Telão na BM&FBovespa exibe lances vencedores: operadoras tradicionais ficaram para trás| Foto: Yasuyoshi Chiba/ AFP

Desconfiança

Lance "chapa-branca" surpreende

Das agências

Em frente à BM&FBovespa, pouco mais de 30 pessoas, com bandeiras da CUT, protestaram ontem contra a privatização dos três aeroportos. Curiosamente, o consórcio que conquistou a concessão de Guarulhos é formado por fundos de pensão de categorias historicamente ligadas à central sindical: petroleiros e bancários. A Invepar, que detém 90% do consórcio, é dividida entre os fundos de previdência dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), da Caixa (Funcef), e da Petrobras (Petros). A construtora OAS tem 20% da Invepar.

Quando foram anunciadas as concorrentes que estavam fora da segunda fase, o salão da Bovespa começou a esvaziar. Nos painéis eletrônicos, o valor destas ações começava a subir, enquanto faziam o caminho inverso o preço das ações das companhias que ainda estavam no páreo.

Equação

Nas rodinhas entre executivos que participaram do leilão, a aposta era descobrir como o consórcio conseguiu fazer uma proposta tão alta por Guarulhos. E não faltaram insinuações como: "é um consórcio ‘chapa-branca’" ou "ficou dentro de casa", uma referência ao fato de o consórcio ser controlado por fundos de pensão de estatais.

Advogados que estudaram os três aeroportos não conseguiram encontrar a equação financeira do grupo e acreditam que o retorno do investimento não supere 4%. O presidente da Invepar, Gustavo Rocha, mostrou-se bastante satisfeito com o resultado e revelou que espera elevar de forma significativa o volume de receitas não tarifárias do aeroporto. "Há uma carência muito grande de serviços nos terminais." Segundo ele, o lance foi feito com base em oito meses de estudo. "Para entrar numa disputa como essa, tínhamos de estar muito seguros. Vamos entregar o que se espera para o acionista e para os passageiros."

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Os consórcios vencedores dos aeroportos de Guarulhos, Cam­­pinas e Brasília são antigos co­­nhecidos do setor de infraestrutura. Detêm concessões rodoviárias, portuárias e de transporte ur­­bano. As operadoras estrangeiras, presença exigida pelo edital de licitação, atuam em países como Argentina e no continente africano.As grandes operadoras da Europa, como a alemã Fraport, a espanhola Aena e a suíça Zürich, conhecidas pela qualidade dos serviços, não conseguiram ir adiante no leilão. De qualquer forma, o governo acredita que os aeroportos ficarão em boas mãos.

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"Não temos nenhuma sinalização de que as operadoras que participam dos consórcios vencedores não tenham condição de atender às necessidades dos aeroportos brasileiros", destacou o ministro-chefe da Secre­­taria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt. Se­­gundo ele, o fato de serem de países emergentes não as desqualifica. "Teremos de parar com esse complexo de vira-lata."

Desistência

As maiores construtoras do país – Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e Queiroz Galvão – participaram do leilão em parceria com operadores dos melhores aeroportos do mundo. Elas e seus parceiros consideraram o ágio elevado demais para garantir retorno sobre o investimento no prazo da concessão.

Para Guarulhos, vendido por R$ 16,2 bilhões, elas chegariam a, no máximo, R$ 10 bilhões com chance de retorno sobre o investimento. Um dos desistentes afirmou que, pelas simulações, teria de abrir mão de lucros para cobrir a proposta vencedora em Guarulhos. Ainda segundo ele, com a receita obtida, daria para pagar impostos, no máximo.

Outra evidência dessa suposta distorção foi a relação entre o valor a ser pago pela outorga ao longo dos anos e a receita do aeroporto. Em 2011, a receita bruta de Guarulhos foi de R$ 1 bilhão. Somente para pagar a concessão, durante o prazo de 20 anos, o consórcio vencedor desembolsará, em média, R$ 810 milhões por ano. Isso sem contar o pagamento de impostos, encargos, os custos operacionais e os investimentos que terão de ser feitos ao longo dos anos.

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O governo não só se surpreendeu com o resultado do leilão dos aeroportos como já prevê arrecadar no início do ano que vem pelo menos R$ 1,3 bilhão com as concessões. Os recursos contribuirão para engordar o superávit primário de 2013. Com a concessão, o governo passou a garantir receita extra de, ao menos, R$ 1 bilhão por 20 a 30 anos.