Levantamento realizado com dados do Censo Escolar 2013 mostra que dos 2,3 milhões de alunos que frequentavam o ensino médio noturno no Brasil momento da pesquisa, 40% não trabalhavam. O dado chama à atenção já que a oferta de vagas à noite tem por objetivo atender exatamente a essa demanda. De acordo com o Censo, a maior parte deles era de baixo nível socioeconômico e mais da metade (56,4%) com idade entre 18 e 21 anos.
A constatação preocupa porque a qualidade do ensino médio noturno deixa bastante a desejar. Dados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2013 mostram que esses alunos tiveram notas menores nas provas oficiais em relação aos que frequentam as aulas durante o dia - menos 26 pontos em Português e 22 pontos em Matemática, resultados que se mantiveram praticamente estáveis desde 2003.
As causas pelas quais os alunos acabam estudando à noite, mesmo sem trabalhar, são inúmeras. Mas, de acordo com o Instituto Unibanco, responsável pelo recorte de informações a partir do Censo Escolar 2013, isso acontece principalmente pela falta de vagas na rede pública no período diurno.
Resultados preliminares de outro estudo, realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) nos estados do Ceará, Goiás, Pernambuco e São Paulo, dão outras pistas dos motivos pelos quais os alunos acabam por estudar à noite e amargam péssimos resultados. Segundo o Cenpe, os cursos noturnos acabam sendo a última opção de famílias que não têm outras instituições próximas às suas casas com vagas diurnas. Por outro lado, o fato de que professores com melhor qualificação prefiram trabalhar durante o dia, em melhores condições de infraestrutura e salários, faz com que a educação noturna tenda a ser de menor qualidade.
Desigualdade social
Ainda que no Brasil tenha aumentado a quantidade de alunos que terminam o Ensino Médio, passando de 41,4% das pessoas de até 19 anos em 2005 para 56,7% em 2014, segundo dados do Todos pela Educação, as desigualdades sociais – como a falta de vagas no Ensino Médio diurno – continuam prejudicando os mais pobres.
A diferença dos concluintes do ensino médio entre os 25% mais ricos e os 25% mais pobres foi de 48,1 pontos percentuais em 2014, um índice alto ainda que tenha caído em relação a 2005, quando era de 62,4 pontos. No período de 2005 a 2014, mesmo que a taxa de conclusão no ensino médio dos 25% mais pobres dobrasse, ela não alcançaria o nível da faixa mais rica.