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Avaliação

Estudo no Quênia vira exemplo

A economista e professora Pascaline Dupas, da Univer­sidade da Califórnia, apresentou ontem, durante o Seminário Itaú Internacional de Avaliação Econômica de Projetos Sociais, no centro de convenções da Bolsa do Rio, o estudo experimental que desenvolveu no Quênia em parceria com Esther Duflo e Michael Kremer, mostrando o impacto de recursos adicionais e mudanças de gestão na educação.

No Quênia, o ensino público só se tornou gratuito em 2003. "As mensalidades eram baixas, cerca de US$ 6, mas isso era equivalente ao salário médio semanal do queniano", explica Pascaline, que é PhD em economia pela Ehess-PSE & Delta, de Paris. A medida aumentou de 5,9 milhões para 7,6 milhões o número de crianças matriculadas, mas tirou das escolas sua principal fonte de receita.

Além de não terem recursos para contratar mais professores, muitas escolas ainda tiveram o corpo docente reduzido. O resultado é que as salas de aula comportavam, em média, 80 alunos. Os grupos eram heterogêneos, pois muitos alunos ingressaram tardiamente no ensino fundamental, incentivados pela gratuidade.

Em 2005, 140 escolas receberam verba para contratar professores temporariamente, por um salário de US$ 35 por mês (pouco mais de um terço da remuneração dos professores efetivos da rede pública). As turmas do primeiro ano foram divididas em dois grupos de 40 alunos. Um grupo teria aula com os professores da rede pública e o outro com os contratados. Outras 70 escolas que não receberam a verba foram acompanhadas, para efeito de comparação.

Em 70 turmas, a divisão foi aleatória. Em outras 70, os alunos foram separados de acordo com o desempenho. Em metade das escolas, os pais foram treinados para atuar em comitês que monitoram o desempenho dos professores.

A pesquisa mostrou uma melhora no desempenho das crianças nas escolas que receberam os professores extras. Na matemática, a média de acerto nas escolas que não foram beneficiadas era de 6,5 em 24 questões. Nas escolas com professores contratados, a média subiu para 7,5 acertos em 24 questões.

O estudo mostrou ainda que as crianças que tiveram aula com professores do serviço público, mesmo em turmas menores, praticamente não tiveram ganhos de desempenho em relação aos estudantes das escolas do grupo de comparação. "Os professores públicos não dão aulas integralmente para cada turma, eles se especializam em uma disciplina e fazem rodízio, algo que em outros países só se vê em séries mais adiantadas", explica Pascaline. "Talvez esse modelo não funcione nas séries iniciais."

Outra conclusão da pesquisa é que as escolas com a participação dos pais no monitoramento dos professores apresentaram melhor desempenho. (AS)

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