No exterior, ganha força a ideia de incluir a linguagem de programação como conteúdo obrigatório nos currículos. Os primeiros a adotarem a medida foram o Reino Unido e Austrália. Nos Estados Unidos e na Alemanha, algumas ações devem dar frutos nos próximos anos. Já no Brasil, os projetos envolvendo a programação ainda envolvem um número limitado de escolas e dependem da iniciativa de educadores.
O Reino Unido substituiu em 2013 o antigo currículo de Tecnologia, Informação e Comunicação (ICT, na sigla em inglês) pelo de “Computação”. O ensino de códigos está previsto para crianças a partir dos cinco anos. Publicada em 2013, a medida passou a valer em 2014.
Em setembro de 2015, o ministro da educação australiano anunciou um novo currículo de “tecnologias digitais”. Os princípios da programação devem ser ensinados para crianças a partir dos 10 anos; as linguagens, para os que têm mais de 12.
Nos Estados Unidos, o estado de Chicago criou um plano de cinco anos para implementar a linguagem de programação no currículo do ensino médio. A previsão é de que toda criança aprenda o conteúdo na escola até 2018. Ex-chefe de gabinete do presidente Barack Obama, o prefeito Rahm Emanuel luta para ampliar a medida para todo os EUA.
Na Alemanha, o Partido Social Democrata (SPD) passou a defender, no ano passado, que a linguagem de programação seja obrigatória nas escolas. Com cerca de 30% do parlamento, os sociais-democratas são uma das principais forças políticas do país. O documento defende ciências da computação para alunos de todas as idades, e o ensino da lógica dos algorítimos na escola.
No Brasil, o Ministério da Educação (MEC) informou que não há proposta de inclusão da programação como disciplina obrigatória na primeira versão da Base Nacional Comum, documento que está sendo revisado e deve constituir o novo currículo do ensino médio. Novas ideias devem ser discutidas em junho deste ano, explica o coordenador de projetos da Fundação Lemann, Lucas Machado. A instituição mantêm parceria com 77 escolas do país com o Programaê, que ensina códigos a crianças. No Paraná são 39 parceiras, toda da rede pública municipal de Curitiba.
Programação na aula de português
- Naiady Piva
A linguagem de programação entrou na Escola Municipal Julia Amaral Di Lenna, em Curitiba, pela porta dos fundos. Foi na aula de português, depois que a professora Marietta Derbi Durães da Luz Viviani conheceu a plataforma Scratch, que permitia aos alunos do 7º ano utilizarem os conhecimentos da língua, aprendidos ao longo do semestre, na construção de “joguinhos”. Foi a prova de que há muito espaço para a programação nas escolas, além das aulas de matemática.
A sugestão da plataforma foi do Departamento de Tecnologia e Difusão Educacional, da Secretaria Municipal de Educação (SME), de Curitiba. A orientação é para que os professores trabalhem em três etapas. Primeiro, com o conteúdo da disciplina. Regra dos porquês, crônica, conto, onde e aonde, no caso da professora Marietta.
Depois veio o planejamento, que tinha tudo a ver com a disciplina (os alunos tiveram que fazer um belo esforço narrativo para colocar os jogos no papel). Por fim, as crianças aprendem a pensar como um programador. É a lógica do se você fizer isso, então irá ocorrer aquilo, que vale tanto para os joguinhos da aula de português quanto para os mais elaborados programas de computador.
Na sequência vem uma mistura de criatividade e paciência. Para mudar o cenário, por exemplo, é preciso encontrar e salvar uma imagem e depois ordenar “se (passar de fase), então (mude o cenário”. Por aí vai. “Quando eles fazem isso estão trabalhando com causa, consequência, condição, que são atributos da Língua Portuguesa e também são princípio da programação”, diz a professora.
Mas vale a pena esperar. Um grupo até mudou o final de uma história escrita por Lygia Fagundes Telles. Em “Venha ver o pôr-do-sol”, a personagem principal acaba presa; na programação, as meninas viram a chance de libertá-la. Mas para isso é preciso chegar até o final do jogo.
A noção de que a programação é exclusiva das Ciências Exatas ainda é muito forte, especialmente quando a proposta da escola é “aprender a programar”, explica o coordenador de projetos da Fundação Lemann, Lucas Machado. No Programaê, um dos principais projetos da fundação, com abrangência nacional, o conceito foi expandido para “programar para aprender”, diz Lucas.
A ideia é colocar a programação a serviço da “construção de saberes”. Com isso, o professor pode adequar os elementos do “pensamento computacional” para dentro da sala de aula, mesmo quando não há computadores disponíveis. É uma forma de driblar a falta de infraestrutura nas escolas, um dos principais entraves para a utilização de tecnologias nas escolas brasileiras.
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