A professora Rosa, do colégio Dom Bosco: “Não temos tanta produção nacional assim"| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Entrevista: "Não basta apenas passar o filme"

Para o doutor em Comunicação e professor de História do Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Renato Luiz Pucci Júnior, a proposta do cinema obrigatório nas escolas tanto agrada como traz preocupações.

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Entrevista: "Criamos a lei e a estrutura aparece"

Conhecido por ser um político engajado nas causas educacionais, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) já foi ministro da Educação na primeira gestão do presidente Lula. Atualmente é membro da Comissão de Educação e Cultura do Senado Federal.

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A exibição de filmes nacionais em todas as escolas brasileiras, públicas e privadas, que atendem crianças e jovens, com idades entre 4 e 18 anos, pode se tornar obrigatória. O Projeto de Lei 185/2008, de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) em tramitação no Senado Federal prevê a exibição de no mínimo duas horas mensais de filmes de produção nacional. A obrigatoriedade é apresentada como componente curricular da educação infantil, ensino fundamental e médio.

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A proposta segue em caráter conclusivo na Comissão de Educação, Esportes e Cultura do Senado e pode ser aprovada nas próximas semanas, sem necessidade de passar por votação em plenário. Depois segue para a aprovação na Câmara dos Deputados.

De acordo com Buarque, a ideia é que crianças e adolescentes em idade escolar tenham acesso ao cinema. Para o senador, o ideal seria que as escolas fossem palcos de outras manifestações artísticas. "Se pudesse ter uma orquestra sinfônica ou teatro em todas as escolas seria ótimo. Mas é muito caro. O cinema é barato porque pode ser passado até pelo DVD", diz.

Com cuidado

A ideia de usar o cinema nas escolas não é nova. O uso de filmes como recurso pedagógico ocorreu desde a disseminação do videocassete doméstico, no fim da década de 80. A tecnologia desenvolveu, veio o DVD e projetores digitais, que hoje são comuns em escolas particulares. Nas escolas da rede pública o mais comum é a presença da televisão em sala de aula.

Mesmo assim, a proposta do senador é analisada com cuidado pelos educadores. Há mais de 20 anos atuando como professora de Literatura, Rosa Loberto Costa diz que sempre usou o recurso em sala de aula. "É muito bom fazer o contraponto entre o filme e a obra literária", afirma. Atual­mente Rosa ministra aulas no colégio Dom Bosco, em Curitiba, e ressalta que a exigência de duas horas é um certo exagero. "Não temos tanta produção nacional assim, principalmente para o público infantil. Mesmo com os adolescentes temos de trabalhar com recortes, devido ao excesso de sensualidade", afirma.

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O doutor em Comunicação e professor de História do Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Renato Luiz Pucci Júnior questiona se todas as escolas brasileiras terão condições técnicas de exibir filmes. "Passo muito filme em sala de aula e é preciso ter uma estrutura mínima. Em classes grandes não há como exibir o filme numa tevê pequena. É necessário um mínimo de qualidade técnica para exibição. Talvez pudesse ser adotado como algo optativo, dependendo das condições de cada escola", opina.

A diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal da Educa­ção, Nara Luz Salamunes, ressalta que o filme não deve ser usado pela escola sem ter um cunho didático-pedagógico. "Não dá para ver o filme em aula só por divertimento. A obrigatoriedade não deveria tomar o horário da escola, que já é muito curto. Poderia entrar como atividade complementar no contraturno", diz.

Mudança

Um dado curioso em torno da matéria é que a relatora do projeto, senadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) mudou de opinião com relação à proposta justamente na época da estreia do filme Lula, o Filho do Brasil, em novembro do ano passado.

Primeiro a relatora indicou a rejeição da proposta e depois voltou atrás, sugerindo a aprovação. De acordo com a assessoria de imprensa da senadora, a alteração na relatoria do projeto foi feita em maio de 2008, mas só passou pela votação da Comissão no fim do ano. A assessoria ainda esclarece que a mudança ocorreu após convencimento da relatora por parte do autor do projeto. Já o senador Buarque ressalta que não há sentido em levantar tal polêmica. "A relatora é do DEM, partido de oposição ao governo. Pra que ela ia tentar passar uma lei que beneficia o Lula? Quando esta lei passar pela Câmara e for para a sanção do presidente, provavelmente já não seja mais o Lula", afirma.

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