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Pesquisa realizada com crianças de 9 e 10 anos na Inglaterra gerou resultados surpreendentes. Alunos que passaram a ter uma aula semanal de filosofia na escola melhoraram seu desempenho em matemática e inglês mais rapidamente se comparados a outros que não tiveram a disciplina no currículo.

Participaram do estudo, promovido pela ONG Education Endowment Foundation (EEF), 3 mil alunos de 48 escolas da Inglaterra. Depois de assistir a aulas sobre questões como verdade, justiça, amizade e conhecimento, um primeiro grupo de crianças teve notas melhores em matemática e inglês no que seria equivalente a dois meses extras de aulas dessas matérias, por exemplo. No caso das crianças de menor renda familiar, que também recebiam uma refeição gratuita na escola, o desempenho foi melhor ainda: evoluíram o equivalente a quatro meses em leituras, três meses em matemática e dois meses em escrita.

“A inclusão de temas filosóficos desenvolve a criança de forma mais completa do ponto de vista de sua estrutura lógica de argumentação e isso, obviamente, vai refletir em toda a sua escolaridade.”

Karin Franklin,pós-doutora em Filosofia e professora do setor de Educação da UFPR

Os resultados positivos em aprendizagem nos estudantes das 26 escolas que tiveram a aula extra de filosofia durou por mais dois anos e superaram o desempenho das crianças das outras 22 instituições sem essa matéria. De acordo com os responsáveis pelo estudo, isso aconteceu porque os primeiros aprenderam novas formas de pensar e se expressar.

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Outro ganho apontado pelo estudo, avaliado de forma independente pela Universidade de Durham, é comportamental. Professores relataram que os estudantes tiveram melhora na autoconfiança, autoestima e na habilidade de ouvir os outros.

O programa no qual foi baseado o estudo inglês da organização Education Endowment Foundation, se chama P4C (Philosophy for Children, ou Filosofia para crianças, em português). Ele foi lançado pelo professor Matthew Lipman nos anos 1970, nos Estados Unidos, e já foi usado por mais de 60 países, inspirando ações também no Brasil. Outros países, a partir desses e outros estudos, passaram a apostar no ensino da matéria já nos primeiros anos. Na França, por exemplo, crianças com 3 e 4 anos têm o primeiro contato com a filosofia na pré-escola.

Repercussão

A filosofia poderia ser um mecanismo para melhorar o péssimo desempenho de alunos no Brasil, acreditam especialistas. No país, apenas 16% das crianças saem do ensino fundamental com o conhecimento adequado em matemática e 28% em português, segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb/2013).

Hoje, a disciplina no país é facultativa nos anos iniciais e obrigatória no ensino médio. “É possível ver os efeitos positivos da obrigatoriedade no ensino médio, com jovens chegando ao ensino superior mais exigentes, cobrando estratégias de aulas dialógicas e dispostos a discutir sobre o conteúdo, mesmo não tendo base conceitual pra isso”, diz Karin Franklin, pós-doutora em Filosofia e professora de Pedagogia da UFPR

Leo Peruzzo Júnior, professor de Filosofia da Linguagem e da Mente da PUCPR e da FAE, alerta, porém, que é preciso preparo e cuidado na hora de abordar a filosofia em sala. “O papel da filosofia é possibilitar uma reflexão mais significativa sobre o mundo em geral, melhorar a capacidade de analisar a realidade, fatos e conceitos como os de política e justiça. Mas não se deve ensinar a história da filosofia ou doutrinar os temas. A busca por uma fórmula mágica para problemas em geral é o apelo que filosofia não deve ter. O correto é ensinar os alunos a filosofar”, conclui.

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