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Crise política transforma salas de aula em campo de batalha ideológica

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A presidente Dilma Rousseff está na iminência de ser derrubada do cargo. Um escândalo de corrupção em andamento tem agitado o país, e toda a classe política parece estar em guerra consigo mesmo. Seria de se esperar que a educação exercesse uma influência moderadora sobre a nação, treinando os estudantes para pensar criticamente e acalmando suas paixões partidárias.

Boa sorte com isso. Ultimamente, as escolas brasileiras foram arrastadas para a mesma excitação do clima nacional. Em vez de promover investigações acadêmicas, as salas de aula frequentemente são campos de batalha políticos, com estudantes alistados para o combate.

Se isso soa um exagero, confira os programas das disciplinas. Em uma recente análise de 10 dos livros didáticos de história aprovados pelo governo, Fernando Schuler, que leciona ciência política na universidade paulista Insper, encontrou uma agenda previsível.

“Em todos os livros didáticos que li, a inclinação é claramente à esquerda”, afirma Schuler. “O mundo está dividido como em um filme de ‘Guerra nas Estrelas’ entre as forças da luz e da escuridão, com os progressistas sociais enfrentando os defensores do capital internacional e do neoliberalismo.”

Considere as citações sobre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que foi igualmente aplaudido e abominado por sua era de vastas reformas estruturais. Em “História Geral do Brasil”, da Scipione, um dos pilares dos currículos do ensino médio e fundamental público e privado, os estudantes leem a respeito de um líder “mais comprometido com as finanças internacionais” e cujas muitas políticas de livre-mercado provocaram “crescente desemprego”, “desindustrialização”, “estagnação econômica” e “gritantes” desigualdades sociais. Outro texto afirma que FHC desfilou por seu segundo mandato “sem implementar nenhuma reforma ou política importante.”

Não importa que Cardoso tenha estabilizado a moeda, pagado dívidas e patrocinado muitas emendas importantes para reformar a perdulária constituição em seu primeiro mandato. E, nos outros quatro anos, iniciado uma reforma da previdência, lançado um programa de transferência de renda para beneficiar estudantes pobres, e criado a Lei de Responsabilidade Fiscal (aquela que Dilma é acusada de ter violado) para manter o gasto governamental sob controle.

O sucessor de Cardoso, o líder esquerdista do PT Luiz Inácio Lula da Silva, recebe um tratamento muito mais gentil em relação a seus gastos sociais agressivos, seus projetos de desenvolvimento liderados pelo governo, e sua política externa desobrigada com os Estados Unidos. O que os estudantes não vão ouvir é que Lula só foi eleito após abandonar sua faceta de crítico do capitalismo e se comprometer a conservar a política econômica da era Cardoso, e que um boom global de commodities foi o que garantiu seus generosos programas sociais.

América Latina

O tratamento que os livros didáticos dão à história contemporânea da América Latina também se resume a uma batalha do bem contra o mal. Os autores desancam com razão, ainda que previsivelmente, os Estados Unidos por seu apoio aos regimes militares no Brasil, na Argentina e no Chile. Mas o que você não se encontra em suas páginas são palavras duras a respeito da ditadura cubana sob Fidel Castro ou violações de direitos humanos e perseguição política durante o período autocrático de Hugo Chávez na Venezuela – “um polo a desafiar o capitalismo global liderado pelos Estados Unidos”, como coloca um dos livros.

Que os campi universitários sejam incubadoras para ressentimentos ‘anti-establishment’ não é surpresa para ninguém nos Estados Unidos ou na Europa. Mas incutir uma agenda política em estudantes do ensino médio e mesmo fundamental, especialmente nas escolas públicas financiadas com dinheiro do contribuinte, é outra história. E o problema vai além dos livros didáticos. Por exemplo, no ano passado um influente sindicato de professores no estado do Rio Grande do Sul convenceu escolas públicas do ensino médio a encurtar aulas para que os estudantes pudessem participar de “aulas cidadãs” organizadas por educadores em campanha salarial.

Parte do problema é que a maioria dos professores de ensino médio receberam seus diplomas nas universidades administradas pelo Estado, onde o enviesamento floresce. No início deste mês, um professor de uma faculdade de pedagogia na Universidade Federal da Bahia cancelou sua aula para mandar seus estudantes “acompanhar e registrar o movimento popular contra o impeachment, em defesa da democracia e do avanço dos direitos sociais”, ele escreveu em um e-mail. “Vida longa ao Estado Democrático de Direito!”

Um de seus alunos, Fernanda Accorsi, objetou e postou uma cópia da tarefa no Facebook, que viralizou. “O professor estava usando a aula para fins partidários”, ela me contou. “Nós iremos ensinar as gerações futuras. Temos a responsabilidade de educar, não de doutrinar.”

Esse é o tipo de má educação que deixa Miguel Nagib contrariado. Depois que o professor de história de sua filha, à época na sétima série, disse à classe dela que São Francisco de Assis era “igual a Che Guevara” – o herói da revolução cubana equipado de bandoleiras – o advogado brasileiro começou um grupo de interesse de cidadãos, Escola Sem Partido. Nagib diz que não tem nenhum problema com professores que se posicionam, só com aqueles que usam a escola como tribuna. “Estudantes são uma audiência cativa. Eles não podem simplesmente se levantar e ir embora”, ele disse.

Recentemente, a questão do viés em sala de aula atraiu atenção no estado do Mato Grosso, onde procuradores federais pediram esclarecimentos ao ministro da Educação. “A educação nunca é neutra, mas tem de ser imparcial”, disse o procurador Cleber Neto. “Estamos preocupados com a possível violação de direitos fundamentais e pedimos ao ministro que justificasse a escolha desses livros.” As autoridades responsáveis ainda não responderam.

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