Tânia Stoltz: “Escolas públicas praticam a exclusão dentro da inclusão”| Foto: Rodolfo Bührer/Gazeta do Povo

Síndrome da privação cultural tem impacto no processo

Déficit de atenção, metodologia de ensino e relações interpessoais estão entre os fatores que podem contribuir para que o estudante tenha dificuldades na aprendizagem. "Esse problema é multifatorial. A ele está aliada a síndrome da privação cultural, ou seja, a falta de acesso à cultura, que atinge muitas crianças", diz a coordenadora do curso de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Maria Sílvia Bacilla Winkler.

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Confira o tempo de estudo e freqüência das crianças e adolescentes do Paraná
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Um total de 1,3 milhão de crianças e adolescentes brasileiros com idade entre 7 e 14 anos não sabe ler e escrever. O número corresponde a 5,4% da população nessa faixa etária. E, embora a taxa não seja expressiva, o que impressiona é que 85% dessas crianças e adolescentes – 1,1 milhão – freqüentam a escola e, mesmo assim, não estão conseguindo aprender.

A situação foi revelada na semana passada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para pedagogos e educadores, a falta de acompanhamento escolar dos pais e a baixa capacitação dos professores estão entre os fatores responsáveis por esse quadro.

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Tânia Stoltz, do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná, ressalta que o estudo sugere deficiências que precisam ser urgentemente corrigidas. "A capacitação e atualização dos professores é fundamental no processo, assim como ter pais, escola e comunidade como parceiros na educação", diz.

A professora realizou um estudo sobre a eficiência da alfabetização nas redes pública e particular. Constatou que nas escolas públicas os alunos são alfabetizados mais tarde e apresentam piores resultados. No Paraná, 89,5% dos alunos do ensino fundamental estão em instituições públicas.

Para Tânia, o fato de as escolas públicas terem uma política de não-retenção de alunos e a busca da aprovação como mecanismo para diminuir o índice de desistência acabam criando uma exclusão dentro da inclusão. "Não adianta a criança não largar a escola, mas não aprender efetivamente. Isso é algo para ser reestruturado", diz.

De acordo com o superintendente de gestão de educação da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, Jorge Eduardo Wekerlin, esse problema não chega a ser uma preocupação na capital. "Aqui, não é tão grave como em outros estados. Não é a realidade da cidade", diz. No Sul, o porcentual de crianças e adolescentes que não sabem ler nem escrever é menor do que a média nacional – 3,6%.

Ele explica que, todos os anos, os alunos da rede municipal passam por provas de Português e Matemática para avaliar o desempenho. "Eles são acompanhados anualmente. Nós queremos detectar o problema no início para que tomemos as medidas necessárias", explica Wekerlin.

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Para ele, não cabe só à escola a escolarização da criança. "Fatores sociais e econômicos têm um peso variando entre 30% e 50% nesse processo. A participação da comunidade e da família é fundamental na aprendizagem. Por isso é importante o Comunidade Escola, que faz com que as famílias dêem mais importância à educação", diz o superintendente. Curitiba tem 70 escolas municipais que participam do programa. Ele diz que isso também incentiva os adultos a voltarem a estudar e aumenta o número de matrículas na Educação para Jovens e Adultos (EJA). No Sul, o número de analfabetos funcionais acima de 15 anos é de 16,7%.

A Secretaria Estadual de Educação informou, por meio da assessoria de imprensa, que não se manifestaria, neste momento, sobre os dados do Pnad.