Se, por um lado, analistas afirmam que a greve na Petrobras pode afetar os planos de reestruturação da empresa para ganhar caixa e reduzir o endividamento no longo prazo, por outro, há economistas que consideram que a venda de ativos no Brasil significaria perdas para a estatal.
A paralisação, que nesta quinta-feira (5) chegou ao seu oitavo dia, afetou as operações de 13 estados, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), incluindo o Paraná, que abriga a Refinaria Presidente Getulio Vargas (Repar), em Araucária. E entre as principais reivindicações estão exatamente a venda dos ativos. Estimativas do JP Morgan apontam que a empresa precisará de US$ 79 bilhões para diminuir o seu endividamento de 2016 a 2019.
O coordenador do MBA Executivo em Negócios de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Fesp, Leonardo Caio, avalia que a desvalorização do real frente ao dólar e a queda dos preços da commoditie no mercado internacional são fatores que pesam para possíveis perdas nas negociações. “Há uma redução geral do valor de todas petroleiras no mundo, que aliada a uma desvalorização cambial faz com que o capital estrangeiro encontre a oportunidade de comprar ativos muito baratos”, argumenta ele.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adilson de Oliveira reforça que caso a paralisação termine ainda neste mês, o abastecimento não será afetado. Entretanto, se ultrapassar os três meses, ela pode afetar a produção para o ano que vem. “Neste caso, a greve poderá ter um efeito financeiro importante para a empresa, principalmente neste momento de recuperação da situação financeira.”
Conforme nota divulgada na noite de quarta (4), a produção da Petrobras caiu em 318 mil barris nos dias 3 e 4 deste mês, o que representa uma perda de US$ 23 milhões. Caio estima que a fabricante tenha estoques suficientes para abastecer o mercado interno por até um mês, mas o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) declarou que as distribuidoras “podem ter problemas” já a partir do meio da semana que vem.
Preocupação
Para o mercado, porém, a mobilização dos funcionários gera preocupações quanto à saúde financeira da empresa. Em um relatório divulgado pelo HSBC na última quarta, o banco informou que a greve dificulta a venda de ativos e a capacidade de financiamento da Petrobras.
Na opinião dos economistas, uma alternativa para resolver esse impasse e ao mesmo tempo capitalizar a petroleira é negociar as unidades que estão fora do Brasil. “A empresa poderia se desfazer desses ativos para ir a um caixa positivo, já que o dólar está mais valorizado que o real, o que aumentaria a entrada de divisas”, considera Caio.