Apaixonado, justiceiro e cheio de ideias. Esse seria o resumo rápido do perfil de um adolescente, um período desafiador para os pais. Apesar de a inteligência já estar pronta em termos neurológicos a partir dos 14 anos, a força dos hormônios e a falta de experiência fazem com que os jovens tenham uma grande emotividade, por vezes com gestos descontrolados. Mas tudo isso faz parte dessa etapa e os pais precisam estar atentos para compreender e ajudar.
Essa tarefa paterna começa antes das crises, com o costume de conversar com os filhos de forma natural, com frequência e serenidade, sobre os fatos do dia a dia. “A formação continuada consiste em fazer o jovem pensar a partir dos acontecimentos da família, dos amigos, das notícias. O melhor momento para dialogar é quando os adolescentes estão calmos, estáveis”, explica a psicóloga Lélia Cristina de Melo, diretora de Desenvolvimento Humano do Colégio do Bosque/Mananciais.
Como a maturidade é a capacidade de pensar associada à experiência, e falta vivência aos jovens, em geral, eles têm movimentos imaturos e teóricos. “O jovem levanta as bandeiras, ele é contra ou a favor de algo, com veemência, de uma maneira apaixonada, com dificuldade de ver os matizes. Mas é nessa hora que chega o educador, o pai, a mãe, o professor”, explica Lélia.
O adulto deve funcionar como um “eu auxiliar”, dando argumentos inteligentes, recursos intelectuais e critérios para que ele chegue a fundo nas questões. Mas isso não pode ser feito de maneira fria, é preciso conquistar o coração. “É necessário conjugar racionalidade com sensibilidade, mostrar o caminho com jeito, com carinho; eles têm de saber que os pais acreditam e apostam neles”, completa Lélia.
Na batalha de todo o dia
Muita conversa, regras bem definidas e momentos alegres em família. Com a ajuda de orientadores do colégio, quando é necessário. Essa é a fórmula adotada por Gislaine Heurich Biachi e José Francisco Bianchi na educação do filho Giovanni, de 15 anos. E tem dado certo: nem tudo é perfeito, claro, mas a família é conhecida entre os professores e amigos como um exemplo bem-sucedido. “Procuramos passar os princípios que aprendemos e a escola ajuda bastante também”, afirma Gislaine. Ela relata que, como ele é o terceiro filho, isso facilita. E também o costume de dialogar sobre tudo em casa. “Uma vez a minha filha do meio me disse que queria contar uma coisa que eu não ia gostar e conversamos muito sobre aquilo. Procuramos dar essa abertura, falhamos, mas o importante é sempre estar ao lado”, acredita.
É muito importante que o jovem conteste porque ele precisa que o ‘eu’ dele seja considerado, construído. Algumas opiniões vão estar muito adequadas e outras não, porque o adolescente não está maduro. Os pais não precisam bater de frente, mas ir acompanhando. “Os pais não devem estranhar a contestação. Um adolescente que não questiona nada, que concorda com tudo, que segue aceitando as normas como acontecia na infância, é sinal de que alguma coisa não está dentro do esperado nesta fase do desenvolvimento”, alerta a psicóloga Clarisse Pereira Mosmann, professora e pesquisadora da Unisinos.
Regras e punições
Cada família deve ter regras e consequências claras caso essas normas não sejam obedecidas. Esse cenário dá segurança ao jovem, mesmo que ele não admita isso. Ele percebe – às vezes apenas de forma inconsciente, mas muitas vezes conscientemente – que é importante para seus pais e irmãos.
As punições devem ser efetivadas e factíveis. “Não adianta dizer que o jovem vai ficar um mês sem o computador quando isso não vai acontecer. O adolescente sabe disso e acaba por não levar aquilo a sério. Agora, deixar dois dias sem o celular ou outra atitude que seja importante para eles pode ser uma opção. O que importa é fazer o que foi prometido, do contrário os pais perdem a credibilidade”, diz Clarisse.
A desobediência, uma das maiores reclamações dos pais, se dá precisamente pela falta de firmeza de quem deveria exigir deles para serem melhores. “Na realidade, é comum ver pais frouxos, dando muita abertura. Com isso, ficam sem autoridade e o filho faz o que quer, não estuda, é preguiçoso, é relaxado, não conversa direito, é mal-educado, fica muito tempo nas redes sociais, não tem ‘autodelimitação’. Na verdade, para evitar danos, os pais têm de dizer muitos ‘nãos’. E, no futuro, os filhos reconhecem e agradecem”, garante Lélia.
Questões concretas
Confira como lidar com alguns cenários difíceis na educação de adolescentes.
Meu filho não fala
Alguns pais se assustam porque os filhos não falam muito. É bom saber que isso é normal e que a melhor atitude é encontrar momentos para estarem juntos com naturalidade. E, sobretudo, evitar ser formal e forçar a intimidade, com frases do estilo “vamos sentar e ter uma conversa”. “À mesa, no carro, em uma viagem, em qualquer lugar, o pai ou a mãe podem contar alguma coisa, sem fazer perguntas, porque se fizer perguntas o filho poder travar”, sugere Lélia. “O pai começa com alguma argumentação, conta um caso, diz a opinião dele. É inevitável que o adolescente acabe considerando, alguma coisa vai sair dele. Essa conversa tem de ser serena”.
Amizades inadequadas
Há diferentes tipos de amizades inadequadas e os pais precisam ponderar se é o caso de cortar completamente – quando há risco de vida, com uso de drogas, etc. – ou de apenas ajudar o filho a não se deixar influenciar. Sempre em um momento sossegado, os pais podem conversar sobre as atitudes do amigo. “O adolescente que já vem sendo educado por meio de reflexões, ele vai levar em conta o que os pais falam”, diz Lélia. “Não se trata de desconsiderar o amigo, mas ajudar a pensar de forma que o filho não entre de cabeça na amizade e, se possível. Chega a ser uma ajuda para o amigo inadequado”.
Não consigo lidar com o meu filho, o que fazer?
A educação não depende tanto do que se fala, mas do que o jovem pode ver. Mais do que regras, os jovens se beneficiam com uma vida ordenada, em que os pais, mesmo imperfeitos, batalham por ser exemplares, trabalham o número de horas adequado – nem mais, nem menos –, se dedicam à família, ajudam os necessitados, tentam praticar o bem e ser controlados emocionalmente. Não é demérito nenhum buscar orientação, na escola ou com um psicólogo, para melhorar a própria vida e, como consequência, o ambiente familiar.
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