Apaixonado, justiceiro e cheio de ideias. Esse seria o resumo rápido do perfil de um adolescente, um período desafiador para os pais. Apesar de a inteligência já estar pronta em termos neurológicos a partir dos 14 anos, a força dos hormônios e a falta de experiência fazem com que os jovens tenham uma grande emotividade, por vezes com gestos descontrolados. Mas tudo isso faz parte dessa etapa e os pais precisam estar atentos para compreender e ajudar.
Essa tarefa paterna começa antes das crises, com o costume de conversar com os filhos de forma natural, com frequência e serenidade, sobre os fatos do dia a dia. “A formação continuada consiste em fazer o jovem pensar a partir dos acontecimentos da família, dos amigos, das notícias. O melhor momento para dialogar é quando os adolescentes estão calmos, estáveis”, explica a psicóloga Lélia Cristina de Melo, diretora de Desenvolvimento Humano do Colégio do Bosque/Mananciais.
Como a maturidade é a capacidade de pensar associada à experiência, e falta vivência aos jovens, em geral, eles têm movimentos imaturos e teóricos. “O jovem levanta as bandeiras, ele é contra ou a favor de algo, com veemência, de uma maneira apaixonada, com dificuldade de ver os matizes. Mas é nessa hora que chega o educador, o pai, a mãe, o professor”, explica Lélia.
O adulto deve funcionar como um “eu auxiliar”, dando argumentos inteligentes, recursos intelectuais e critérios para que ele chegue a fundo nas questões. Mas isso não pode ser feito de maneira fria, é preciso conquistar o coração. “É necessário conjugar racionalidade com sensibilidade, mostrar o caminho com jeito, com carinho; eles têm de saber que os pais acreditam e apostam neles”, completa Lélia.
É muito importante que o jovem conteste porque ele precisa que o ‘eu’ dele seja considerado, construído. Algumas opiniões vão estar muito adequadas e outras não, porque o adolescente não está maduro. Os pais não precisam bater de frente, mas ir acompanhando. “Os pais não devem estranhar a contestação. Um adolescente que não questiona nada, que concorda com tudo, que segue aceitando as normas como acontecia na infância, é sinal de que alguma coisa não está dentro do esperado nesta fase do desenvolvimento”, alerta a psicóloga Clarisse Pereira Mosmann, professora e pesquisadora da Unisinos.
Regras e punições
Cada família deve ter regras e consequências claras caso essas normas não sejam obedecidas. Esse cenário dá segurança ao jovem, mesmo que ele não admita isso. Ele percebe – às vezes apenas de forma inconsciente, mas muitas vezes conscientemente – que é importante para seus pais e irmãos.
As punições devem ser efetivadas e factíveis. “Não adianta dizer que o jovem vai ficar um mês sem o computador quando isso não vai acontecer. O adolescente sabe disso e acaba por não levar aquilo a sério. Agora, deixar dois dias sem o celular ou outra atitude que seja importante para eles pode ser uma opção. O que importa é fazer o que foi prometido, do contrário os pais perdem a credibilidade”, diz Clarisse.
A desobediência, uma das maiores reclamações dos pais, se dá precisamente pela falta de firmeza de quem deveria exigir deles para serem melhores. “Na realidade, é comum ver pais frouxos, dando muita abertura. Com isso, ficam sem autoridade e o filho faz o que quer, não estuda, é preguiçoso, é relaxado, não conversa direito, é mal-educado, fica muito tempo nas redes sociais, não tem ‘autodelimitação’. Na verdade, para evitar danos, os pais têm de dizer muitos ‘nãos’. E, no futuro, os filhos reconhecem e agradecem”, garante Lélia.