Enquanto o movimento de ocupação das escolas estaduais avança (são 773 instituições, segundo o Ocupa Paraná), alguns estudantes se articulam e brigam pela “não ocupação”. É o caso de ao menos quatro instituições do estado, cujos alunos questionam a perda de aulas por aqueles que não concordam com o modo pelo qual a mobilização está sendo sustentada.
O Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto (CEEP), em Cascavel, no Oeste, é um deles. Lá, um grupo de alunos criou “Desocupa Cascavel” para forçar a desocupação da instituição. Eles têm um protesto marcado para esta quinta-feira (20).Líderes da iniciativa dizem acreditar que a manifestação pode influenciar alunos de outras escolas a fazerem o mesmo. Mais de 30 colégios estão ocupados na cidade por alunos que protestam contra a proposta de reforma do ensino médio - principal motivo que mantém centenas de ocupações em todo o país.
Uziel Fuhr, estudante de eletromecânica, avalia que não há problemas de os alunos continuarem a ocupar o Centro, desde que não impeçam os demais de estudarem. “A gente só tem a noite para fazer o curso técnico e eles a manhã e a noite”, declara o jovem, que aponta os alunos do turno da noite como os mais prejudicados em todo esse processo. As aulas do período noturno da instituição concentram muitos alunos que se deslocam de outras cidades da região, como Quedas do Iguaçu, Matelândia e Céu Azul, por exemplo.
Também no interior, pais do Colégio Estadual Marechal Rondon, em Campo Mourão, se organizaram para evitar que os filhos ficassem sem aula. Com apoio da direção da escola, fizeram reunião com 1,4 mil estudantes e definiram em ata que a unidade não poderá ser ocupada. “Fizemos uma consulta com todos para saber a vontade deles. A maioria foi contrária à ocupação. Tivemos apenas dez pessoas a favor”, relata a diretora da escola, Rita de Cássia Cartelli de Oliveira.
Os pais agora têm se revezado em vigília, divididos em três turnos, para evitar manifestações. Eles chegaram a contratar um segurança, com recursos da Associação de Pais, para o caso de invasões repentinas.
IFPR em Curitiba rejeita ocupação; no Litoral, contrários fazem abaixo-assinado
Em Curitiba, estudantes do campus do Instituto Federal do Paraná (IFPR) em Curitiba decidiram não ocupar a instituição. O “não” venceu com uma diferença de cem votos, de acordo com a presidente do grêmio estudantil, Virginia Witte. A decisão foi tomada em assembleia na tarde desta terça-feira (18).
Segundo Virginia, a realização da assembleia foi motivada pelo desejo de que a decisão tivesse um caráter democrático, mas que isso não significa que não haja outros tipos de protestos no local. A presidente explica que os estudantes têm participado há algumas semanas de palestras e debates sobre a MP que trata da reforma do ensino médio e sobre a PEC 241 (que limita os gastos do governo federal) e que outras formas de mobilização continuarão a ser projetadas.
Ao todo, dos 25 campi do IFPR no estado, seis estão ocupados, de acordo o Ocupa Paraná. Também em assembleia realizada nesta terça-feira, os estudantes optaram por ocupar o prédio da instituição em Colombo.
No campus de Paranaguá da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) - ocupado desde o dia 13 de outubro - o grupo de alunos que não aceitou tomar a universidade como forma de protesto criou um abaixo-assinado na internet para que outros alunos, também contrários à ocupação, se posicionem.
A mobilização pela desocupação já estava com 193 assinaturas até o fim da tarde desta quarta (19) (cerca de 9% do total de alunos do campus). “Este movimento está totalmente voltado a assuntos que não vão ter impacto algum a nossa universidade ou ao ensino superior, que seria alteração do currículo básico da educação pelo governo federal”, argumenta Gabriel Alcântara da Silva, aluno do 4º ano de Administração.
Ele avalia também que a medida “prejudica um direito básico, previsto na constituição, o de estudar”, além de acarretar problemas ao calendário acadêmico. Além disso, os alunos contrários a ocupação afirmam que não houve debate com a comunidade acadêmica antes de a ocupação ser confirmada.
Já o grupo da Ocupa Unespar afirma que houve uma reunião entre os cursos e que a maioria votou pela ocupação. A organização afirma que a ocupação aborda, além das pautas nacionais – a PEC 241 e a MP do ensino médio –, alguns problemas estaduais como o corte de verbas e a falta de estrutura no campus.
Balanço
Em todo o estado, o número de escolas ocupadas subiu para 750, segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seed). O levantamento do Ocupa Paraná, no entanto, aponta que as ocupações já atingiram mais de 770 instituições (35,9% das 2.153 unidades da rede estadual).
Até as 18h desta terça-feira (18), o governo conseguiu cumprir três reintegrações de posse dos colégios ocupados, segundo a Procuradoria-Geral do Estado (PGE-PR): uma em Londrina e duas em Goioerê. Uma quarta ação, em Antonina, já foi deferida e aguarda execução.