A figura do médico que conhece todas as doenças e trata de todos os problemas sumiu ao longo dos anos com a evolução da tecnologia e do conhecimento. Hoje em dia existem especialidades que há alguns anos nem eram sonhadas. Por outro lado, o Ministério da Educação (MEC) definiu algumas diretrizes que exigem uma formação generalista e humana do médico. Por essas e outras razões, o ensino de Medicina tenta se adaptar e algumas universidades estão adotando diferentes métodos e currículos em seus cursos.
A Universidade Estadual de Londrina (UEL) é um exemplo. Desde 1998, o curso de Medicina da instituição implantou um currículo integrado de ensino que utiliza diferentes metodologias, entre elas o Problems Based Learning (PBL do inglês, Aprendizagem Baseada em Problemas), usado pela primeira vez na Universidade de Maastrich (Holanda) e na Universidade de McMaster (Canadá). Pelo método, as aulas não são expositivas, quando o professor explica o conteúdo enquanto os alunos ouvem e fazem perguntas. O estudante é incentivado a pesquisar e buscar o conhecimento, enquanto o professor atua como um tutor.
O objetivo é ensinar o aluno a aprender, já que o volume de informações cresce exponencialmente à medida que a humanidade avança. "Hoje em dia os problemas são mais complexos e as tecnologias são mais complexas. Ninguém domina tudo. Com esse currículo nós conseguimos uma aproximação maior entre a teoria e a prática. Os alunos ficaram mais independentes, mais críticos e fazem mais trabalhos em grupo", conta o coordenador do curso, o professor Marcio José de Almeida.
Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), o curso de Medicina também utiliza o PBL. "Chamam o método de novo, mas Sócrates já o utilizava por volta de 600 a.C.", conta o professor Emilton Lima Jr., coordenador do curso. Conforme ele, pesquisas mostram que nas aulas expositivas os alunos retêm de 5% a 8% do que vêem, enquanto que pelo PBL esse número sobe para 80%. Nas aulas, grupos de 10 alunos discutem um cenário, um gráfico ou um caso clínico. A partir do debate, eles detectam lacunas de conhecimento e partem para a pesquisa. "Quando se estuda com curiosidade, aprende-se muito mais", justifica o professor.
O Centro Universitário Positivo (Unicenp), por sua vez, adota um currículo chamado de inovador e integrado. As aulas são expositivas, como no currículo tradicional, mas desde o primeiro ano os alunos têm aulas práticas na rede pública de saúde. Além disso, também são dadas aulas de ciências humanas desde o começo do curso, para evitar que os médicos se tornem profissionais extremamente técnicos e frios. "O importante é que o currículo forme médicos críticos, humanos e reflexivos", opina o professor Ipojucan Calixto Fraiz, coordenador do curso.
A proposta segue em partes a orientação do MEC. De acordo com as diretrizes curriculares nacionais, o formando em Medicina deve ter como perfil uma "formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano".
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o currículo da graduação em Medicina é no formato tradicional. "Cerca de 30% da carga horária é composto por aulas teóricas enquanto que os outros 70% são de aulas práticas. Pelo método tradicional nós temos tópicos a serem vencidos que são mostrados nas aulas", explica o professor Miguel Ibrahim Sobrinho, coordenador do curso. Segundo ele, a instituição também tenta seguir as diretrizes do MEC, que não faz distinção entre o método utilizado.
De qualquer forma, Sobrinho acredita que não é só pelo método que se avalia a qualidade de um curso e que o aluno é um agente do aprendizado. "O PBL é um método positivo, mas precisa de professores preparados para a tutoria, o que não é fácil. O aluno também precisa de maturidade, pois é ele quem pesquisa. O que parece é que pelo PBL o aluno sai do curso e continua buscando informações, mas ainda é muito cedo para avaliar", opina o professor. Aparentemente, o debate ainda está começando.
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