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Diagnóstico

Reforço que deu certo

As notas baixas no começo do ano deixaram os pais dos alunos Leonardo, 11 anos, e Beatriz, 9, bastante preocupados. As mães, Daniele Arantes Faria e Vanessa Pinheiro, respectivamente, foram chamadas à escola e aconselhadas a buscar reforço fora do horário normal de aula e auxílio pedagógico.

O garoto arrastava suas dificuldades desde a alfabetização. "Chegou na 3ª série e tudo piorou. Levamos à psicopedagoga, fonoaudióloga e psicóloga. Descobrimos dislexia e outras dificuldades", conta Daniele. Foi aí que a luta começou. Além dos tratamentos recomendados pelos profissionais, a mãe passou a controlar mais de perto todas as tarefas escolares, assim como ficou de olho nas dificuldades pontuais de casa disciplina. "Ele estava a ponto de reprovar, mas melhorou mais de 90%. Ele é hoje outro aluno, mas continuo fiscalizando tudo."

Beatriz apresentava dificuldade em português e matemática. As notas baixas levaram Vanessa a buscar apoio no contraturno do colégio. "Além disso controlo a hora dela estudar. Claro que é difícil fazer criança estudar quando não tem prova, mas eu vou negociando". Quando o resultado não é o esperado, a mãe corta algumas coisas que a filha gosta, como desenho animado, bonecas ou passeios na casa de amigas, mas conta que faz com moderação para que não vire uma punição severa.

Metodologia

Punição não gera aprendizagem

Quando o aluno reprova existe uma tendência natural da família de cortar presentes de Natal, viagens e até objetos que possam ter desviado a concentração do estudo, como o videogame. Mas os psicólogos alertam : os castigos podem gerar trauma e não são efetivos para a aprendizagem.

O psicólogo e pesquisador do Instituto de Medicina do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ricardo Monezi explica que uma reprovação gera normalmente ansiedade e expectativa e pode provocar estresse. "A autoconfiança do estudante fica afetada e é comum alguns reflexos físicos como falta de apetite – ou ganho excessivo de peso – e redução da criatividade e interatividade com os colegas", diz.

Monezi conta que muitos pais procuram achar a causa da reprovação em atividades que os filhos gostam muito e que podem tê-lo dispersado. Nesse caso, a primeira atitude é afastar o filho do brinquedo. "Se tiver de punir, que seja com justiça. Não adianta tirar o objeto da criança de vez. É preciso negociar e dizer que conforme ela for melhorando na escola, voltará a fazer o que gosta". Para ele as punições severas não educam, mas agridem. E não são elas que vão fazer com que o estudante aprenda, pelo contrário, podem diminuir ainda mais o estímulo para aprender.

Todos os anos cerca de 9% dos estudantes de ensino fundamental do Paraná reprovam, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Destes, 8% são da rede pública e menos de 1% da particular. Em ambos os casos, para chegar nesse estágio é preciso que a recuperação não funcione como deveria.

Mas, repetir um ano ou ficar retido, como os educadores preferem chamar, não significa fracasso. "Alguma coisa aconteceu no caminho do aluno, seja dificuldade de aprendizado ou falta de vontade e participação", diz a pedagoga e professora da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) Margareth Maria Schroeder. No primeiro caso o problema pode estar ligado a um fator físico, como dislexia, que é dificuldade de aprendizado, ou deficiência visual e auditiva. Nessas situações a escola orienta que os pais procurem um médico. No caso da falta de vontade do aluno, existem alguns fatores que indicam que ele poderá reprovar e dicas para evitar que isso ocorra.

Se o aluno repete e precisa cursar a mesma série novamente, é comum que tanto família quanto escola deem mais atenção a ele e se preocupem com as atitudes necessárias para que o novo ano seja proveitoso e haja progresso. Segundo Margareth, o ideal é que ele permaneça no mesmo colégio. "Mudar não resolve o problema. A criança precisa encará-lo e enfrentar para evoluir.

Se o grupo de amigos é diferente, os professores podem ou não ser os mesmos. Na escola Atuação há um rodízio de docentes, para evitar que o estudante tenha que encarar novamente um professor com o qual talvez não tenha se dado bem.

Preconceito

"A reprovação mexe com os valores da sociedade e ainda existe preconceito, seja na própria escola ou no ambiente familiar", diz a pedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Ermelina Generosa Bontorin Thomascheski. Por isso é comum que nas festas de fim de ano os parentes cobrem da criança ou do jovem que ele tenha passado de ano.

Já no dia a dia escolar, existe uma tendência de que alguns colegas estigmatizem quem reprovou, mas em todas as escolas os professores e coordenadores são orientados a evitar isso e repreender quem provoca, pois caracteriza bullying – violência psicológica praticada por um indivíduo ou grupo de pessoas.

Ermelina lembra que os pais devem ficar atentos ao comportamento do filho, pois a reprovação mexe com o lado emocional e ele pode se sentir desmotivado e envergonhado diante dos colegas da escola. "Pode acontecer uma perda de identidade, já que os amigos da mesma idade passaram adiante e ele se vê cercado de crianças mais novas. Por isso as escolas contam com o apoio pedagógico. Se for necessário, ela pode até mudar de sala para se sentir enquadrada."

Resultados

A expectativa dos pais quando o filho repete o ano é que ele se saia melhor e consiga a aprovação. Mas Margareth diz que o sucesso não é garantido. "Minha experiência em escolas mostra que 50% superam os problemas e se saem muito bem, mas os outros 50% permanecem com dificuldades e desmotivados. Nesse caso é preciso muito cuidado para que o jovem não desista de vez do estudo."

Outras fontes: Nádia Artigas, técnica pedagógica de Secretaria Estadual de Educação (Seed) e Rocimar Santos Rodbard, psicóloga e orientadora educacional do Colégio Santa Terezinha do Menino Jesus.

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