A Venezuela tirou das mãos das maiores petroleiras do mundo o controle operacional de projetos de petróleo na região do Orinoco nesta terça-feira, num passo crucial para a nacionalização promovida pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
A tomada de poder em 1º de maio ocorreu exatamente um ano após o presidente da Bolívia, Evo Morales, um esquerdista aliado de Chávez, ter surpreendido os investidores ao ordenar que soldados cercassem campos de gás, acelerando os esforços da América Latina para reclamar seus recursos naturais.
"A importância disso é que estamos retomando o controle do Orinoco, que o presidente chama, de modo adequado, da maior reserva de petróleo do mundo", disse o líder sindicalista Marco Ojeda antes da manifestação agendada para comemorar a transferência.
Os quatro campos de petróleo estão avaliados em mais de 30 bilhões de dólares e podem converter diariamente cerca de 600 mil barris de petróleo pesado em produto sintético.
As companhias norte-americanas ConocoPhillips, Chevron, Exxon Mobil, a britânica BP, a norueguesa Statoil e a francesa Total concordaram em obedecer ao decreto que transfere o controle operacional nesta terça-feira, embora o país-membro da OPEP tenha reclamado que a ConocoPhillips mostrou certa resistência.
Em Puerto Piritu, próximo às unidades que refinam petróleo do Orinoco, trabalhadores se preparavam logo cedo para comemorar a transferência, agitando bandeiras com as cores vermelho, azul e amarelo, da Venezuela, e pintando uma parede com o slogan de Chávez: "Pátria, Socialismo ou Morte."
O líder anti-EUA também estava de bom humor antes da manifestação para comemorar o que ele chamou de fim de uma era de políticas prescritas pelos EUA que abriram a maior reserva de petróleo do hemisfério ao investimento estrangeiro.
"O investimento privado nunca mais voltará", disse ele na segunda-feira para milhares de trabalhadores, vestido de vermelho, marca de sua revolução esquerdista, durante uma manifestação pelos direitos dos trabalhadores.
"Estamos acabando com a era dos investimentos privados e enterrando-a nas reservas de petróleo de Orinoco", disse.
Aproveitando-se dos altos preços do petróleo, no quinto maior exportador do produto para os Estados Unidos, Chávez é popular entre a maioria pobre do país por gastar livremente em escolas, hospitais e distribuição de alimentos.
O homem que chama o líder cubano Fidel Castro de mentor, jurou assumir pelo menos 60 por cento dos campos, radicalizando suas políticas ao governar por decretos e politizar o exército, a petroleira estatal e o judiciário.
Ele também está nacionalizando em ritmo acelerado as empresas energéticas e a maior companhia telefônica do país.
Negociações duras
No caso do petróleo, as companhias concordaram em entregar o controle operacional, mas ainda discutem a participação acionária e as compensações em negociações às vezes controversas, que têm prazo para terminar no próximo mês.
Apesar de ser a única empresa que se recusou a assinar um acordo na semana passada sobre a nacionalização, a ConocoPhillips disse que colaborou na terça-feira para "assegurar uma transferência segura e ordenada das operações."
O ministro do Petróleo, Rafael Ramirez, disse que pode não haver compensações em alguns casos e que a Venezuela só considerará fazer negócio sobre o valor contábil dos projetos, e não em seu valor líquido, muito mais alto.
Embora a Venezuela afirme produzir mais de 3 milhões de barris por dia, analistas acreditam que a produção fique em 2,6 milhões de barris diários. Dados dos EUA consideram o país como o oitavo maior exportador mundial.
Analistas da indústria temem que a PDVSA, a petroleira estatal venezuelana, possa ter problemas de produção e segurança quando perder a tecnologia e o gerenciamento das grandes e experientes petroleiras.
Enquanto reduz o papel das companhias privadas, Chávez tem criado joint ventures com aliados como a China, a Bielorrússia e o Irã, envolvendo várias entidades estatais que não estão familiarizadas com a produção de petróleo.
Ainda assim, Chávez considerou a tomada de poder de terça-feira como a reclamação de soberania pelo país sul-americano.
"A roda fez uma volta completa", disse ele. "Vida longa à PDVSA, vida longa aos trabalhadores da PDVSA."