Este é o primeiro ano em que a Finlândia, país que é referência mundial em Educação, torna facultativo o ensino da caligrafia substituindo as aulas de letra cursiva por lições de digitação. O país não está sozinho: alguns estados dos EUA, a Alemanha e o Japão já priorizam a letra de forma e os meios tecnológicos. No Brasil, embora os cadernos e as aulas de letra de mão sejam cada vez mais coisa do passado, a letra cursiva segue no currículo, com especialistas divididos sobre a relevância de sua manutenção.
Os argumentos pró e contra a letra cursiva são fortes. Por um lado, educadores afirmam que o simples domínio da letra de mão não faz diferença para o início da vida escolar de uma criança. “A criança precisa aprender a olhar e reconhecer a palavra, mas também a interpretar e entender a função social da escrita na vida, e aí entram os gêneros textuais e tudo mais; a discussão pela letra cursiva acaba ficando mais pelo processo de coordenação motora fina”, afirma a pedagoga Daniele Saheb, doutora em Educação e coordenadora do curso de Pedagogia da PUCPR.
Além disso, não há consenso ou provas de que a abolição da letra cursiva traria prejuízo para o desenvolvimento de capacidades neurológicas ou motoras. Enquanto há especialistas preocupados com as perdas cognitivas que essa mudança na maneira de escrever traria, outros lembram da existência de novas formas de estimulação que estão surgindo e cumprindo o papel da escrita cursiva - entre elas as próprias práticas ligadas aos aparelhos tecnológicos.
Há um consenso de que escrever à mão tenha relevância na aprendizagem, no entanto os estudos feitos até agora não apontam indícios de que o estilo cursivo seja mais benéfico que a letra de forma. “Não é porque se faça um traçado reto da letra, em caixa alta, que o aluno não vai se preocupar com o formato, com o capricho e organização estética. A letra de forma também tem rigor, padrão de traçado e direção contínua, não pode ser feita de qualquer jeito”, acredita Daniele Saheb.
Avantagem da letra cursiva, por outro lado, é muito clara para a professora especialista em grafologia, Inês Gomes, do Ateliê TOk-Arte. “A letra de forma não nos difere das outras pessoas. Já a cursiva, pelo desenhar e interligar das letras, mostra nossa emoção, é nossa marca pessoal, demonstra comprometimento e afetividade. Europeus e americanos optam pela letra de forma que é fria, prática, mas sem personalidade”, afirma.
Uso
Embora a letra cursiva ainda tenha forte presença nas escolas brasileiras, nos últimos anos ela tem deixado de ser exigida em processos seletivos. A professora de Língua Portuguesa e de Redação Liliani Rosa, que tem turmas de 6º e 8º ano nas redes particular e pública, comenta que seus estudantes são livres para optar pela letra de mão ou de forma, desde que façam a diferenciação entre maiúsculas e minúsculas. Mesmo com essa abertura, ela defende que é preciso ensinar as diferentes formas de escrever. “As escolas precisam preparar o aluno para as diversas modalidades de escrita, porque a função delas é oferecer aos alunos a prática de habilidades.”