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Letícia* chegou a tirar 1 na prova e ir com 7 no boletim | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Letícia* chegou a tirar 1 na prova e ir com 7 no boletim| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

"Empurra" atinge também o ensino público

Nas escolas públicas, ao mesmo tempo em que se tenta superar os índices de reprovação, há uma sensação comum entre educadores de que os estudantes são empurrados para as séries seguintes mesmo sem estarem aptos.

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Para não repetir o ano letivo, vale tudo no último bimestre. Apelar para muitos trabalhos extras, entrar com recurso para cancelar a reprovação e mudar no último mês de aula para uma escola menos exigente. Nas escolas públicas, os professores e diretores são orientados a não ultrapassar o limite de 25% de reprovação. Caso contrário, a escola entra para um programa chamado Superação, da Secretaria de Estado da Educação, que fornece apoio estrutural – o que mostra o fraco desempenho da escola. Desde 2007 até hoje, são 214 escolas participantes – 10% do total.

A jovem Letícia*, que estudava em escola pública e repetiu o 3º ano do ensino médio em 2006, começou a trabalhar e se matriculou em uma escola particular, mas achou muito puxado. "Estava cansada de ficar no ensino médio e a escola era forte." Para conseguir terminar os estudos, pensou em mudar de colégio. A indicação para um novo veio do tio, cuja esposa concluiu o ensino médio em um ano.

A menina afirma que negociou com o proprietário do colégio e concluiu o terceiro ano do ensino médio em três meses. A presença foi obrigatória apenas nas três semanas de prova. O problema é que ela foi apenas na metade delas. "Tinha vezes que eu tirava 1 na prova e depois aparecia no meu boletim 6, 7", conta.

Letícia prestou vestibular em duas faculdades, foi aprovada nas duas e a documentação do colégio foi aceita. O primeiro curso foi Psicologia, mas a mensalidade alta impediu a matrícula. O curso de Pedagogia foi escolhido pelo valor mais baixo. Ela freqüentou a faculdade por seis meses, mas não gostou. "Não me arrependo do que fiz, apesar de saber que foi errado. No ano que vem vou fazer cursinho de volta e me dedicar."

Em Curitiba, a Gazeta do Povo encontrou duas escolas que aceitam alunos no fim do ano letivo e que seriam procurados por alunos em situação ruim, o Colégio Expert e o Dimensão.

O diretor do Colégio Dimensão, Fábio Cortez, diz que a política da escola nem sempre é bem compreendida. "Temos uma visão pedagógica de sempre ajudar o aluno. Se ele tira uma nota baixa, anulamos aquela nota e fazemos uma nova avaliação. Somos uma instituição inclusiva e às vezes as pessoas não entendem isso", diz. Cortez explica que, se o estudante vai mal, uma nova prova é remarcada dali a 20 dias. Caso não tenha um desempenho suficiente na segunda prova, há a opção de fazer um trabalho. "Sabemos como uma reprovação pode ser perigosa para o aluno."

Para a pedagoga Patrícia Ferreira Ribas, não há como medir se a reprovação é positiva ou negativa. Quando o estudante fica com lacunas no aprendizado, mas se motiva para estudar no ano seguinte, a repetição pode ter um efeito positivo. Mas há alunos que têm baixa auto-estima. "Alguns ficam com o estigma de burros. Aí, ir mal na escola pode ser o que faltava para uma depressão", explica Patrícia. "Os pais devem ficar atentos e saber que os filhos precisam de ajuda de psicólogos e psicopedagogos. É difícil dar a volta por cima sozinho e isso pode gerar marcas para toda vida."

Lado positivo

A tática de mudar de escola também é usada por alunos que têm dificuldade de aprendizagem. No colégio Expert, a diretora de ensino, Tânia Aparecida, diz que há um maior fluxo de estudantes do terceiro bimestre em diante. Mas se por um lado há quem queira aprovação fácil, por outro existem alunos que não se adaptaram nas escolas anteriores e isso se refletiu no boletim. "Alguns alunos reclamam dos antigos colégios devido ao grande número de pessoas dentro das salas de aula. Algumas chegam a ter mais de 150 jovens", diz. Tânia afirma que não há espaço para interação com os professores e para tirar dúvidas. "Há casos em que o professor tirou sarro de um aluno, que nunca mais perguntou nada. Aqui há menos alunos e mais espaço para diálogo."

A aluna do segundo ano do Colégio Expert Laura* veio de outra escola. Quando chegou no 4º bimestre, viu que não conseguiria passar e mudou de ano. Mesmo com a ajuda de professores particulares ela não conseguia acompanhar os colegas. "Agora tenho mais chances de passar, porque o pessoal da escola sabe das minhas dificuldades e recebo mais apoio dentro da sala."

*nomes fictícios

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