Sem receber os recursos previstos para este ano, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que fornece internet de alta velocidade para 739 instituições de ensino e centros de pesquisa no Brasil, pode ter suas atividades interrompidas em setembro. Normalmente pago em maio, o orçamento previsto para a rede é de R$ 126 milhões – verba destinada pelos ministérios da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI).
Nelson Simões, diretor-geral da RNP, disse que a verba prevista pelos ministérios já era considerada insuficiente, uma vez que o custo para a manutenção das atividades do órgão é de cerca de R$ 250 milhões. “Com a redução do orçamento, nós já havíamos paralisado a expansão e os investimentos previstos para a rede. Mas, agora, chegamos a uma situação em que precisamos de recursos para evitar uma paralisação dos serviços nas instituições”, disse.
A RNP continuou operando normalmente nos últimos sete meses com saldos e recursos provenientes de restos de pagamentos de contratos de 2015, segundo explicou Simões. A rede é uma Organização Social, ligada ao MCTI.
Velocidade
A internet de alta velocidade fornecida pela rede é de 1 gigabyte por segundo (Gbps) – 10 vezes a velocidade máxima possível no 4G da internet comercial – e é usada por mais de 4 milhões de alunos, professores e pesquisadores de 1.200 câmpus universitários, entre eles os da USP e da Unicamp.
Para algumas instituições a velocidade é ainda maior, chegando a 10 Gbps para a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a 40 Gbps para o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas, que opera a única fonte de luz Síncrotron da América Latina. “Essas velocidades não são possíveis na internet comercial e são necessárias para essas instituições por causa das aplicações científicas”, disse Simões.
É também por meio da rede que os alunos conseguem ter aulas por videoconferência e contato com a comunidade acadêmica internacional. Uma das áreas que mais usam essa infraestrutura é o ensino e pesquisa em saúde, por meio da Rede Universitária de Telemedicina (Rute). “São mais de cem hospitais de ensino conectados que utilizam a rede para transmitir aulas e procedimentos médicos. É mais fácil e garante uma qualidade de visualização para os alunos melhor do que no próprio centro cirúrgico.”
Ainda de acordo com Simões, sem a liberação dos recursos nos próximos dois meses, a rede terá de cortar gradualmente as conexões de internet, a começar por locais em que o custo é maior: nas instituições no interior do País. “Já tivemos de cortar nosso investimento e expansão. Temos 200 outras localidades em que ainda precisamos fazer a conexão de alta velocidade, mas tivemos de adiar.”
Redução
Além da falta de repasses, a rede deixou de receber R$ 48 milhões do orçamento de 2015. A preocupação do órgão é de que em 2017 o orçamento também seja menor do que o valor previsto para a sua manutenção. “Fizemos um grande esforço em montar uma das redes mais modernas do mundo no Brasil. Nós existimos há mais de 20 anos e nossa preocupação é que a qualidade do serviço seja mantida sem interrupção”, afirmou Simões.
O diretor ressaltou que, em um momento em que todas as instituições públicas sofrem com o contingenciamento de recursos, o uso da internet é fundamental para a economia. “É com a rede que elas fazem videoconferências, acessam periódicos científicos, sem gastar em viagens e deslocamentos.”