A foto retrata o lançamento do livro de Gao Zhisheng, dissidente que foi torturado na prisão e alerta para os perigos do sistema de vigilância do governo| Foto: SAM YEH/AFP

Estudantes da Universidade de Tecnologia da cidade de Wuhan, na China, não podem vacilar em seus costumes. Desde o ano passado, a instituição instalou em todos os ambientes do campus, inclusive em salas de aula e dormitórios, câmeras de vigilância, ao estilo do “Grande Irmão” retratado por George Orwell no livro 1984. A universidade é mais uma que adere à campanha de vigilância do governo em andamento há pelo menos cinco anos.

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A instalação das câmeras é considerada por muitos como mais um sinal de uma tentativa do governo de patrulhamento ideológico do que é dito em sala de aula. Um alerta para isso soou em 2014, quando o jornal do Partido Comunista Liaoning enviou repórteres disfarçados para assistir aulas de Filosofia e Ciências Sociais. Após a experiência, os jornalistas escreveram um texto intitulado “Professor, por favor, não fale assim da China: uma carta aberta aos professores de Filosofia e Ciências Sociais”. O documento criticava “ideias ocidentais” nas classes, como a importância da separação dos poderes executivo e legislativo, entre outros conteúdos, e o que eles chamaram de “referências irreverentes” a Marx e Engels e a comparação de Mao Tsé-Tung aos líderes das antigas dinastias imperiais.

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No caso da universidade em Wuhan, a decisão gerou críticas de professores e alunos aos jornais locais e nas redes sociais. Estudantes divulgam frases como “Isto é uma universidade, não uma prisão” ou “Posso sugerir instalar câmeras de vigilância nos quartos do reitor e do secretário do partido comunista?”.

O diretor do departamento de negócios da universidade em Wuhan defendeu a medida e disse que o sistema de vigilância tinha sido criado para “incentivar bons hábitos de estudo”. Outro professor afirmou que “o ambiente de estudo melhorou muito” após a implantação das câmeras.

Boom de vigilância na China

O governo chinês instalou nos últimos anos mais de 20 milhões de câmeras em locais públicos. As autoridades alegam que a vigilância ajuda a combater crimes e a manter uma “estabilidade social”, mas a população está apreensiva com o que isso possa significar. Dissidentes políticos como o advogado especializado em Direitos Humanos, Gao Zhisheng, que acaba de escrever um livro após ser torturado na prisão, advertem sobre os riscos para a sociedade civil.

Em 2014, a província de Guizhou determinou que todas as instituições de ensino superior tivessem sistemas de monitoramento. Um docente escreveu um texto comparando a iniciativa com a época da Revolução Cultural na China, quando houve perseguição política e morte daqueles que não concordavam com as ideias do regime implantado por Mao Tsé-Tung.