"É quase impossível terminar a faculdade sem experiência profissional e conseguir um bom emprego". A conclusão, do estudante de informática Antonio Prates, preocupa alunos de vários cursos, como direito, biologia e arquitetura. Eles buscam no estágio uma ponte para cruzar o abismo que separa a formação acadêmica e o mercado de trabalho.
- Quem trabalha com tecnologia precisa se atualizar constantemente, mas a grade dos cursos não acompanha a velocidade do mercado. É necessário se dividir entre a faculdade e a empresa para começar bem a vida profissional - afirma Antonio Prates, que cursa o 7º período na PUC.
Diante das limitações do ensino, há quem use o estágio para conhecer ramos diferentes da carreira. A estudante Paula Lima, que está no 7º período de direito na Uerj, teve a primeira experiência profissional na Defensoria Pública. Depois de atender pessoas sem dinheiro para contratar advogados, ela migrou para a iniciativa privada e começou o atual estágio, num escritório de direito societário.
- A faculdade ensina as linhas gerais do direito, mas não consegue se aprofundar em todos os temas - avalia ela, que precisou aprender na prática a trabalhar com contratos.
A crítica é endossada por Rafaella Uchôa, que cursa o 6º período de biologia na Universidade Santa Úrsula. Segundo ela, a falta de especialização obriga o estudante a suprir lacunas na formação acadêmica já no mercado.
- As faculdades de biologia não preparam o aluno para campos importantes, como o de gestão ambiental - exemplifica.
No curso de arquitetura, a defasagem no ensino também separa o estudante da rotina profissional. No ano passado, Vivian Schindhelm, no 6º período na UFRJ, teve que adiar o começo do estágio para aprender a manejar um programa de desenho de plantas e fachadas no computador.
- A versão instalada nos computadores da faculdade é muito antiga. Não podemos contar com a faculdade como laboratório para a vida profissional - reclama.
As incubadoras de empresas são apontadas como uma alternativa para estreitar os laços entre a academia e o mercado. No entanto, o engenheiro Mauricio Guedes, que coordena uma incubadora responsável por 14 empresas tecnológicas na Coppe/UFRJ, adverte que o estudante não deve se matricular num curso de graduação em busca de preparo instantâneo para a vida profissional.
- A missão da universidade é formar o estudante para um vôo de 30 anos. O conhecimento acadêmico deve servir de base para que ele se desenvolva ao longo da carreira - afirma Guedes.