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Jovens que andam em carroças criam robôs na África

Estudantes consertam um robô durante a Competição Pan-Africana de Robótica | Sam Phelps/NYT
Estudantes consertam um robô durante a Competição Pan-Africana de Robótica (Foto: Sam Phelps/NYT)

Um robô choca-se contra alguns blocos e quase cai no chão; outro vai de encontro a uma parede; o terceiro gira vertiginosamente em círculos.

Quando o robô construído pelas alunas de uma escola só para garotas finalmente atravessa um labirinto, fazendo as curvas com perfeição e tocando todas as bandeiras necessárias, a multidão enlouqueceu.

As garotas estavam entre os alunos de 25 escolas que se reuniram em Dakar, no Senegal, para participar da segunda Competição Pan-Africana de Robótica, que acontece todos os anos.

Mas há desafios. O acesso à internet é caro e as escolas em algumas áreas não têm eletricidade.

Durante cinco dias, em uma cidade onde carroças puxadas a cavalo ainda são vistas em muitas estradas não pavimentadas, meninos e meninas do sexto ano do ensino médio, acampados, se debruçavam sobre laptops e tablets, inserindo códigos para orientar seus pequenos robôs azuis através de um labirinto destinado a testar suas habilidades no último dia da competição.

O evento foi organizado por Sidy Ndao, um senegalês que é professor de Engenharia na Universidade de Nebraska-Lincoln, nos Estados Unidos, e que se impôs a missão de ajudar ainda mais a ciência, a tecnologia, a engenharia e a educação matemática, conhecidas como habilidades STEM, na África Ocidental.

Nos Estados Unidos, a necessidade de mais educação STEM é o discurso de muitos economistas e líderes empresariais. Eles enfatizam que melhorar essas competências ajudará o país a criar mais empregos, competir melhor globalmente e aumentar seu crescimento econômico.

O mesmo vale para o Senegal e toda a África Ocidental, disse Ndao, onde incorporar a educação STEM pode ajudar a definir um caminho para melhorar tudo, desde sistemas de saneamento até agricultura, e pode criar postos de trabalho em um lugar com altas taxas de desemprego.

“Há muito trabalho a ser feito aqui”, disse Ndao, 33 anos.

As escolas da região já enfatizam a matemática e a ciência. A escola só de meninas na competição, a Mariama Bâ de Gorée, é conhecida como uma das melhores em matemática no Senegal. Embora algumas das que ficam fora do Dakar, a capital, ainda não tenham eletricidade, muitas instituições particulares da cidade têm laboratórios de informática, clubes de matemática e ciências e maior oferta de cursos de tecnologia do que no passado.

Mas Ndao disse que as escolas por vezes enfatizam a decoreba, em vez de focar na aprendizagem contextual. Os alunos não conectam as teorias que aprendem com experiências práticas, argumentou ele.

“Temos crianças educadas em escolas de matemática e ciências que quando veem um avião voando, pensam que é mágica, mas se você lhes der qualquer problema de matemática, conseguem resolvê-lo”, disse Ndao.

Em algumas fazendas dos EUA, tratores sem motoristas, controlados por satélite, estão sendo testados para aumentar a eficiência dos agricultores. Em partes do Senegal, os agricultores podem ser vistos curvados sobre os campos com arados puxados a cavalo.

História de superação

Ndao estudou no Senegal até a adolescência, completando com dificuldade a escola fundamental, mas teve um clique e percebeu que a matemática era a sua área.

Seus pais queriam lhe dar uma educação melhor, então ele foi para Nova York, onde morou com um parente e se matriculou no ensino médio. Ndao disse que rapidamente virou um dos primeiros da classe e ganhou uma bolsa de estudos para o City College de Nova York, onde estudou Engenharia Mecânica.

Mas havia um porém: estava nos Estados Unidos ilegalmente. “As pessoas queriam me contratar, mas eu não tinha documentos”, disse.

Mesmo sendo autor de uma tese reconhecida e elogiada, ao terminar a faculdade Ndao foi trabalhar varrendo corredores de uma lojinha no Bronx.

Por fim, entrou em um programa de mestrado no City College, e completou seu doutorado e pós-doutorado no Instituto Politécnico Rensselaer de Nova York e no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Ele explicou que a questão de documentação foi resolvida quando se casou com uma americana, acrescentando que agora tem um “green card”.

Na Universidade de Nebraska, Ndao, que é fã de nanotecnologia, se dedica às coisas bem pequenas e como elas transferem calor. Está pesquisando como o calor, e não a eletricidade, pode ser usado para cálculos na exploração espacial.

Tendo se estabelecido em Lincoln, onde vive com a esposa e cinco filhos, Ndao agora quer ajudar crianças da África Ocidental a compreender como a matemática e a ciência podem melhorar seu país. Ele convenceu a Universidade de Nebraska a ajudar a patrocinar o evento de robótica.

No Senegal, empresários e autoridades do governo estão abraçando a ideia de aperfeiçoar a área de STEM. Um centro de tecnologia está sendo construído em uma nova cidade perto de Dakar, e terá instalações de treinamento e pesquisa. Clubes de codificação para meninas e mulheres estão surgindo no país e em toda a região.

Mas há desafios. O acesso à internet é caro e as escolas em algumas áreas não têm eletricidade.

O acampamento e a competição de Ndao ainda estão se desenvolvendo. Apesar do título Pan-Africano, as escolas que enviaram alunos este ano para o evento em Dakar eram todas do Senegal, algo que Ndao espera que mude.

O evento teve como objetivo unir as sociedades agrícolas de Nebraska, estado conhecido pela produção de milho, e o Senegal, conhecido pelo amendoim.

Em algumas fazendas dos EUA, tratores sem motoristas, controlados por satélite, estão sendo testados para aumentar a eficiência do trabalho dos agricultores. Em partes do Senegal, os agricultores podem ser vistos curvados sobre os campos com arados puxados a cavalo.

“Podemos mudar nosso futuro se aprendermos mais sobre a tecnologia”, disse Joanna Kengmeni, uma das alunas no acampamento.

Lá, os alunos construíram robôs a partir de um kit, aprenderam a programá-los e então criaram modelos de fazendas do futuro que utilizariam esses robôs. Uma equipe criou um robô com um ventilador que poderia esfriar as colheitas quando o calor for muito grande, ou pelo menos monitorar temperaturas, disseram os estudantes. Outra equipe planejava usar o robô para remoção de ervas daninhas.

Outra aluna no acampamento, Arame Coumba Dieng, que usava um lenço na cabeça e uniforme rosa, disse que havia entendido a codificação com facilidade.

“Para mim, não é difícil. Basta concentração”, disse ela.

Os pais de Arame tiveram educação religiosa, mas não frequentaram uma escola tradicional para aprender matemática e ciências; por isso, resolveram mandá-la para Dakar para estudar no Lycée de Thiaroye. Um funcionário de lá a descreveu como Miss Matemática.

“Eu adoro matemática”, disse ela.

Arame disse que não sabia como iria alcançar seu objetivo de se tornar engenheira, pois precisa equilibrar os sonhos com o retorno à sua aldeia natal depois que se formar para ajudar os pais, que mal têm dinheiro para sobreviver.

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