelos carros flex (que usam etanol e gasolina), as usinas continuaram tomando dívida para renovação de seus canaviais, mecanização da colheita de cana, afirmaram especialistas do setor.
A crise do setor começou a se agravar a partir de 2009, o que gerou uma onda de consolidação, com forte entrada de grupos estrangeiros, a exemplo da francesa Louis Dreyfus, dona da Biosev, e a indiana Shree Runuka. Esses dois grupos também estão com alto grau de alavancagem. Aliada à má gestão de uma boa parte das empresas, o não reajuste dos preços da gasolina, que tirou a competitividade do etanol, afetou grande parte das usinas. Neste ano, a queda dos preços do açúcar piorou a situação das empresas.
Levantamento feito pelo banco Itaú BBA mostra que na safra passada, a 2013/2014, a dívida líquida de 65 grupos, que responderam pela moagem de 428 milhões de toneladas de cana (72% do total), atinge R$ 45 bilhões. Esse valor cresceu 15% sobre o ciclo anterior e deverá ser entre 8% e 10% maior nesta safra, afirmou Alexandre Figliolino, diretor do banco. O executivo divulgará esses dados hoje durante a conferência anual da consultoria Datagro.
"A dívida do setor até a safra 2013/2014 cresceu 19 vezes, se comparada com o ciclo 2002/2003", disse.
Os dados do banco contemplam as usinas do Centro-Sul, com base em 65 grupos sobre os quais o Itaú BBA teve acesso aos dados. Além do Itaú, os bancos Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES estão entre os maiores credores das usinas.
Fim da safra
Segundo Rodrigues, da Unica, há cerca de 375 usinas em operação este ano. De acordo com ele, 30 unidades correm o risco de não voltarem a moer no ano que vem por causa do alto endividamento. Quase 70 usinas pararam suas atividades desde 2008 e outras cerca de 70 estão em recuperação judicial.
Levantamento da Unica mostra que a colheita no Centro-Sul deve ficar entre 545 milhões a 550 milhões de toneladas, 40 milhões de toneladas a menos que o previsto inicialmente por causa da seca, sobretudo em São Paulo e Minas. O Nordeste deve colher entre 55 milhões a 60 milhões de toneladas. Já a consultoria Datagro prevê moagem de 550,2 milhões de toneladas de cana na safra 2014/15. Para o ciclo 2015/16, a estimativa fica entre 520 milhões a 560 milhões.
Até 30 de setembro, 10 usinas tinham encerrado a moagem por falta de matéria-prima. No mesmo período de 2013, duas tinham encerrado os trabalhos.
"O setor enfrentará uma das piores entressafras da história, com a antecipação do fim da moagem e falta de produto para comercializar durante esse período", disse Figliolino.
O Grupo Virgolino de Oliveira (GVO), com quatro usinas no Centro-Sul, confirmou no domingo, conforme antecipou o Estado, que contratou o banco Moelis para renegociar suas dívidas, sobretudo bonds (títulos da dívida). Sua dívida externa soma cerca de US$ 735 milhões. "Outras companhias, como Aralco (em recuperação judicial), Tonon Bionergia e Usina São João (USJ) estariam renegociando bonds", afirmou uma fonte. Procurada, a USJ diz que não está renegociando títulos, cujos vencimentos são de longo prazo. Tonon e Aralco não retornaram os pedidos de entrevista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.