Um indicador educacional criado em outubro pelo Centro de Liderança Pública mostra que há mais chances de se obter boas oportunidades de aprendizado longe dos grandes centros urbanos brasileiros. Contrariando o que a maioria das famílias brasileiras supõe – que as melhores escolas e profissionais estão nas grandes cidades –, o Índice de Oportunidades da Educação Brasileira (IOEB) aponta que os pequenos municípios conseguem proporcionar melhores condições de educação para suas crianças e adolescentes.
Avaliação
A escala utilizada pelo IOEB vai de 0 a 10. A nota média do Brasil é de 4,5. Entre os dez municípios brasileiros mais bem avaliados pelo índice, todos possuem menos de 150 mil habitantes. Entre os grandes centros, São Paulo é a primeira capital a aparecer, na 1.387.ª posição, com nota 4,8.
Conforme o IOEB, no Paraná, o município que oferece as melhores oportunidades educacionais é Bom Sucesso do Sul, com 3,2 mil habitantes. A pequena cidade localizada na região Sudoeste aparece com 5,8 pontos, de 10 possíveis.
Compõem ainda o pódio paranaense Sertaneja, em segundo lugar, com 5,5 pontos; e Bom Jesus do Sul, com 5,4. No top 10 estadual, só há municípios com menos de 50 mil habitantes – Medianeira é o mais populoso, com pouco mais de 40 mil. Curitiba aparece em 160.º lugar, com 4,8. No ranking nacional, a capital ocupa a posição 1.600.
Para chegar a esse resultado, o IOEB considerou diversos indicadores já existentes, divididos em duas categorias: os de resultado (que mensuram os resultados obtidos pelo processo educacional) e os de insumo (que avaliam as condições em que esse processo se dá).
O primeiro grupo de indicadores é composto pelo Ideb dos anos iniciais e finais do ensino fundamental e pelo número de alunos matriculados no ensino médio em idade adequada. O segundo inclui a oferta de vagas na educação infantil, jornada escolar, escolaridade dos professores e experiência de diretores. O cálculo ainda considerou a formação dos pais.
Na avaliação da pedagoga Liliamar Hoça, professora da Universidade Positivo, a forma como o índice foi construído é problemática. Segundo ela, a experiência dos diretores, por exemplo, avaliada a partir do tempo no cargo, não diz muito sobre a qualidade da gestão.
Na avaliação da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba (SMS), o índice não é um mecanismo pedagogicamente produtivo . “O IOEB não fornece informações regionalizadas, e em uma cidade do tamanho de Curitiba são necessários projetos que considerem as potencialidades e fragilidades de cada região, de escola para escola. Os desafios da rede municipal são diferentes dos da rede estadual”, explicou Letícia de Mara Meira, diretora do Departamento de Ensino Fundamental da SMS. Para ela, um indicador como o Ideb, do qual se extraem microdados de todas as unidades de ensino, atende melhor às necessidades pedagógicas do município e do estado.
Campeões do IOEB têm rede enxuta
Qual é a receita das pequenas cidades para criar as melhores oportunidades educacionais? A diretora municipal de educação de Bom Sucesso do Sul, Cleudete Nicelle, acredita que a fórmula seja um corpo docente especializado e bem remunerado – todos os professores da rede municipal recebem uma bonificação de 40% como forma de incentivo para continuar estudando. “Apenas um dos professores do nosso corpo docente não tem especialização”, disse.
Mas a diretora reconhece que o tamanho diminuto da cidade contribui: com uma média de 45 nascimentos por ano, a rede municipal consegue oferecer todas as vagas necessárias. Hoje, Bom Sucesso do Sul conta com 23 professores e duas escolas na rede municipal para atender a 320 alunos. Já a rede estadual é composta por uma escola, 33 docentes e 298 estudantes.
O mesmo acontece em Sertaneja. Somando rede municipal e estadual, a cidade de 5,8 mil habitantes possui pouco mais de 1,3 mil alunos matriculados em dez escolas (sete do município e três do estado). De acordo com o secretário municipal da educação, Dennys Dias, a pasta consegue realizar avaliações pedagógicas periódicas e investir na formação continuada do corpo docente – dos 76 professores concursados do município, apenas quatro não possuem especialização.
De acordo com Luana Tavares, diretora executiva do Centro de Liderança Pública, entidade que desenvolveu o índice, o IOEB não mostra “quais são as cidades que possuem o melhor ensino”, mas sim quais, considerando a capacidade do gestor público, fazem mais pela educação em sua localidade.
“Em municípios pequenos é mais fácil unificar e universalizar boas práticas e políticas públicas de educação com um pouco de investimento. Nas grandes cidades padronizar essas estratégias e fazer com que elas cheguem a toda a população é um desafio maior”, pondera Reynaldo Fernandes, criador do IOEB.
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