Em escolas públicas e privadas, muitas salas de aula viraram espaços de conflitos. Professores não sabem o que fazer com a “indisciplina” dos alunos; jovens se incomodam com o “autoritarismo” dos mestres. Não há solução mágica para este impasse; mas um grupo de educadores aposta em desenvolver as “competências socioemocionais” do aluno. Seria uma forma de controlar a indisciplina, aumentar o interesse dos alunos na escola e formá-los para uma “educação do século 21”.
A ideia não é ensinar o aluno qual a melhor forma de agir em cada situação, como em uma cartilha. Mas capacitá-lo para articular esses conhecimentos e beneficiar a si mesmo e a comunidade em seu entorno. “No século 21 não é mais possível que a escola pense apenas no aspecto cognitivo. Os conteúdos das disciplinas são importantes, mas não suficientes para viver hoje. Os futuros profissionais, cidadãos, precisam de um conjunto de competências muito mais complexo do que o conteúdo de uma disciplina”, diz Simone André, coordenadora de educação complementar do Instituto Ayrton Senna.
O instituto liderou debates sobre o tema junto ao Ministério da Educação (MEC), em uma série de eventos realizados em 2014, e se dedica a estudar o tema desde 2012, quando estabeleceu um termo de cooperação com o Centro para Pesquisa e Inovação Educacional (Ceri), da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A organização lista cinco competências socioemocionais que devem ser incentivadas, na escola: responsabilidade, colaboração, comunicação, criatividade, autocontrole e abertura. Todas passam por uma flexibilização da relação entre professor e aluno. Para aprender a ser mais comunicativo, o aluno precisa de espaço para falar e ser ouvido.
O desenvolvimento socioemocional pode alavancar resultados do ponto de vista cognitivo. O aluno aprende a ser mais crítico e determinado, e leva isso para sua rotina de estudos, aprendendo mais. A facilidade em se comunicar aumenta a chance de fazer uma pergunta para o professor.
Também é uma forma de democratizar a escola, diz a coordenadora do Instituto Ayrton Senna. Isso porque a escolaridade dos pais, que em geral puxa para baixo o desempenho cognitivo dos alunos, parece não interferir tanto no quesito socioemocional.