Camila Lanes começou e terminou 2015 em confrontos com a Polícia Militar. No primeiro semestre, estava na Praça Nossa Senhora de Salete, em Curitiba, no confronto de 29 de abril. Mais recentemente, a PM paulista chegou a detê-la, por quarenta minutos, quando a estudante participava de protesto contra a reorganização das escolas estaduais de São Paulo. O front de combate virou quase uma obrigação para a estudante paranaense, que, aos 19 anos, tornou-se representante máxima da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes).
“Aprendi que o problema não é a política, mas a maneira como as pessoas tratam e lidam
com ela”
Espécie de irmã mais nova da União Nacional dos Estudantes (UNE), a Ubes surgiu em 1948, durante a campanha “O Petróleo é Nosso”, que culminou com a criação da Petrobras. Em sete décadas, 36 homens ocuparam a presidência. Lanes é a sexta mulher no cargo. Duas delas foram suas antecessoras imediatas. É um boom: 50% das “presidentas” num intervalo de quatro anos.
A trajetória de Camila começou em 2009, no Colégio Silveira da Motta, no Centro de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Lá, se inspirou em professoras. “Na Sueli, de Geografia, na Rosiane, de Química, na Ana, de Inglês, e em muitos outros que passaram pela sala de aula e que até hoje eu encontro pelas manifestações.”
Não gostava da palavra “política”, mas queria transformar sua escola. E foi como representante para o congresso da União Paranaense dos Estudantes (Upes) daquele ano. Foi paixão à primeira vista. Em 2013, foi eleita presidente da entidade paranaense, cargo que ocupou até o meio deste ano.
Hoje, Camila defende as “meninas no poder” e uma força jovem na política. Aos 19 anos, tenta conciliar a “grande política” com as pautas educacionais. Tarefa que não é fácil, especialmente depois que o Ministério da Educação resolveu rediscutir todo o currículo do ensino médio.
Na construção da nova Base Nacional Comum Curricular, cada grupo puxa o lobby para o seu lado. Com a Ubes, não é diferente. Camila defende: “Temos uma escola que reproduz muito os preconceitos da nossa sociedade: o debate de gênero e a real historia do nosso Brasil precisam ser abordados. Os estudantes brasileiros não aceitam mais, por exemplo, ignorarmos a luta do povo negro quando vamos aprender sobre a Lei Áurea e a libertação dos escravos”, diz.
Outra luta é por maior infraestrutura. Coisas simples, como esgoto encanado, biblioteca e laboratório. Como dar conta disso tudo? A líder estudantil tem na ponta da língua a resposta, outra bandeira da entidade: garantindo os 10% do PIB para a educação.