• Carregando...
A família Adler já estimulava o contato do pequeno Gustavo com o inglês, mesmo antes de suas aulas do idioma se iniciarem | Antonio Costa/Gazeta do Povo
A família Adler já estimulava o contato do pequeno Gustavo com o inglês, mesmo antes de suas aulas do idioma se iniciarem| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Compare

Apesar de facilmente compreensível, o inglês aprendido de maneira informal pode trazer falhas graves do ponto de vista gramatical, como verbos mal conjugados, falta de palavras necessárias ao entendimento e excesso de gírias. Confira exemplos apontados por professores entrevistados:

You like potatoes?

Utilizar demasiadamente a linguagem informal pode viciar o aluno em esquecer o verbo de início das perguntas – obrigatório na língua inglesa. Isso porque no inglês falado rotineiramente é comum a omissão desse verbo.

Na frase do exemplo o correto, pela gramática, seria: do you like potatoes? (você gosta de batatas?).

He ain’t done

A expressão ain’t é uma junção de verbos não aceita pela gramática, embora muito falada em todos os países de língua inglesa. Na expressão exemplificada, que significa "ele não terminou", o correto seria he is not done.

Quem aprende inglês informalmente tende a exagerar no uso desse tipo de junção.

You is my friend

Exemplo básico de erro cometido em uma frase simples. A tradução seria "você é meu amigo". Porém, na linguagem informal, o verbo "ser" é usado de forma incorreta, como no exemplo. O certo, pela gramática, seria you are my friend. O falante consegue se comunicar naturalmente falando dessa forma, porém poderia ser reprovado em um teste da língua inglesa.

What’s up, dude?

É uma pergunta bastante comum no cotidiano dos Estados Unidos, muito usada em músicas e vídeos e típica da informalidade. Significa algo parecido com: "Como vai, cara?". Porém, o uso de gírias não deve ser feito em excesso em ambientes formais. Uma alternativa gramaticalmente correta seria usar o how are you doing?.

Mercado de trabalho exige fluência

Se é quase uma unanimidade para professores e linguistas que conseguir se comunicar é mais importante do que dominar por completo a gramática, em nenhum outro campo a fala tem papel mais importante do que no mercado de trabalho. No ensino de idiomas, para quem quer subir de cargo ou permanecer com tranquilidade no atual posto, a fluência – e a rapidez no aprendizado – são o que contam pontos.

Leia a matéria completa

O que é mais importante: ver seu filho dominar cada regra gramatical de uma língua estrangeira ou conseguir se comunicar com naturalidade? O que poderia surpreender a lógica das salas de aula há duas décadas, é hoje uma realidade que norteia todos os métodos modernos de ensino de idiomas. Falar e compreender chegam na frente das normas cultas da língua. E não é difícil entender o porquê. Em um mundo em que o acesso a pessoas e à cultura de outros países tornou-se tão fácil, as escolas passaram a apostar na oralidade. Gramática só depois, e ensinada na prática.

O modelo é defendido até por estudiosos convictos da gramática. Mestre em linguística pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora de inglês há quase 20 anos, Renata Seixas diz que aprender a falar é item prioritário. "Não que saber as regras não seja fundamental. Mas as crianças de hoje entram nas salas de aula com uma boa bagagem de outro idioma, principalmente o inglês. Forçá-la a aprender a gramática logo de entrada seria um desperdício de suas experiências e até um desestímulo. As regras devem vir aos poucos, calcadas na conversação."

O jovem estudante Gustavo Adler preenche o perfil deste aluno moderno. Com apenas 5 anos, ele começou a desenvolver a capacidade de se comunicar em inglês antes mesmo de ter acesso às aulas do idioma em sua escola. "Tínhamos alguns vizinhos estrangeiros, então ele aprendeu a interpretar e a falar algumas coisas enquanto brincava com os filhos deles. Além disso, viajamos com frequência, e como ele gosta de inglês, tenta sempre aprender novas frases", diz a mãe, Daniela Adler.

Somado a isso, Gustavo também tem interesse nas principais fontes de contato com o inglês para a maioria dos estudantes brasileiros: internet, vídeo e música. "Ele escuta algo no rádio e tenta cantar igual, repetindo a pronúncia", afirma Daniela.

Ainda que nem sempre a linguagem utilizada por esses meios seja a formal, não pense que o contato é encarado de forma negativa pelos educadores. Muito pelo contrário. Toda bagagem é bem aceita. "Esse contato prévio demonstra o interesse do estudante. O papel da escola é transformar o conhecimento. Ou seja, muitos estudantes já chegam sabendo falar, mas nem sempre isso é feito respeitando-se as regras gramaticais. Com o tempo inserimos a gramática e tornamos essa fala formal", afirma Juliana Maria Lazari, professora de inglês do Centro Educacional Nova Geração.

Se o perfil dos estudantes mudou, as escolas não ficaram paradas, diz Denílso de Lima, coordenador da rede de ensino de inglês InFlux. "As instituições vêm se antecipando a esse tipo de público, que tem um conhecimento prévio de inglês e não pode ser tratado como begginer (palavra que significa iniciante). Para eles foi criado o termo false begginers (falsos iniciantes)", diz ele. "Na nossa rede existe um material chamado intro. Ele serve para quem nunca teve contato com o idioma. Para quem já conhece, esse material é dispensado. O aluno entra diretamente no curso regular."

Quando a gramática vira regra

Apesar de a oralidade receber vantagem no conceito moderno de ensino de idiomas, em muitos casos é a gramática que deve estar no foco de estudo. Talvez o exemplo principal sejam os chamados exames de proficiência. Administrado por instituições internacionais, eles são avaliações que atestam a capacidade de se falar e compreender determinado idioma para quem pretende trabalhar ou estudar fora.

Além de estar atento ao vocabulário, interpretação de texto e capacidade de ouvir, responder exames como os americanos TOEFL e TOEIC e os britânicos IELTS e CPE exige conhecimentos profundos das regras gramaticais. "É onde ela é mais exigida. Os candidatos não podem se basear apenas no inglês de contato no dia a dia", diz a professora Juliana Lazari, do Centro Educacional Nova Geração.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]