As entrevistas com os candidatos cotistas do vestibular da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que se declararam negros mas foram colocados sob suspeita pela comissão responsável começam nesta sexta-feira (18). No total, 122 candidatos devem regularizar sua matrícula para não perder a vaga. Segundo a professora Rosana de Albuquerque, diretora do Núcleo de Acompanhamento Acadêmico (NAA) da universidade, na entrevista será avaliado se o candidato possui realmente traços e cor negra. "Muita gente não se informou direito sobre as normas mas se inscreveu no vestibular como cotista negro. Quem for branco é melhor nem aparecer", disse Albuquerque.
A banca especial que vai avaliar se o candidato é negro ou não é composta por integrantes da UFPR e da sociedade, inclusive de grupos que defendem os direitos dos negros e antropólogos. Sete integrantes da banca conversam com o candidato e vêem se ele se enquadra nas características. A aprovação deve ser unânime, ou seja, se apenas uma pessoa disser que o candidato não pode ser cotista negro a matrícula é desfeita e o candidato perde a vaga. O resultado das entrevistas deve ser divulgado em edital na próxima terça-feira (22).
Apesar das cotas para negros terem sido chamadas como para afrodescendentes o que dá a entender que são quem tem parentes negros - as normas do vestibular 2005 da UFPR deixam claro que são para quem tem aparência de negro. No edital com as regras do concurso está definido que os candidatos de inclusão racial devem entregar uma "declaração de próprio punho, perante a banca especial, de que pertence ao grupo preto ou pardo, constantes no Censo Oficial do IBGE, de que é assim reconhecido na sociedade e de que possui traços fenotípicos que o identificam com o tipo negro".
Em entrevista ao ParanáTV 1ª Edição desta quinta-feira, o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, disse que a polêmica em torno do assunto já era esperada e que agora a instituição deve tentar mostrar que o processo é sério. "Se o sistema não tivesse credibilidade ele não poderia ocorrer no próximo ano. As pessoas agora vão saber que a coisa é séria", disse. A professora Albuquerque falou que a UFPR não vai permitir que os estudantes brancos tomem as vagas dos cotistas negros. Questionada sobre o que os estudantes que não forem considerados negros na entrevista poderão fazer, a professora respondeu que o único caminho será a Justiça. "Todos têm o direito de ir à Justiça pelo que bem entenderem, mas acredito que ninguém vá fazer isso, pois a banca especial não vai deixar dúvidas", explicou.
Repercussão
O fundador e diretor do Instituto Afro-Brasileiro do Paraná, Valdir Izidoro, disse que vai nesta sexta-feira fiscalizar o processo de entrevistas dos candidatos. "Quem se declarou negro mas não é quer na verdade boicotar o sistema de cotas. Antes ninguém queria ser negro, agora todo mundo quer", disse. Izidoro contou que o instituto foi quem deu o pontapé inicial para implantar o sistema de cotas, que encontrou resistência na UFPR anteriormente. Segundo ele o reitor anterior não gostava da idéia.
O sistema de cotas da UFPR foi implantado no vestibular 2005 e reservou 20% de todas as vagas para estudantes negros e mais 20% para estudantes de escola pública.
Veja a reportagem da TV Paranaense sobre a questão
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