
O que é mais importante: ver seu filho dominar cada regra gramatical de uma língua estrangeira ou conseguir se comunicar com naturalidade? O que poderia surpreender a lógica das salas de aula há duas décadas, é hoje uma realidade que norteia todos os métodos modernos de ensino de idiomas. Falar e compreender chegam na frente das normas cultas da língua. E não é difícil entender o porquê. Em um mundo em que o acesso a pessoas e à cultura de outros países tornou-se tão fácil, as escolas passaram a apostar na oralidade. Gramática só depois, e ensinada na prática.
O modelo é defendido até por estudiosos convictos da gramática. Mestre em linguística pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora de inglês há quase 20 anos, Renata Seixas diz que aprender a falar é item prioritário. "Não que saber as regras não seja fundamental. Mas as crianças de hoje entram nas salas de aula com uma boa bagagem de outro idioma, principalmente o inglês. Forçá-la a aprender a gramática logo de entrada seria um desperdício de suas experiências e até um desestímulo. As regras devem vir aos poucos, calcadas na conversação."
O jovem estudante Gustavo Adler preenche o perfil deste aluno moderno. Com apenas 5 anos, ele começou a desenvolver a capacidade de se comunicar em inglês antes mesmo de ter acesso às aulas do idioma em sua escola. "Tínhamos alguns vizinhos estrangeiros, então ele aprendeu a interpretar e a falar algumas coisas enquanto brincava com os filhos deles. Além disso, viajamos com frequência, e como ele gosta de inglês, tenta sempre aprender novas frases", diz a mãe, Daniela Adler.
Somado a isso, Gustavo também tem interesse nas principais fontes de contato com o inglês para a maioria dos estudantes brasileiros: internet, vídeo e música. "Ele escuta algo no rádio e tenta cantar igual, repetindo a pronúncia", afirma Daniela.
Ainda que nem sempre a linguagem utilizada por esses meios seja a formal, não pense que o contato é encarado de forma negativa pelos educadores. Muito pelo contrário. Toda bagagem é bem aceita. "Esse contato prévio demonstra o interesse do estudante. O papel da escola é transformar o conhecimento. Ou seja, muitos estudantes já chegam sabendo falar, mas nem sempre isso é feito respeitando-se as regras gramaticais. Com o tempo inserimos a gramática e tornamos essa fala formal", afirma Juliana Maria Lazari, professora de inglês do Centro Educacional Nova Geração.
Se o perfil dos estudantes mudou, as escolas não ficaram paradas, diz Denílso de Lima, coordenador da rede de ensino de inglês InFlux. "As instituições vêm se antecipando a esse tipo de público, que tem um conhecimento prévio de inglês e não pode ser tratado como begginer (palavra que significa iniciante). Para eles foi criado o termo false begginers (falsos iniciantes)", diz ele. "Na nossa rede existe um material chamado intro. Ele serve para quem nunca teve contato com o idioma. Para quem já conhece, esse material é dispensado. O aluno entra diretamente no curso regular."
Quando a gramática vira regra
Apesar de a oralidade receber vantagem no conceito moderno de ensino de idiomas, em muitos casos é a gramática que deve estar no foco de estudo. Talvez o exemplo principal sejam os chamados exames de proficiência. Administrado por instituições internacionais, eles são avaliações que atestam a capacidade de se falar e compreender determinado idioma para quem pretende trabalhar ou estudar fora.
Além de estar atento ao vocabulário, interpretação de texto e capacidade de ouvir, responder exames como os americanos TOEFL e TOEIC e os britânicos IELTS e CPE exige conhecimentos profundos das regras gramaticais. "É onde ela é mais exigida. Os candidatos não podem se basear apenas no inglês de contato no dia a dia", diz a professora Juliana Lazari, do Centro Educacional Nova Geração.